A descoberta da fotografia no clique da Beirette


03/10/2006


Claudio Carneiro
06/10/2006

O primeiro contato de Estefan Radovicz com a fotografia interrompeu a carreira de um possível futuro escritor ou jornalista de texto. Ele gostava de contar o seu tempo e suas impressões, mas, na ânsia natural da juventude, aos 15 anos, percebeu que escrever não o satisfazia mais. Na estante do quarto do adolescente havia uma máquina Beirette que a mãe lhe dera. Olhou para a câmera e disse: “É isso! Fotografia!” Daí em diante passou a clicar freneticamente e a consumir livros e revistas sobre a arte que iria abraçar.

Menino da Zona Norte do Rio de Janeiro, sempre passava de ônibus diante da sede de um jornal do bairro — O Linotipo do Méier — e se perguntava: “Será que um dia eu vou trabalhar ali?” Até que desceu do ônibus e conseguiu o emprego:
— Eles tinham uma camerazinha, uma Olympus Pen que duplicava o número de chapas. Cada fotógrafo podia fazer apenas três fotos por matéria, para economizar. Eu tirava seis chapas e levava bronca.

O passo seguinte foram os frilas, entre eles para jornais de sindicatos. Mas quem abriu caminhos para a profissão foi o grande amigo Alaor Filho, cujo pai, Alaor Barreto, era fotógrafo dos melhores enquanto os dois apenas engatinhavam na carreira:
— A gente ia à casa dele no Lins de Vasconcelos, vizinho ao Méier, levava bronca do Barretão e aprendia a fotografar na marra. Agradeço muito a meu mestre.

A amizade de Alaor Filho rendeu bons contatos a Estefan:
— O Alaor me levou para o Sindicato dos Securitários e, depois, para a Última Hora. Tem uma responsabilidade muito grande na minha carreira: a culpa é dele.

Estefan Radovicz passou pela Folha de São Paulo e O Globo e fez câmera na extinta TV Manchete. Foi como cinegrafista que tomou um grande susto, durante uma reportagem com travestis na Quinta da Boa Vista: de um fusquinha azul em movimento, foram disparados cinco tiros na direção da equipe. Por sorte, não houve feridos:
— Ser cinegrafista me trouxe uma grande bagagem para a fotografia. Você aprende a respirar e a esperar o momento certo.

O fotógrafo se orgulha de ter feito para O Dia a transferência dos presos da Ilha Grande, quando da desativação daquele presídio. Foram 13 dias ao lado da repórter Albeniza Garcia, que ele chama de “professora”, e de Lucio Natalício, “outro grande companheiro”. A chacina de Vigário Geral também marcou muito: deixou seus nervos em frangalhos.

Um episódio envolvendo Rubens Ricupero acabou rendendo uma de suas melhores fotos. O governo estava “descascando um enorme abacaxi” por causa da declaração do então Ministro da Fazenda — “o que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde” — que vazou antes de uma entrevista por satélite. Estefan teve de fazer uma foto da fachada do prédio do BNDES, onde se decidia o futuro de Ricupero, quando avistou uma barraca de abacaxis em frente ao prédio, pensou: “Meu Deus, obrigado. Ganhei o dia.” E registrou a imagem, uma verdadeira charge fotográfica. O Ministro, como se sabe, caiu. 

Rajadas

Na profissão que escolheu, Estefan correu muitos riscos. Teve arma apontada na cabeça “umas oito ou dez vezes”:
— Você vai entrando na favela com o carro de reportagem e, de repente, a equipe é cercada por bandidos. Já jogaram granada na gente e dispararam rajadas de metralhadora contra diversas equipes.

Aos 44 anos, vivendo da fotografia desde os 18, Estefan confessa que resistiu, a principio, aos avanços tecnológicos que mudaram a atividade nos anos 90:
— As fotos digitais começaram com cores não muito fiéis. A imagem era “lavada”. Os caras foram melhorando e a gente foi se aprimorando com eles. Mas, depois, tive de me render. Acho fantástico o just in time. A qualidade da fotografia digital melhorou muito, a remessa de fotos por e-mail tornou o trabalho muito ágil. A indústria compreendeu nossas necessidades e quebrou barreiras. Hoje a gente faz a foto, transmite e a imagem chega. É fantástico.

No momento, ele desenvolve novos projetos, como o registro dos detalhes arquitetônicos do Corredor Cultural do Centro do Rio de Janeiro, que inclui Candelária, Praça Quinze, Cinelândia, Largo da Carioca , Praça Tiradentes e Saara, “um trabalho que sai caro para um profissional fazer sozinho”:
— Acho que o Rio ainda é muito mal fotografado e documentado e quero também publicar um livro com as fotos que fiz ao longo da carreira. Mas preciso de um patrocinador, um mecenas que banque minhas idéias. 
 

Clique nas imagens para ampliá-las: 

“Isto é em
Itamonte-
MG. A…”

“Este é 
um policial 
do Bope…”

“Esta é 
uma imagem da chacina
…”

“Este cidadão correu para
o fundo…”

“Durante aquela primeira…”

“Carnaval 
de 2001. 
Esta é…”

“Eu e um colega, por acaso…”

“Esta menina tinha 12 anos…”

“Uma semana depois da…”

“Esta imagem da criança solitária…”

“Esta foto, publicada no Globo…”

“Esta foto é de 93 e saiu no Dia…”

“Este é o 
Rio às três
da tarde…”

“Nesta foto,
o tapume destruído…”

P>“Na semana da crise que resultou…”

“Isso que parece o Coliseu…”