22/08/2006
José Reinaldo Marques
18/3/2005
Vale para todas as carreiras: o mercado de trabalho a cada dia se torna mais competitivo — e quem almeja o sucesso investe em todos os mecanismos que possam facilitar, o quanto antes, seu acesso a todos os segredos da profissão. Para isto, o melhor caminho é freqüentar cursos de extensão universitária e tentar uma vaga nos programas de treinamento oferecidos pelas empresas.
No setor de Comunicação Social, grandes empresas jornalísticas passaram a investir em programas próprios de treinamento, visando a melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo seu pessoal de Redação. No Rio e na capital paulista, os jornais O Globo, Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo e a Editora Abril atraem, anualmente, cerca de 8 mil candidatos em busca de uma vaga nos concorridíssimos programas para trainee que oferecem.
Em São Paulo, os recém-formados têm à sua disposição o Curso de Jornalismo Aplicado do Grupo Estado, o Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha de S. Paulo e o Curso Abril de Jornalismo. Todos se dedicam a ensinar aspectos práticos da profissão nas áreas de texto, fotografia, infografia e diagramação — o do Grupo Estado oferece também capacitação em radiojornalismo.
Este ano a Folha de S. Paulo vai realizar pela primeira vez um treinamento integrado em 12 semanas, ensinando tudo o que é necessário para se fazer um jornal diário. Os trainees da Folha continuarão tendo aulas de Português, Direito e Economia, além do contato com os jornalistas mais experientes do Grupo.
Criatividade e inteligência
O programa de treinamento da Folha foi inaugurado em 1988, com cursos de reportagem e redação. Em 98, entraram no currículo infografia e diagramação, como conta Ana Estela de Souza Pinto, responsável pela Editoria de Treinamento.
— Já em 85, promovíamos um seminário que serviu de base para o programa de treinamento, criado três anos depois. Queremos atrair jovens bem-formados, inteligentes, criativos e interessados em Jornalismo e ensiná-los na prática a trabalhar em jornal diário, com o objetivo de dinamizar e aperfeiçoar os quadros profissionais da Folha.
Segundo Ana Estela, são cerca de 2 mil 500 inscrições por turma — duas ou três por ano —, vindas de todo o País, de mais de 100 universidades diferentes e das mais diversas áreas. Para se inscrever, não há restrições de idade; a única exigência é estar cursando uma faculdade:
— A seleção é complexa. Alguns dos fatores analisados são formação escolar, domínio de idiomas, capacidade de articulação, informação geral, formação cultural, capacidade de trabalhar em grupo e sob pressão, interesses pessoais e projetos profissionais.
Na hora da seleção, diz ela, não há critérios mais ou menos importantes. Procura-se formar turmas heterogêneas, com pessoas que tenham qualidades e desafios diferentes, para que uns possam incentivar os outros e aprender entre si. Além disso, o treinamento permite que os participantes cometam erros num ambiente protegido, ou seja, numa espécie de redação-modelo, onde os alunos acompanham todos os passos da produção do jornal: assistem a reuniões de pauta e de edição; fazem exercícios de redação; cortam, aumentam, corrigem e reescrevem textos; fazem legendas; montam páginas no computador; selecionam fotos; até elaboram gráficos.
Além de uma equipe de jornalistas e colaboradores, os cursos da Folha contam com o professor de Português Pasquale Cipro Neto e Luís Francisco Carvalho Filho, consultor jurídico do jornal. Desde que foi criado, o programa da Folha aproveitou cerca de 300 pessoas, nas mais diversas editorias. Um dos beneficiados foi Vinicius Mota, hoje editor-chefe da Editoria Mundo. Formado em Ciências Sociais pela Unicamp e com mestrado em Sociologia na USP, ele diz que sua passagem pelo treinamento do jornal foi fundamental para o seu desenvolvimento como jornalista:
— Sem ele, dificilmente estaria na posição em que estou hoje. O curso é muito eficaz em seu objetivo de treinar de maneira intensiva e preparar os alunos para iniciar a carreira num grande veículo de comunicação.
Na Folha, os trainees não são remunerados e não têm seus trabalhos publicados — tudo é feito apenas como exercício. Ao final do curso, eles participam da produção de um caderno especial, que, dependendo da qualidade jornalística, pode sair no jornal — e neste caso, segundo Ana Estela, “os alunos recebem um pagamento como frilas”.
