28/10/2008
Cláudia Souza
31/10/2008
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(…) “A voz lhe disse (uma secreta voz):
— Vai, Alécio, ver.
Vê e reflete o visto, e todos captem
por seu olhar o sentimento das formas
que é o sentimento primeiro — e último — da vida.”
Os versos de Carlos Drummond de Andrade dedicados ao fotógrafo Alécio de Andrade (1938-2003) sublinham a genialidade do primeiro brasileiro a integrar o elenco da Agência Magnum — emblemática cooperativa de fotojornalismo, com sede na França — atendendo a convite de Henri Cartier-Bresson.
A retrospectiva da carreira de Alécio de Andrade está em cartaz até o próximo dia 23 no Instituto Moreira Salles (Rua Marquês de São Vicente, 476 — Gávea — Rio de Janeiro-RJ), que lançou um catálogo com as imagens que se tornaram célebres pela força do preto-e-branco e a ausência de retoques e flashes. Uma versão compacta da exposição também pode ser vista, até 26 de novembro, na Galeria IMS Unibanco Arteplex (Praia de Botafogo, 316, lojas D e E — Botafogo — Rio de Janeiro-RJ):
— O IMS está apresentando uma grande retrospectiva da obra de Alécio, com 260 fotografias — diz Sérgio Burgi, coordenador da área de Fotografia do Instituto e curador da exposição. — Na verdade, esta é a primeira grande exposição do fotógrafo no Brasil após a sua morte. Como ele deixou o País em 1964, ainda jovem, de certa maneira seu trabalho ficou pouco conhecido entre os brasileiros. Sua última exposição aqui foi em 1981, em São Paulo. A importância desta mostra está justamente no resgate de sua carreira.
Nascido em 1938 no Rio de Janeiro, Alécio formou-se em Direito e foi exímio pianista e poeta premiado antes de se dedicar integralmente à fotografia:
— Com pouco mais de 20 anos, ele estava em busca de sua linguagem. Percorreu o caminho das letras e da música, mas na fotografia aliou densidade cultural e artística a um olhar diferenciado — analisa o curador.
Fotojornalismo
Em 1964, Alécio inaugurou na Petit Galerie, em Ipanema, sua primeira exposição, “Itinerário da infância”, recebida com aplausos aqui e na Europa. No mesmo ano, conquistou uma bolsa de estudos do Governo francês para o Institut des Hautes Études Cinématographiques.
Radicado na França, o fotojornalista foi correspondente da revista Manchete entre 1966 e 1970. Fez parte da Agência Magnum entre 1970 e 1976 e colaborou para publicações nacionais como Fatos & Fotos, IstoÉ e Jornal do Brasil e estrangeiras como Elle, L’Express, Le Monde, Le Nouvel Observateur, Libération, Lui, Marie-Claire, Photo, Réalités, Le Figaro, Stern, American Photographer, Fortune e Newsweek.
Notabilizado por seus retratos de personalidades e imagens de crianças e de Paris — cidade onde viveu de 1964 até sua morte, em 2003 —, Alécio se destacou com o famoso ensaio sobre o Museu do Louvre:
— O nome de Alécio de Andrade permanece muito forte no exterior, especialmente pelos registros do Louvre que originaram uma das obras mais importantes sobre a França. São 90 fotografias feitas ao longo de 20 anos, nas quais ele estabelece um diálogo entre os visitantes e as obras expostas com linguagem coerente, leve e instigante. O IMS vai exibir e catalogar este trabalho em 2009, como parte dos eventos comemorativos ao Ano da França no Brasil — antecipa Sérgio.
Admiradores
Desde o início da carreira, o talento de Alécio chamou a atenção de grandes nomes das artes em todo o mundo, como o renomado escritor Julio Cortázar, autor de dois livros sobre trabalhos do fotógrafo — “Un chat dans la nuit” e “Paris ou la vocation de l’image” — e Carlos Drummond de Andrade, que escreveu o poema “O que Alécio vê” e comentou em crônica: “Na Petite Galerie, o rapaz com cara de menino abriu uma exposição de fotografias. Aconselho meu leitor, se é que existe, a ir espiá-las. (…) Não pode haver melhor uso da fotografia do que este de alimentar-nos da porção perdida de nossa alma. Uma arte vinculada com a mais fugitiva e perene das realidades poéticas, eis o dom sublime de Alécio de Andrade.”
O poema escrito por Drummond está em exibição no IMS ao lado de outros itens inéditos, como cartas e cartões-postais endereçados ao fotógrafo por admiradores ilustres como o colega de profissão Henri Cartier-Bresson e o pianista austríaco Alfred Brendel.
O acervo fotográfico de Alécio de Andrade, que pertence à viúva e aos filhos, reúne atualmente cerca de 4 mil contatos, 120 mil negativos em preto-e-branco e 3 mil cromos.
— A coleção em cartaz, somada aos registros do Louvre, totalizam 350 imagens que serão disponibilizadas pelo IMS para a consulta do público. O objetivo é, em parceria com a família, catalogar e divulgar a obra do artista — ressalta Sérgio Burgi.
Clique nas imagens para ampliá-las:
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