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O jornalismo e sua importância em xeque


04/08/2008


Colaboração de Willkier Barros, jornalista e sócio da ABI

A prática do jornalismo vem sendo analisada no passar dos anos com muito afinco. Essa iniciativa se deu pela própria necessidade de o homem se comunicar da forma mais regular e objetiva possível.

Desde o ano de 1965, o jornalismo empírico passou a ser teórico e, por assim dizer, analisado para que, de forma contundente, passasse a integrar as esferas do silogismo, ou seja, o jornalismo lógico baseado em premissas de uma realidade que foge à tendenciosidade. O Governo, já em meados de 1965, apresentava posições que apontavam para o direcionamento da comunicação dirigida, orquestrada mesmo. Os elementos manipulados na época eram extremamente tendenciosos e jamais analisavam a importância da notícia do ponto de vista social, mas sim a retórica do próprio enlace ideológico.

Neste período surgiram grandes nomes da imprensa nacional, como o jornalista Wladimir Herzog, da TV Cultura de São Paulo, e tantos outros que perderam as suas vidas em busca da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão, sem o manuseio da informação.

As coberturas dos veículos intitulados “livres” eram quase que sempre coibidas pela censura e quando isso não ocorria, o jornalista, quando não o veículo, era punido com o cerceamento de sua outorga de funcionamento ou a prisão dos profissionais envolvidos. Neste movimento, muitos jornalistas foram presos ou exilados.

O profissionalismo era algo empírico e apenas aqueles que realmente amavam a profissão se arriscavam a cobrir os movimentos liderados pela opressão, artigo em alta durante o referido período.

Não havia faculdades de Comunicação ou mesmo de Jornalismo. Todo o quadro de profissionais que trabalhava nas redações era imbuído por algo maior do que o simples ganhar dinheiro, até porque naquela época a profissão era remunerada de forma irrisória. Quem fez parte daquela época sabe que o jornalismo era feito por amor à profissão e esse período serve de referência para as novas gerações. Esse período turbulento uniu a classe e motivou um crescimento da profissão que ecoa até hoje. Fez com que a sociedade tivesse um grande elemento de persuasão dos direitos e deveres sociais através da prática do jornalismo de pesquisa, investigativo e por que não chamá-lo de contundente.

Era o surgimento do jornalismo social, praticado com isenção e baseado na formação de uma opinião pública intelectual, culta, responsável. A correta prática da imprensa periódica se tornou um algoz de muitos sistemas falidos, que destruíram as relações harmônicas da sociedade. A função mais importante do jornalismo baseava-se, assim como hoje, em premissas como: dignidade, honestidade, ética, responsabilidade e comprometimento com a realidade dos fatos. Esse fora e é um jornalismo que não se aprende no mercado de trabalho, pois é parte de nós mesmos, da nossa conduta diária e do nosso intelecto desenvolvido através do estudo aprimorado sobre o que e como produzimos uma matéria e seus derivados.

Os anos se passaram e hoje, em pleno século XXI, após diversas intempéries que assolaram a profissão, sempre a deixando mais forte do que fora em tempos idos, o jornalismo corre o risco de perder seus valores agregados através de um retrocesso sem precedentes. A possibilidade da não exigência do diploma para os profissionais que atuam como jornalistas no mercado põe em risco a qualidade e a idoneidade da informação repassada. A profissão de jornalista tem uma importância incomensurável para a sociedade. A nossa essência é o servir à sociedade, tornando-se um elemento catalisador no desenvolvimento humano, social, econômico e cultural. Tais atribuições não podem, por hipótese alguma, fazer parte de uma regra permanente do acaso. O conhecimento, o saber como, é um elemento indispensável na prática de qualquer profissão, e essa importância deve ser ressaltada quando se trata da formação do caráter e da opinião pública através da notícia.

Assim foi, é e será, se assim permitirmos, a importância do jornalismo na formação de uma sociedade culta. Lembremo-nos dos grandes enfrentamentos liderados por jornalistas como Adísia de Sá e Audálio Dantas, dentre tantos outros que encararam as situações mais adversas sem, em nenhum momento, perder a convicção do que seria o jornalismo praticado com responsabilidade e ética. As ações desenvolvidas por nossos colegas décadas atrás nortearam o jornalismo praticado atualmente nas redações dos grandes veículos e, por assim dizer, fomentaram esse brilhante compêndio do jornalismo.

Ter uma atitude ética corresponde a uma postura empregada pelo jornalista que produz informações contextualizadas, embasadas em informações apuradas e lastreadas em fatos inquestionáveis. Essa retórica deve ser permeada pelas formações nas instituições de ensino superior, que analisam cada elemento para a formação dos elementos jornalísticos, evitando assim o “protagonismo”, elemento repulsivo no jornalismo. Não estamos nem de perto afirmando que todos os profissionais que atuam no meio sem a devida formação são tendenciosos. Existem jornalistas de grande importância e valor para o meio, porém não podemos deixar que esse benefício se torne casual. O jornalista, amparado em conhecimentos fundamentais dos princípios básicos em que se apóia sua formação, deve ter uma compreensão do como e por que transcorre o fato noticiado.

A boa matéria pode fornecer sobre um assunto o máximo de elementos, uma atitude que pode e deve se manifestar em todos os níveis da informação, da seleção de pautas e fontes de informação à criação do suporte textual. Trata-se de não se contentar com as questões propostas, mas de buscar outros aspectos, outras dimensões, outros elementos factuais. Trata-se de uma necessidade imposta, por assim dizer, pela realidade, e que conduz, inevitavelmente, a um jornalismo mais comprometido com a ética, um jornalismo responsável e embasado em análises dos elementos disponíveis.

No segundo semestre deste ano de 2008, o Congresso Nacional vai pôr em pauta a obrigatoriedade da formação superior para o exercício da profissão de jornalista, ou seja, do diploma em Jornalismo.

A dimensão ética não deve ser considerada como algo descartável. Não podemos confundi-la com a moral que é menos permanente. Os princípios éticos devem contribuir para a convivência solidária e fraterna do jornalismo puro, portanto essa contenda pertence a todos nós e deve ser absorvida como nossa pauta diária.

O Código de Ética dos Jornalistas diz que o compromisso fundamental do profissional da imprensa é com a verdade dos fatos e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação. É dever do jornalista: lutar pela liberdade de pensamento e expressão; defender o livre exercício da profissão; e combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercida com o objetivo de controlar a informação.

Precisamos nos embasar na luta pela exigência do diploma e, acima de tudo, mostrar para a sociedade o quão em xeque está a integridade da informação que lhe chega e que, certamente, contribuirá para a formação do caráter intelectual dos seus, dos meus e dos nossos. A imprensa não dever ter sua importância suprimida.