Uma câmera muito independente


29/08/2007


José Reinaldo Marques
31/08/2007

O interesse de Fabrizia Granatieri pela fotografia começou no colégio, quando, para divulgar o grêmio escolar, a incumbiram do jornal dos estudantes e, ao acompanhar uma passeata, viu uma fotógrafa pendurada em uma grade, em busca de boas imagens — “passei algum tempo imaginando o tipo de vida estimulante que ela devia levar”. Aos 18 anos, resolveu fazer um curso no Senac e, pouco tempo depois, decidiu viver da profissão em que estreou, como estagiária do Fluminense, em 1994. Também formou-se em Jornalismo na Facha e fez pós-graduação em Gestão da Cultura na Estácio de Sá.

Fabrizia passou pelo Dia, o Jornal do Brasil e o Metro. Depois, colaborou com revistas da Editora Abril, entre outras, e os jornais Folha de S.Paulo, Estadão e Gazeta Mercantil. Apesar de ter se estabelecido na profissão como freelancer — também colabora com artigos para a revista Fotografe Melhor — ela diz que não aconselha ninguém a seguir seu exemplo, mesmo sabendo que esta é uma tendência do mercado:
— O profissional fica sujeito a muitos altos e baixos; às vezes está no abismo; outras vezes, no céu. Em 1999, por exemplo, eu tive um prejuízo de R$ 11 mil com equipamento durante uma pauta. Por conta disso, deixei de figurar entre os primeiros nomes da lista de frilas de vários clientes. Logo depois, roubaram o meu equipamento novinho, avaliado em cerca de R$ 19 mil.

Foi o bastante para Fabrizia entrar em depressão e ficar dois meses parada. Conseguiu retornar ao trabalho com um equipamento emprestado por amigos e a primeira porta que se abriu foi a da revista Caras:
— O editor Marcelo Tabach me disse: “Você sempre foi fotógrafa, não é por que não está com um equipamento bom que deixou de ser.”

Fabrizia começou então a cobrir a área de shows, que sempre a encantou:
— Quando eu estava começando na profissão, só os fotógrafos especiais é que faziam essas coberturas. Ficava imaginando que levaria muito tempo para fazer essas matérias…

Em revistas, a fotojornalista conta que passou por experiências inusitadas que acabaram rendendo boas matérias, como na breve passagem que teve pela Bloch Editora:
— Os meninos da Ele & Ela me fizeram um desafio: queriam saber se eu tinha estômago para cobrir um parto para a Pais e Filhos. É claro que eu disse que sim. Nunca tinha visto um e confesso que fiquei impressionada com os gritos da mãe. Mas deu tudo tão certo que durante dois anos fiz book de parto e muitos trabalhos para a revista Mãe, da Ediouro. Foi gratificante e aquela primeira foto de parto que fiz também saiu publicada na IstoÉ.

Indescritível

No início da carreira no Fluminense, Fabrizia diz que virou especialista em plantões em porta de delegacias e do Instituto Médico Legal de Niterói. Um dia, chegou à Redação a denúncia de falta de gavetas para guardar os corpos na câmara frigorífica do IML e ela foi escala para cobrir a pauta, sem ter a mínima noção do que ia encarar:
— Cheguei lá e passei uma pomada no nariz, para diminuir o cheiro da morte, e entrei. Era uma cena indescritível. Cliquei tudo que vi pela frente, inclusive os corpos espalhados num corredor. Quando voltei, o furo foi comemorado. Mas as fotos nunca foram publicadas. Um dos donos do jornal, depois de me cumprimentar, disse que não tinha interesse em dar aquela notícia.

Há quatro anos Fabrizia realizou sua primeira exposição individual, “Sua rua, minha vida”, que estreou no Museu da República, com material feito com a ONG Médicos Sem Fronteiras — durante dois anos, acompanhou a equipe responsável pelo Projeto Meio Fio, que cuidava de moradores de rua:
— Em três meses de convivência com essas pessoas nas ruas, encontrei o motivo para fazer um ensaio, mostrando que eles são iguais a todos, tomam banho, trabalham, namoram etc. Mas não foi um trabalho autoral e a campanha não mudou a vida de nenhum dos personagens.

No momento, ela se dedica ao registro das manifestações culturais do povo cigano:
— O tema me chamou a atenção depois que eu li “O verdadeiro oráculo cigano”, da Princesa Cigana Kalderash Mirian Stanescon. Fiz contato e ela princesa comentou sobre a Corrente de Santa Sara Kali, realizada no Parque Garota de Ipanema, aqui no Rio. Fiquei tão encantada que há um ano documento o ritual de queima de sofrimento. 


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