22/04/2005
Rodrigo Caixeta
15/04/2005
Rodrigo Caixeta |
Para Luiz, o impulso que o leva a pôr a máquina em ação é um simples “estalo”. Ele ensina que o clique acontece primeiro na cabeça do repórter:
— A notícia é que faz o profissional, e não o contrário. O impulso é o mesmo, tanto faz se a fotografia é digital ou em chapa de vidro, como quando comecei.
Um dos cliques mais importantes de sua carreira foi feito na Vila Militar do Rio de Janeiro, em julho de 1966. Luiz ouviu um diálogo entre dois oficiais nos minutos que antecediam o desfile com a presença de Castelo Branco, o primeiro general a assumir a Presidência após o golpe militar:
— Um dos oficiais informava o jipe tinha um batente muito alto. O outro sugeriu que trocasse o carro, mas já não havia mais tempo.
Com a máquina já em posição, Luiz Pinto fez o registro que lhe renderia o Prêmio Esso de Fotojornalismo daquele ano. A foto mostrava a dificuldade do Presidente, de baixa estatura, para subir no veículo em que participaria da parada militar. Foi publicada em seis colunas na Tribuna da Imprensa, com o célebre título “Subindo e fazendo força”:
— Passei a ser vigiado pelo Exército. Fui preso no Rio várias vezes, fichado e espancado. Qualquer pretexto servia: uma manifestação de estudantes, uma agitação no Centro, qualquer coisa.
“Uma época de ouro”. Assim ele define período em que trabalhou na Tribuna da Imprensa e na Última Hora, jornais que ousavam afrontar a ditadura. Quando foi para O Globo, sentiu uma grande diferença, pois o jornal não publicava fotos que criticassem o regime. Desse tempo, Luiz também destaca que a fotografia não era prestigiada pelo jornal, realidade que mudou com a chegada de Erno Schneider à chefia do Departamento Fotográfico:
— Erno instituiu o uso da teleobjetiva, da seqüência fotográfica, o uso mínimo do flash. O Globo passou a publicar páginas gráficas.
Como repórter-fotográfico, Luiz Pinto já viajou por todo o Brasil e boa parte do mundo, inclusive a Antártica. Ele próprio já foi notícia ao ser preso na Argentina durante os distúrbios que se seguiram à queda de Perón; na Venezuela e na Bolívia, em golpes militares; na França e na Itália, confundido com terrorista argelino; e até em Belém do Pará, quando cobria a queda do Governador Aurélio do Carmo, deposto pelos militares em 1964. Personagem de livros, participou da cobertura de quatro Copas do Mundo e recebeu dezenas de prêmios.
O veterano artista das câmeras orgulha-se também de ter sido o autor da fotografia que correu o mundo como o melhor flagrante do movimento pelas Diretas Já: a multidão, em Brasília, se abrigando da chuva sob a bandeira brasileira, em março de 1985. Hoje, já aposentado, acompanha com orgulho o trabalho do filho Guilherme, fotógrafo do Extra, e conta que é personagem de um livro será lançado em maio: “Brasil — 20 anos de território Antártico”, de Marcomede Rangel, que o acompanhou em diversas viagens à Antártica.
Chapa de vidro
Luiz Pinto começou carreira como fotógrafo em Belém, no estúdio Foto Nazaré, que pertencia ao seu pai, dedicando-se a registros de casamentos, batizados e aniversários, ainda pelo processo de chapa de vidro. A estréia no jornalismo foi na editoria de Esportes do jornal Província do Pará, em que seu pai era chefe do Departamento Fotográfico. No Pará, trabalhou ainda no Liberal, antes de transferir-se para o Rio de Janeiro, onde começou na revista Manchete, em 1957. Em 1961, ingressou na Tribuna da Imprensa e logo passou dividir o tempo também com a Última Hora. A partir de 1969, entrou no Globo, onde permaneceu até 1992.
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