Em campo com supervisão
No Grupo Estado — responsável pelos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, a Agência Estado e a Rádio Eldorado — o Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado é sempre no segundo semestre do ano e tem três meses de duração. Durante esse período, os alunos têm contato com profissionais experientes e participam de debates sobre os mais variados aspectos da atividade jornalística. Também são mandados a campo para fazer reportagens e entrevistas, supervisionados pelos seus coordenadores, e acompanham todas as fases de elaboração do jornal, da apuração das matérias à distribuição. Criado em 1990, o curso, segundo seu coordenador-geral, Francisco Ornellas, é reconhecido como Extensão Universitária em Jornalismo pela Faculdade de Comunicações da Universidade de Navarra, na Espanha:
— Anualmente, temos 30 vagas para brasileiros e três vagas adicionais para estrangeiros. Os candidatos podem estar concluindo a faculdade de Jornalismo no ano da inscrição ou já terem se formado até dois anos antes. A cada turma, são mais de 2 mil inscritos. Para estabelecer uma ponte com o mercado de trabalho, criamos um cadastro dos nossos alunos, o Banco Estado de Talentos.
Este ano, as inscrições estarão abertas de 15 de maio a 13 de julho e poderão ser realizadas pela Internet — www.estadao.com.br/talentos — ou pelo Correio. O processo de seleção, em duas etapas, é realizado em agosto: os 60 classificados na prova escrita de conhecimentos gerais e texto jornalístico passam por uma entrevista pessoal com profissionais do Grupo Estado e professores da Universidade de Navarra, em que são selecionados os 30 alunos da turma.
Estágio multimídia
No Globo, o programa de treinamento ganhou um estágio multimídia em 2002. Desde então, os alunos fazem um
rodízio pelas principais editorias do Globo, do Extra, do Globo Online e do Sistema Globo de Rádio:
— Além da experiência nas Redações e na rua, onde são sempre acompanhados de um profissional, os estagiários participam de ciclos de palestras com nomes de destaque no jornalismo — diz a editora Nívia Carvalho, responsável pelo programa multimídia.
Quem procura o programa, segundo ela, são jovens entre 20 e 23 anos, em sua maioria. Este ano, para quase mil inscritos, foram oferecidas 15 vagas, sendo apenas uma para a Fotografia, uma para a Arte e outra para a Diagramação, todas com provas específicas. Os estagiários — que passam por 11 meses de treinamento e têm direito a seguro, bolsa de R$ 630,00 e ajuda de custo para transporte e alimentação — devem estar matriculados no 7º período de Comunicação.
Mesmo apontando deficiências no ensino do Jornalismo nas universidades, Nívia diz que o índice de aproveitamento dos trainees no Globo é alto:
— No ano passado, dez dos 12 estagiários viraram trainees.
Hoje repórter da Editoria Grande Rio, Alessandro Soler acha que seu período como trainee foi fundamental para sua carreira:
— Estudei na UFRJ, que não tem disciplinas práticas e em que a maioria dos professores está fora do mercado. Não tive contato com o Jornalismo na prática. Já no curso do Globo, aprendi basicamente tudo: desde o que é a pauta até como fazer uma reportagem.
Exigências do mercado
A idéia foi retomada por Alberto Dines, num curso que, inicialmente, durava apenas 15 dias e era voltado para a redação de textos. Em 92, Marília Scalzo assumiu a direção-geral e iniciou novas mudanças, como a formação de fotógrafos e designers.
— É uma forma de atrair talentos. O curso está em sua 22ª edição e daqui já saíram nomes como Caio Fernando Abreu — diz Hamilton dos Santos, diretor do Curso Abril, que, voltado para jornalistas recém-formados, tem suas inscrições abertas em setembro. No ano passado, de 2 mil inscritos, 59 foram selecionados e quatro se tornaram trainees, nenhum deles fotógrafo. Hamilton explica:
— Não selecionamos nessa área porque temos poucos fotógrafos contratados e alguns frilas. Nosso foco mesmo é texto e design. De qualquer forma, todos os alunos são tratados como potenciais profissionais. Preferimos formar nossos próprios quadros para atender às nossas necessidades. Em geral, há um desequilíbrio entre a grade oferecida nas universidades e a realidade da prática profissional e das exigências do mercado.Desenvolver o potencial dos alunos como gestores editoriais é outra meta do Curso Abril, que há quatro anos oferece 10 vagas para áreas administrativas. Em todas as áreas, os alunos têm direito a refeição, mas não são remunerados. Se forem contratados como trainees, passam a receber cerca de R$ 2.400,00, mais benefícios como auxílio-saúde e alimentação. Segundo Hamilton, os requisitos para alcançar essa oportunidade são “fazer uma boa faculdade, ter formação humanística, domínio de matemática, raciocínio lógico e uma boa bagagem cultural”.
Criado em 1984, o Curso Abril foi inspirado no que já havia na Veja e ensinava a fazer revistas semanais — em 1968, 100 jornalistas de diferentes Estados, selecionados entre quase 2 mil candidatos, participaram do treinamento de estréia e 50 profissionais foram aproveitados na empresa.