Estou procurando, desde há muito tempo, fugir de uma possível perda de memória, que pode transformar o idoso em um ser vegetativo, inerme, dependente em praticamente todas as suas ações físicas, reduzidas que ficarão à medida que o tempo ou as doenças concomitantes lhe subtraem o sentido da vida, em toda a sua potencialidade.
Aqui não falo como psicanalista, psicólogo, psiquiatra ou qualquer especialista desses ramos da medicina; apenas desejo objetivar reflexões substantivas, que possam ajudar ao longevo, como eu, a continuarem lutando por uma razão, que tanto poderá estar ligada ao simples desejo de viver, como também ao fato de provarem a si mesmos a posse de uma excepcional força de vontade que os impede de sofrer possíveis depressões e, muito pelo contrário, eleva os seus desejos de continuar lutando com bravura pelos seus projetos e realizações futuras.
E vai daí que procuramos recorrer a alguma coisa, que podemos até denominar de sublimação de sentidos ou elevado grau de espiritualidade, para arrefecer alguns ciclos de pensamentos nem sempre positivos, quando invadem a mente dos que se avizinham de um século de vida, como o autor da presente crônica.
Na fase de autodefesa que atravessamos, cabe-nos cuidar quer do corpo como da alma, possibilitando um equilíbrio estável entre a estrutura orgânica e o espírito. É quando então procuramos estabelecer momentos de profunda lucidez, a fim de questionarmos razões que nos parecem difíceis de serem elucidadas, inclusive aquelas que dizem respeito aos nossos próprios atos.
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Acredito, sem evidentemente estar calcado em bases científicas, que a mente não deve ficar ociosa. Habilitei-a, pois, a meu modo, a receber e arquivar as imagens que se desenrolaram no meu dia-a-dia; por isso lembro-me de fatos que se deram na minha infância,adolescência, juventude e maioridade, transpondo-as hoje para as minhas crônicas,romances e afins, como acervo que possuo nesse arquivo de mil gavetas que é o cérebro.
Realizações, quimeras e desenganos, tristezas e alegrias, sempre que posso as revivo, no mundo tipográfico, buscando na memória essas passagens, que constituem o relicário de todos os meus passos por caminhos nem sempre fáceis que percorri.
O essencial para que se possa, pois, cumprir as etapas do destino no chamado “vale de lágrimas”, é ter a coragem de as enfrentar com as armas de que devemos dispor, como sejam: a consciência, livre de erros que não podem ser considerados veniais: o desejo sincero de ajudar aos necessitados; a paciência para suportar os reveses e doenças cruciais; a conformação ante a perda de entes queridos; a força de vontade para obter uma vitória com uma disputa leal; despir-se, mais que possa, de vaidades pessoais, considerando que a humildade é o apanágio dos grandes. E uma série de predicados que devem possuir os homens se distribuirão, mais ainda se considerarmos a atividade precípua de cada um.
Difícil se torna um estudo abrangente de personalidades distintas em termos profissionais, cada uma delas ressaltando trabalhos específicos, os quais podem demonstrar condutas de dinâmicas diferentes, que teriam que ser avaliadas em relação ao comportamento individual, moralmente falando.
Vê-se, assim, que o sentido de moral tem uma amplitude inimaginável, retrocedendo essa avaliação, segundo as escrituras, às mais sagradas, às eras glaciais, aos povos das cavernas e da pedra lascada e aos homens primários como o “pitecantropus erectus”.
Hoje, em razão do que procuramos entender, na voragem dos acontecimentos que se interpõem ante a cultura e o saber, temos, contudo, oportunidade de atentar para o nosso proceder, receando conseqüências que poderão advir de imprudências não previstas nos momentos oportunos.
E me parecendo que já digitei demais esta pequena crônica, procurando, na verdade, uma certa eqüidistância entre as atrações materiais da festa recente, o Carnaval, que tantos já o vimos na nossa peregrinação, entrelaço no momento em que fecho a matéria as minhas elucubrações com as imagens fugidias que nos foram permitido ter, desculpando-me perante os leitores da nossa ABI por esta fuga que me permitiu tratar de assuntos mirabolantes,quando, à nossa vista,os jornalistas têm, já, uma grande responsabilidade em mostrar e dizer sobre as mazelas que asfixiam o nosso País em todos os setores da vida pública.
Voltaremos, se Deus quiser.
* Bernardino Capell, sócio da ABI, é jornalista, economista e membro titular do Instituto
de Geografia e História Militar do Brasil.
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