06/01/2009
Publicado em 2000 pela editora Insular, o livro “Guerra no Contestado”, do jornalista e escritor catarinense Paulo Ramos Derengoski, será reeditado este ano, com acréscimo de novas informações, mapas geográficos da região e fotografias históricas do conflito que se estendeu pelo planalto de Santa Catarina entre 1912 e 1916.
Derengoski, que se dedica ao tema há mais de 30 anos, começou a publicar o resultado de suas pesquisas em “O desmoronamento do mundo jagunço”, lançado em 85. O interesse, conta, surgiu quando ele percebeu que muito pouco se sabia no Brasil sobre a Guerra do Contestado:
— Em 1970, estava na França para fazer um curso e encontrei, na Universidade de Sorbonne, “Movimento messiânico no Contestado brasileiro”, escrito em francês pela professora brasileira Maria Isaura Pereira de Queiroz. Causou-me um certo espanto saber que lá existia uma obra sobre a Guerra do Contestado e no Brasil, não.
O jornalista atribui a falta de informações à forma como as elites catarinenses e paranaenses encaram o episódio:
— Por ser um assunto violento, dramático, e até mesmo maldito, já que ocasionou a morte de mais 2 mil pessoas, os dois estados se empenharam em abafar o assunto. E como não havia um Euclides da Cunha para documentar o fato, como ocorreu em Canudos, o caso caiu no esquecimento. Na época, o jornal Estado de Santa Catarina enviou o repórter Crispim Mira para fazer uma entrevista com o Adeodato Ramos, um dos líderes do movimento, mas foi só isso. Não ocorreu um relato abrangente como “Os sertões”.
Messianismo
Uma das novidades da segunda edição é a relação que o autor faz entre o movimento messiânico da Guerra do Contestado e outros de características semelhantes, dentro e fora do Brasil:
— Canudos, por exemplo, teve apenas um líder, Antônio Conselheiro, e se fixou em uma região. A Guerra do Contestado, por sua vez, se espalhou como água e vento por todo o planalto catarinense, especialmente nas localidades de Irani, Taquaruçu, Caragoatá e Santa Maria — onde a falta de uma igreja forte possibilitava o aparecimento de benzedores e profetas — e teve vários líderes, como Eusébio dos Santos, Elias de Moraes, o já citado Adeodato Ramos e José Maria. Este, morto logo no primeiro combate, era desertor da Polícia do Rio Grande do Sul e foi quem armou a população, que se insurgiu contra os impostos sobre a erva-mate, a desapropriação de terras dos camponeses pela Brazil Railway Company, as demissões dos funcionários que trabalhavam na construção da ferrovia São Paulo—Rio Grande do Sul e a exploração da madeira da região por estrangeiros.
Iconografia
Foi nos arquivos da madeireira Lumber Corporation, e também nos das Forças Armadas, que Derengoski encontrou novas fotos históricas do conflito para usar em seu livro. Entusiasmado, ele diz:
— O movimento do Contestado também teve caráter anti-imperialista, pois os revoltosos se voltaram contra essa empresa que devastava os pinhais de araucária que a população utilizava para obtenção de madeira e alimento. Por seu lado, o Exército brasileiro mandou um terço de seu efetivo para a região e, pela primeira vez, usou em combate dois aviões para jogar granadas, tática de bombardeio aéreo vista mais tarde na Primeira Grande Guerra.
Sobre o autor
Paulo Ramos Derengoski iniciou a carreira no jornal carioca Última Hora. Também passou palas redações da Folha de S. Paulo e da revista Manchete, até retornar, em 1975, à cidade catarinense de Lages, sua terra natal, onde se dedica à pecuária e às pesquisas. Além de colaborar com diversas publicações jornalísticas, publicou “Os rebeldes do Contestado”, “Os cavaleiros do fim do mundo”, “Viagens de um repórter”, “Visão poética da natureza”, “Olhar brasileiro sobre grandes pintores” e “Pracinha e aliados — Grandes batalhas de guerra”.