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Um olho na câmera, outro nos bombardeios


23/01/2008


José Reinaldo Marques 
25/01/2008

Seja na cobertura da violência urbana, nas grandes cidades do mundo, ou na dos conflitos entre nações, uma das principais características do repórter-fotográfico deve ser a coragem. É nesse aspecto que se destaca Maurício Lima, que, a serviço da France Presse (AFP), viajou ao Iraque para revelar ao mundo os horrores da guerra.

Maurício cursava Publicidade quando resolveu fazer a disciplina Fotojornalismo, focado na cobertura de eventos esportivos, principalmente o futebol, e fascinado com o trabalho de Cartier-Bresson:
— Fiquei impressionado com um vídeo da Magnum, cooperativa de fotógrafos fundada por ele, e pensava como poderia mesclar suas características de trabalho no jornalismo diário O que me atraiu para a reportagem-fotográficafo foi o gosto pelo jornal impresso matinal, aliado ao primeiro contato com a História da Arte e da Fotografia na faculdade.

Incentivado por um professor, Maurício acabou montando um portfólio. O mentor o encaminhou à Direção do Lance!, em 1998, e foi lá que o estreante deu os primeiros passos na carreira, durante um ano e meio. Em 2001, foi convidado para trabalhar no escritório paulistano da agência de notícias francesa. Ele conta que começa seu trabalho na AFP em casa, “passando um pente-fino nas notícias do dia”:
— Quando encontro um assunto interessante que não atrapalhe uma pauta já programada, repasso ao editor e decidimos o que fazer. Se não há, acompanho, da agência, o noticiário da rádio e TV. Não tenho pauteiro, nem chefe de reportagem. Devo ficar atento ao que acontece e saber escolher os assuntos internacionais e de relevância nacional que possam render boas imagens. Isso é vantajoso porque, quando vou fazer uma reportagem, já estou bem informado sobre o tema e o que preciso fotografar. Isso faz muita diferença quando se está atrás do visor da câmera.

Experiência

Depois da invasão do Iraque pelas tropas norte-americanas, Maurício viajou cinco vezes ao país, onde ficou “embutido junto com as tropas de coalizão, numa área próxima ao local onde Saddam Hussein foi capturado”. Esteve também na Faixa de Gaza, cobrindo a luta entre palestinos e israelenses. E diz que a guerra, pelas imagens impressionantes que viu e registrou, marcou profundamente sua vida:
— Todas essas coberturas, em diferentes períodos dos conflitos armados, foram atípicas e uma experiência inigualável, além de me proporcionar momentos marcantes. Num primeiro momento, confesso que me espantei por estar tão jovem no “furacão” da notícia mais importante do mundo. Mas isso logo foi anestesiado pela solidariedade de amigos e colegas estrangeiros mais experientes.

As situações de perigo ocorreram, mas ele prefere não comentar:
— Prefiro falar dos ganhos que tive do ponto de vista profissional e humano. Essas reportagens mudaram a minha vida — e hoje sei que ela não é feita somente de fotografia. Passei por situações extremas que jamais pensaria em vivenciar. Isso nos faz dar mais valor a tudo. Seja positivo ou não, as decisões ganham mais ponderações, mais reflexão antes de serem tomadas. 

Estilo 

Maurício afirma não ter preferência por matérias. Cumpre todas as pautas com intensidade, “sempre com a mesma gana”. Em relação ao trabalho dos colegas da imprensa nacional, comenta:
— Temo citar nomes, pois certamente vou cometer uma injustiça momentânea, ainda mais que fico um tanto restrito ao que acontece em São Paulo. Gosto de fotógrafos autorais, com estilo e estética, cujas imagens são instigantes e têm algo mais do que a informação nua e crua das pautas do cotidiano. Nesse sentido, estilos contrastantes como os de João Wainer e Tuca Vieira, por exemplo, me despertam interesse. Vejo também um futuro promissor para Daniel Kfouri, ainda mal aproveitado pelo mercado.

Para aqueles que desejam abraçar o fotojornalismo, ele aconselha um excelente preparo, “a começar pela história da fotografia, para enriquecer a bagagem e chegar ao mercado com algo a mostrar”:
— A grande quantidade de fotógrafos que o mercado absorve a cada ano não significa qualidade. A linha editorial dos veículos só vai mudar quando começarmos a propor e mostrar algo que rompa o paradigma do jornalismo convencional e seus velhos clichês. Para isso, temos que estar capacitados.
BR>Para concluir, Maurício faz uma advertência:
— A ética está em extinção. Existem profissionais que deveriam dar e ser exemplos, mas praticam sem escrúpulos troca-troca de fotos, manipulações em Photoshop, créditos fantasma e montagem de cenas. Das fotos de atletas mordendo medalhas nos jogos Pan-Americanos, 95% foram feitas a pedido de fotógrafos. São expedientes que atingem de forma negativa uma profissão originalmente romântica e apaixonante.


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