10/01/2006
José Reinaldo Marques
19/01/2006
“A fotografia nos oferece diversos caminhos para a descoberta e a análise da realidade. A todos Gianne Carvalho explora com igual desvelo e competência, transmitindo ao observador a intensidade do prazer e a profundidade dos sentimentos extraídos de seu diálogo cotidiano com o mundo visível.” Estas palavras foram usadas pelo fotógrafo Pedro Karp Vasquez para exprimir seu sentimento em relação ao trabalho da colega.
Carioca, formada em Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em Comunicação Social pela Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Gianne Carvalho decidiu percorrer o interior do Brasil em 1990, documentando questões socioeconômicas que envolvem exploração da mão-de-obra infantil, trabalho escravo em canaviais e carvoarias e conflitos pela posse da terra:
— Meu olhar crítico sobre os dramas sociais vem de uma experiência anterior. Fui bailarina e me apresentava nas Romarias da Terra e em comunidades carentes. Depois, com a fotografia, dei continuidade a esse trabalho.
Com 15 anos de profissão, Gianne já fotografou para jornais de grande circulação como O Dia, JB e Folha de S. Paulo. Seus trabalhos também foram publicados nas revistas Veja, Época e IstoÉ. Fora do Brasil, várias de suas fotos viraram documentos importantes para as ONGs Anistia Internacional e Human Rights Watch, que defendem os Direitos Humanos.
Apesar de as imagens rurais e urbanas marcadas pela violência, a miséria e a marginalidade terem grande importância em seu universo fotográfico, Gianne não se tornou insensível à estética da moda, das artes e da natureza. Atualmente, está na Globo, onde sua principal tarefa é fazer com que o instantâneo resuma um pouco da história que será contada em uma seqüência na TV:
— É uma mistura de still com fotojornalismo e é distribuído gratuitamente para a imprensa de todo Brasil. Sou fotógrafa do Departamento de Divulgação da emissora e, atualmente, tenho trabalhado mais na edição do material produzido pelos outros três profissionais da equipe.
Antes de “invadir” camarins e estúdios de gravação de novelas e shows, Gianne produziu um acervo de imagens que se tornaram referência em processos de defesa dos direitos humanos durante o período em que trabalhou no Projeto Imagens da Terra, centro de documentação fotográfica coordenado por João Roberto Ripper:
— O objetivo era documentar a vida dos oprimidos, como instrumento de denúncia das injustiças sociais. Para a minha carreira, significou praticamente tudo o que sou hoje. Com esse trabalho, vi como a fotografia tem o poder de dar voz aos despossuídos, contando a história dos “bastidores”, de quem está à margem da sociedade.
Dança e teatro
Ao trafegar com desenvoltura entre temas variados, Gianne mistura em suas fotos técnica, criatividade e beleza, resultado alcançado, segundo ela, com mergulhos na realidade das cenas e dos personagens:
— Acho que se faz isso como se vive. Tento me envolver com as realidades que fotografo e, com isso, refletir através do meu olhar o brilho, a tristeza, a alegria e a miséria. É claro que é muito mais forte retratar uma realidade de escravidão, por exemplo, porque ali eu estou me comprometendo com aquelas pessoas, que têm a esperança de que minha foto possa mudar o seu cotidiano. Quando eu fotografo a natureza, estou retratando uma beleza pronta para ser experimentada.
Por isso ela diz adorar trabalhos documentais, através dos quais pode contar muitas histórias:
— Mas também gosto muito de cultura, especialmente dança e teatro. Na verdade, gosto de fotografar. Às vezes, o que pode parecer desinteressante fica lindo numa fotografia, na medida em que me permito perceber numa cena simples um belo detalhe.
As grandes matérias que marcaram sua carreira foram “Os brasiguaios”, no Mato Grosso do Sul — sobre o drama dos brasileiros que foram morar no Paraguai, perderam a cidadania brasileira e se viram impedidos de obter a cidadania paraguaia — e uma reportagem sobre a violência do campo, no Sul do Pará:
— As fotos que eu fiz no Pará foram publicadas em vários veículos internacionais e documentaram as injustiças sociais cometidas por muito poucos contra aquelas maiorias.
Gianne nunca teve fotos laureadas, mas foi finalista de premiações internacionais:
— Acho que julgar fotografia é algo muito subjetivo, então não gosto muito de inscrever meus trabalhos para concorrer a prêmios.
Sobre sua vida sem fotografia, diz:
— Não sei como seria, mas sei como sou com ela. A fotografia é um meio de expressar os meus sentimentos em relação ao mundo e de tentar expressar os sentimentos das pessoas que fotografo. É uma busca que se realiza a cada instante.
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