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Sindicato de Jornalistas de São Paulo denuncia novo ciclo de ameaças ao jornalismo


01/07/2025


Por Jorge Antonio Barros, conselheiro da ABI

Foto: Cadu Bazilevski/ Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

No dia em que Vladimir Herzog completaria 88 anos, em 27 de junho passado, entidades de defesa do jornalismo e dos direitos humanos, entre as quais a ABI e a Abraji, se reuniram para dar início às homenagens pelos 50 anos do assassinato de Vlado e reafirmar o compromisso com a memória, a verdade e a justiça. O palco desse encontro foi o auditório do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, na capital paulista, e contou com a participação de Ivo Herzog, representando a família. A ABI foi representada por sua vice-presidente, Regina Pimenta.

Realizado no mesmo auditório onde os jornalistas se mobilizaram para denunciar o assassinato de Vlado, o evento teve como mote o manifesto Em Nome da Verdade, publicado em 1976 e assinado por mais de mil jornalistas que ousaram enfrentar a ditadura. Foi um momento de reflexão sobre o passado e, sobretudo, sobre os desafios atuais do jornalismo brasileiro.

Em novo manifesto, o Sindicato dos Jornalistas, presidido por Thiago Tanji, e o Instituto Vladimir Herzog denunciaram que “o jornalismo brasileiro atravessa um novo ciclo de ameaças”:

“A violência física, os ataques digitais, o assédio judicial e a tentativa de deslegitimar o trabalho da imprensa, por meio da desinformação, compõem hoje o cotidiano de profissionais e ativistas da comunicação”.

De acordo com o documento assinado por mais de 50 pessoas, “a liberdade de expressão e de informação jornalística, conquistada com suor e sangue, está mais uma vez em risco não apenas por ação direta do Estado, mas por um ecossistema de ameaças múltiplas, em que o poder econômico, político e tecnológico opera muitas vezes contra a transparência, o pluralismo e o interesse público.”

LEIA A ÍNTEGRA DO DOCUMENTO ‘EM NOME DA VERDADE: 50 ANOS DEPOIS’

“Cinquenta anos se passaram desde que Vladimir Herzog foi torturado e assassinado nas dependências do DOI-CODI, em um dos episódios mais brutais da história do Brasil. Naquele momento, jornalistas se uniram aqui neste auditório, em um gesto histórico e corajoso, para organizar uma grande mobilização social para exigir justiça, denunciar mentiras e reafirmar o compromisso da profissão com a verdade e os direitos humanos.

Hoje, meio século depois, nos reunimos novamente jornalistas, comunicadores, estudantes, defensores da democracia e ativistas de direitos humanos para lembrar Herzog e tudo o que ele representa para nós e para todo o país.

Mas não estamos aqui apenas para lembrar o passado. Estamos aqui porque o presente também exige nossa atenção. O jornalismo brasileiro atravessa um novo ciclo de ameaças. A violência física, os ataques digitais, o assédio judicial e a tentativa de deslegitimar o trabalho da imprensa, por meio da desinformação, compõem hoje o cotidiano de profissionais e ativistas da comunicação.

A liberdade de expressão e de informação jornalística, conquistada com suor e sangue, está mais uma vez em risco não apenas por ação direta do Estado, mas por um ecossistema de ameaças múltiplas, em que o poder econômico, político e tecnológico opera muitas vezes contra a transparência, o pluralismo e o interesse público.

Não podemos ignorar que essa violência contra o jornalismo ultrapassa nossas fronteiras. Enquanto nos reunimos neste auditório, na Faixa de Gaza dezenas de jornalistas palestinos já foram assassinados em meio aos bombardeios e à ofensiva militar de Israel. A morte deliberada de jornalistas é uma das formas mais brutais de censura e um atentado direto ao direito de toda sociedade saber o que acontece. A cada profissional silenciado sob os escombros, morre um pedaço da liberdade de todos nós.

Por tudo isso, nós, jornalistas, comunicadores e defensores de direitos humano reunidos neste auditório que carrega o nome de Vladimir Herzog, reafirmamos nosso compromisso inegociável com a verdade, com a liberdade de expressão, com o direito da sociedade à informação e com a memória de todos que sacrificaram suas próprias vidas na defesa desses princípios.

Assim como em 1975, voltamos a dizer: não aceitaremos silêncios forçados, não normalizaremos mentiras institucionalizadas, não deixaremos sozinhos os que sofrem por exercer o seu ofício com dignidade e responsabilidade. Lutaremos por estruturas de proteção, por marcos legais capazes de combater a contra a desinformação, por melhores condições de trabalho, contra a criminalização de comunicadores populares e comunitários, e por um país e um mundo todo – onde informar nunca seja um ato de risco.

Em nome da verdade – ontem, hoje e sempre.”

O documento foi lido por Giuliano Galli, do Instituto Vladimir Herzog.