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Respirando os ares da notícia


19/05/2008


Cláudia Souza
23/05/2008

As belas imagens estampadas na revista National Geographic fascinaram o niteroiense Rafael Wallace, de 26 anos, ainda na infância. A coleção — pertencente ao pai — e a atividade da mãe como pintora foram elementos decisivos no desenvolvimento do interesse pela fotografia. A opção pela carreira tornou-se ainda mais clara aos 19 anos, quando ele percebeu que a falta de recursos para comprar uma câmera não inviabilizaria sua entrada no mercado:
— Assistindo a um campeonato de surfe em Saquarema, descobri que os fotógrafos trabalhavam com equipamento fornecido pelos jornais e revistas. Até então, eu achava que jamais conseguiria fotografar profissionalmente por não ter recursos para comprar uma câmera. 

Cursando a Faculdade de Filosofia da UFRJ, Rafael se identificava principalmente com as disciplinas Estética e História da Arte. Paralelamente, frequentou o curso básico da Sociedade Fluminense de Fotografia, em sua cidade. Assim que terminou, em dezembro de 2002, trancou a matrícula na faculdade de filosofia e foi à luta com a câmera emprestada por um amigo. Em 2003, iniciou a graduação em Fotografia na Universidade Estácio de Sá. A primeira oportunidade de estágio surgiu no Dia, em 2004:
— De repente, lá estava eu fazendo fotojornalismo — cobrindo especialmente as editorias de Economia, Política, Cidade e Automóveis — interagindo com diversos grupos sociais, descobrindo novas perspectivas improváveis se estivesse trabalhando em ambientes fechados. O fotojornalismo nos coloca no foco da notícia. O repórter consegue fazer uma matéria com telefonemas dentro da redação, mas o fotógrafo precisa estar de frente para a notícia, respirando o mesmo ar do acontecimento.  Acho graça poder dizer hoje que vivo da fotografia. Eu pagaria pra fazer o que faço.

União

Apoiado no perfil documental lapidado no fotojornalismo, no instante do clique Rafael preocupa-se com a pauta e o fato, porém dedica especial atenção ao comportamento das pessoas:
— As imagens que revelam a união das pessoas no sofrimento e na alegria me encantam. O drama de uma família que perde a casa na enchente ou a emoção de um atleta que conquista sua primeira medalha de ouro são alguns exemplos. Gosto de expressões, de gestos, de pessoas que têm potência no olhar.

Após o estágio, Rafael atuou como profissional no vespertino Q! , no site Globoesporte.com, na cobertura dos Jogos Pan-americanos, e em editoras. Atualmente exercendo a função de editor de Fotografia da Assessoria de Imprensa da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ele aplaude as novidades tecnológicas do setor e revela postura otimista e simpática em relação à fotografia digital, que considera eficiente e acessível:
— Estudei fotografia analógica, trabalhei em laboratório preto e branco, mas tenho usado muito o equipamento digital. Não acredito que a popularização desta tecnologia esteja acabando com o papel do fotógrafo. Pelo contrário, com o advento da digital, as pessoas estão mais interessadas e exigentes, o que movimenta o mercado e valoriza a profissão. Hoje, além da mídia impressa, temos a internet, onde as fotos são fundamentais e o espaço para publicação é infinito. Estou confiante em relação aos rumos que a fotografia está seguindo.

Contudo, Rafael concorda que a atividade ainda é desvalorizada e que a baixa remuneração está diretamente vinculada a esta imagem:
— Para a festa de 15 anos de uma menina, os pais não se constrangem em pagar R$ 5 mil pelo bufê, R$ 1 mil pelo vestido, mas querem economizar no fotógrafo, recorrendo àquele primo que tem uma câmera. O trabalho de um profissional demanda criatividade, responsabilidade, e, portanto, maior valorização.

Detalhes

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Lidar com o mau humor das pessoas é também um entrave no dia-a-dia da profissão, garante Rafael, para quem a paciência é a chave para uma carreira de sucesso, especialmente se somada às experiências pessoais:
— Na fotografia documental, é preciso aguardar o momento ideal para fazer o registro. No estúdio, os detalhes da produção igualmente demandam tempo. É preciso ser paciente. O ingrediente final vem da vivência de cada um. Eu, por exemplo, estudei Filosofia e transfiro para o meu trabalho esta experiência. Mesmo sem perceber, nossa trajetória está por trás de cada clique. Na matemática, alcança-se um resultado lógico e já comprovado, como a soma de números. Na fotografia, seguir o manual não resolve. Para ser um bom profissional, é necessário, em primeiro lugar, ser uma boa pessoa. Acho que isso vale para todas as profissões.

Apesar da afinidade com o trabalho autoral, Rafael se diz à vontade para atuar em todas as circunstâncias e contextos oferecidos pela profissão:
— A fotografia é híbrida e o grande barato é poder explorar todos os campos. Para dar uma idéia da diversidade, no fim do ano passado, fotografei o Rio Paraíba do Sul, da nascente à foz, durante 16 dias para uma matéria. Recentemente, publiquei um livro sobre jardins e paisagens e tive a oportunidade de fotografar o cantor e compositor Nelson Sargento e tomar café da manhã em sua casa. Sem a fotografia, dificilmente isto seria possível.

Os planos de Rafael incluem o fotojornalismo, mas também posicionam suas lentes em direção a propostas mais intimistas:
— Nunca havia pensado em publicar um livro e não costumo expor meu trabalho, mas gosto da idéia do livro como a materialização de um projeto: é algo conclusivo, concreto. É ainda um veículo onde posso compartilhar meu juízo de valor com outras pessoas, discutir a importância ou a história de cada imagem. Jornais e revistas muitas vezes atingem um público maior, mas o livro tem um alcance mais profundo. Gostaria de fazer projetos mais elaborados que resultassem neste tipo de publicação. 


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