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Remoção de notícias dos resultados de busca do Google ameaça jornalismo, afirmam empresas de mídia europeias


17/01/2025


Em O Globo

Em carta aberta publicada ontem, os editores de jornais europeus fazem um apelo ao Google para pôr fim a um teste que visa remover dos resultados de suas buscas conteúdo jornalístico produzido pela imprensa. Eles argumentam que, ainda que a big tech afirme que o objetivo seja medir a “atratividade” do conteúdo jornalístico, o teste é “inútil” e “desonesto”. O grupo afirma ainda que a medida contraria os compromissos assumidos pelo Google junto à Autoridade Francesa de Concorrência em relação à implementação da legislação europeia de direitos autorais.

Assinam o documento a Associação Europeia de Mídia de Revistas, a Associação Europeia de Editores de Jornais, a Federação Europeia de Jornalistas, a News Media Europe e a organização Repórteres Sem Fronteiras(RSF).

O diretor de Defesa e Assistência do RSF, Antoine Bernard, afirmou em nota que “o teste do Google é um ato de desdém para com os editores de imprensa, que estão simplesmente pedindo o que têm direito, de acordo com a lei francesa.” ”

O teste do Google temuma consequência simples: tornar o conteúdo jornalístico invisível nos resultados dos motores de busca, com um impacto simbólico desastroso. Deve ser abandonado. Esta é uma condição sine qua non para a retomada das negociações com o objetivo de determinar uma remuneração justa pelo jornalismo nas plataformas digitais”, completou Bernard.

Ele disse ainda que o RSF apoia os editores europeus e “participará voluntariamente dos procedimentos legais iniciados na França pelo Sindicato dos Editores de Periódicos Impressos (SEPM, na sigla em francês) contra o Google, para defender o direito dos cidadãos ài nformação.”

Democracias em risco

O documento afirma que “a supressão unilateral do conteúdo da imprensa pelos serviços do Google é um sinal de
alerta para as democracias europeias e coloca em risco a sustentabilidade da informação Made in Europe. E argumenta que o teste promovido pela big tech americana, “supostamente voltado para medir a contribuição da imprensa para a atratividade da marca Google, representa uma ameaça séria à sustentabilidade financeira da imprensa livre europeia, ao jornalismo europeu e à saúde dasdemocracias europeias.”

O teste, afirma o texto, já está em andamento.Ele deve remover o conteúdo de jornais e periódicos dos resultados de busca nos serviços do Google em diversos países europeus por um período indeterminado.Isso, segundo o grupo que assina a carta, afetará aproximadamente 2,6 milhões de cidadãos da União Europeia (UE).

Eles lembram que o Google tem uma influência significativa, devido a seu “quase monopólio nas buscas”, e é a principal porta de acesso a notícias para muitos cidadãos europeus. “Qualquer ação que reduza o alcance da imprensa aos leitores mina a capacidade dos editores de financiar suas equipes editoriais. Além disso,restringir o acesso dos cidadãos à informação afeta diretamente a qualidade do debate democrático em toda a Europa”, afirma o texto.

O grupo considera que o teste está sendo realizado “de má-fé”.O Google, diz o texto, “não tem sido transparente
nem cooperativo, recusando-se a compartilhar detalhes sobre o teste ou garantir acesso aos seus resultados.”Eles temem que haja manipulação nos resultados a fim de “desvalorizar o papel econômico da imprensa e sua real contribuição para o sucesso doGoogle.”

O teste, diz o texto, parece“um claro ato de intimidação” em meio às negociações, na UE,sobre remuneração por conteúdo noticioso. E lembra que a Autoridade de Concorrência na França havia previsto o risco de retaliação por parte do Google. Por isso,o órgão proibiu a big tech de excluir conteúdo jornalístico. Isso permitiu que os editores de revistas franceses, por meio de sua associação, a SEPM, conseguissem a suspensão temporária do teste na França.

Obstrução à informação

Os signatários da carta afirmam que editores e jornalistas da UE apoiam a iniciativa da SEPM e acompanharão o
caso na Justiça,“na esperança de que o resultado afirme a soberania da Europa sobre seu ecossistema de informação.”

“Em um momento de interferência e manipulação generalizadas da informação e da opinião pública, uma empresa dominante como o Google deve assumir total responsabilidade por suas ações e cessar qualquer obstrução ao direito
dos cidadãos de acessar informações jornalísticas”, conclui o texto.