17/10/2007
Marcia Martins
19/10/2007
Aliar profissão com o prazer. Esta era a meta de Ricardo Beliel no início da carreira. Gostava de artes plásticas e adorava aventuras. E pensando na profissão que mais se adaptaria a esta realidade, escolheu a fotografia. O resultado foi positivo: emoção e paixão dominam até hoje a vida deste fotógrafo que já foi baleado na Rocinha, cobriu guerras e esteve próximo a guerrilheiros colombianos, sempre em busca da notícia e da foto perfeita.
Como vários colegas de profissão, Beliel estreou fazendo fotos para divulgação de shows, como o de Caetano Veloso na volta do exílio. A primeira contratação aconteceu quando tinha apenas 23 anos, no Globo, onde conviveu com figuras ilustres como o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues:
— Antigamente as pessoas mais velhas dominavam as redações. É engraçado como esta realidade é diferente nos dias atuais — constata.
Beliel passou ainda pelas revistas Manchete, Placar, Veja e IstoÉ, o Jornal do Brasil e a F4. Foi nesta agência de fotografia que durante a ditadura militar, fez uma das mais emocionantes coberturas jornalísticas. As manifestações voltavam a acontecer no ABC paulista e o Bispo Dom Cláudio Hummes tinha liberado a Matriz de São Bernardo para a realização das assembléias. Milhares de pessoas participavam do ato, sempre com a polícia e o Exército muito próximos:
— Para os líderes do movimento conseguirem chegar ao local sem serem vistos, viajavam no carro dos repórteres, geralmente abaixados no banco de trás. Por muito pouco eu não pisei na cabeça do Lula — brinca.
Beliel fotografou os manifestantes formando cordões de isolamento com os braços dados para impedir que soldados chegassem ao interior da igreja:
— Era muito emocionante olhar o rosto daquelas pessoas simples, vê-las lutando por um ideal que hoje é uma realidade.
As emoções aconteceram também fora do Brasil, em coberturas como a da guerra civil de Angola. Em matéria sobre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), já havia se formado em Jornalismo e cuidava também do texto:
— Busquei a formação acadêmica, 23 anos depois de ter começado como fotógrafo, por simples curiosidade de conhecer mais sobre a profissão de jornalista — explica.
Tecnologia
Quanto às novas tecnologias, ele diz que não foi difícil se adaptar, apesar de achar que as máquinas digitais são tão complicadas de manusear quanto as analógicas. Ricardo Beliel acredita que o profissional deve conhecer muito de técnica para tirar uma boa foto. E relembra o período em que, quando viajava, era necessário levar todo um laboratório e montá-lo no banheiro do hotel:
— Antigamente os repórteres fotográficos eram mais intuitivos, hoje eles precisam de conhecimento para fazer uma boa foto.
Beliel, que hoje trabalha como freelancer, escrevendo e fotografando para revistas como a National Geographic e a alemã Geo, afirma não ser saudosista e utiliza a tecnologia ao seu favor. Para ele, a profissão hoje é muito mais valorizada, com os fotógrafos tendo os créditos nas imagens e muito mais espaço nos jornais. A única coisa que lamenta é que a tecnologia tenha tirado outros profissionais do mercado, como os laboratoristas.
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