10/06/2025
Por Rogério Marques, conselheiro da ABI
Fotos: Rogério Marques
O Rio viveu no domingo (8) uma das maiores manifestações de protesto contra as operações policiais que resultam em mortes de inocentes nas favelas da cidade.
O ato, do qual participaram centenas de pessoas, foi motivado por uma ação desastrosa do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar, que resultou na morte, por um tiro, do office-boy Herus Guimarães Mendes da Conceição, de 24 anos, na noite de sexta-feira (6), no morro Santo Amaro, bairro do Catete, no Rio. Outras cinco pessoas da comunidade ficaram feridas. Na ocasião havia uma festa junina no morro, da qual participavam muitos moradores, inclusive crianças e adolescentes.
O protesto começou às 14 horas, na Rua Pedro Américo, em um dos acessos à comunidade do Morro Santo Amaro. Estiveram presentes os pais de Herus, lideranças comunitárias e parentes de vítimas da violência em outras comunidades. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) participou do ato, em solidariedade aos pais de Herus e a todas as vítimas inocentes da violência nas comunidades do Rio.
TIROS PARA O ALTO
Em pouco tempo o número de manifestantes cresceu e o trânsito na Rua Pedro Américo foi interrompido. Foi quando um policial civil de folga, irritado porque não conseguia passar com seu carro, disparou dois tiros para o alto, causando tensão entre os manifestantes. Ele foi detido mais adiante e levado para uma delegacia. Sua identidade não foi revelada.
Por volta de 16 horas, depois dos discursos de moradores do Santo Amaro e líderes comunitários, com várias acusações ao governador do Rio Cláudio Castro (PL), os manifestantes iniciaram uma longa caminhada pelas ruas do Catete e da Glória.
Ao longo do percurso, a passeata foi ganhando a adesão de moradores da região, indignados com o episódio que tirou a vida de Herus. Seus pais, Mônica Guimarães Mendes e Fernando Guimarães, exigiram justiça e disseram que o rapaz deixou um filho de dois anos, que eles vão criar.
Quando a caminhada atingiu a Rua do Catete, os manifestantes já eram centenas, e o trânsito também foi interrompido. Muitos policiais militares, alguns armados de fuzis, observaram o protesto por todo o percurso, sem intervir.
COMANDANTE DO BOPE EXONERADO
Diante da repercussão do episódio, o governador Cláudio Castro exonerou o coronel Aristheu de Góes Lopes, comandante do Bope, o coronel André Luiz de Souza Batista, do Comando de Operações Especiais (COE) e afastou das ruas 12 policiais que participaram da ação.
Depois da Rua do Catete, a caminhada subiu a Rua Santo Amaro, em direção à parte mais alta da comunidade, até o local em que Herus Guimarães Mendes foi morto e outras pessoas ficaram feridas. As bandeirinhas coloridas da festa junina de sexta-feira, quando o episódio aconteceu, ainda estavam lá.
No encerramento do ato, um dos manifestantes disse que os moradores do Morro Santo Amaro exigem que a responsabilidade pela desastrada ação do Bope seja apuradas e que os responsáveis sejam punidos.
A ABI se une aos clamores da comunidade do Morro Santo Amaro e de todas as outras favelas do Rio e municípios vizinhos, nas quais operações policiais mal planejadas têm resultado nas mortes de inúmeros inocentes, até mesmo mulheres, crianças e adolescentes.