18/06/2008
Cláudia Souza
20/06/2008
O carioca Pedro Afonso Fernandes Vasquez nasceu em junho de 1954, no Humaitá, e ainda menino foi morar em Niterói, onde reside até hoje e aprendeu a fotografar aos 13 anos de idade:
— As primeiras lições foram no Centro Educacional de Niterói, com o professor Luiz Carlos Brasil Barbosa, responsável pelo Clube de Fotografia da escola. Como nesta época não havia ensino formal ou escolas independentes de Fotografia, procurei me aperfeiçoar nos cursos oferecidos pelos fotoclubes. Fiz um com Chico Nascimento (então da Manchete), na Sociedade Fluminense de Fotografia, e outro com o Dr. Antônio Carlos Schott de Souza (veterinário e ótimo fotógrafo amador), no Foto Cine Clube Salesiano Niterói.
Em 1972, já cursando Jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF), conseguiu o primeiro emprego com carteira assinada como fotógrafo de documentos de identidade coloridos, à prova de falsificações, na Companhia Fotográfica Euclydes, que atendia ao Instituto Pereira Faustino (IPF). Já no ano seguinte, expôs pela primeira vez seus trabalhos, em individuais em Niterói e no prestigiado Salão de Verão, do Museu de Arte Moderna (MAM):
— Entrei na faculdade em meio ao regime militar. O clima de censura era intenso, inclusive dentro da universidade. Cativado pela filmografia do país e buscando liberdade e acesso à informação qualificada, em 1974 fui para a França, estudar Cinema na Sorbonne. Desejava muito ter contato com outras culturas e povos. Fiquei lá até 79.
Na França, em meio a bicos e trabalhos profissionais para capas de disco, publicidade e moda, Pedro publicou em 76, pela editora Contrejour, o primeiro entre as dezenas de livros que escreveu ao longo da carreira, intitulado “À la recherche de l’eu-dourado”:
— Na ocasião participei de um workshop sobre fotografia fantástica (photo fantastique) com os norte-americanos Duane Michals e Leslie Krims, o holandês Paul de Nooijer e o suíço Christian Vogt, em Arles. Este evento foi decisivo em tudo o que realizei a seguir como fotógrafo e como administrador cultural no campo da fotografia. O curso me impressionou muito, já que não havia nada no gênero em todo o mundo. A partir daí, fui me preparando para fazer algo semelhante no Brasil.
No Brasil
De volta, Pedro trabalhou na revista Photo Câmera, na Casa & Jardim e na editoria de Cultura da IstoÉ, quando Zuenir Ventura chefiava a sucursal carioca:
— Minha atividade profissional sempre foi dividida entre o texto e a imagem e também me empenhei em projetos que ofereciam o apoio institucional não só para o fotojornalismo, como para os demais campos da produção fotográfica, valorizando a atividade do setor como um todo.
Entre 82 e 86, atuou na Funarte, onde implantou as idéias trazidas da França, como a criação do Instituto Nacional da Fotografia, a coordenação das exposições na galeria INFoto, a Semana Nacional de Fotografia e as mostras que circulavam pelo País dentro do Projeto Itinerância:
— Uma ação dessa época que merece menção foi a primeira individual de Sebastião Salgado no País, que representou também a primeira oportunidade de se fazer aqui um catálogo consagrado ao seu trabalho. Foram criados também dois mecanismos de apoio externo: um para financiar realizações de instituições ou associações de fotógrafos; outro, a Bolsa Marc Ferrez, dedicado aos trabalhos individuais.
No mesmo período, Pedro lançou o primeiro de uma série de livros dedicados à história da fotografia: “D.Pedro II e a fotografia no Brasil”. Mais tarde, transferiu-se para o MAM, onde realizou um antigo sonho com a criação do Departamento de Fotografia Vídeo & Novas Tecnologias.
Na década seguinte, depois de abrir e fechar uma produtora com amigos, voltou à redação em 93, como subeditor do Dia:
— Foi um período particularmente rico e desafiador, pois era o momento da transição do preto e branco para a cor e, em seguida, o da criação dos cadernos regionais. O Dia foi um dos primeiros veículos a editar integralmente em cor, antes mesmo do Globo e da Folha. Eu coordenava o treinamento dos fotógrafos, implementando importantes mudanças.
De lá para cá, passou por outros veículos de comunicação, redigiu verbetes para a enciclopédia em CD-ROM “Encarta”, da Microsoft, e a do antigo Instituto Cultural Itaú e foi subeditor-geral da editora Rocco:
— Sempre atuei como frila em diversas publicações e como curador de mostras, ao mesmo tempo em que permanecia envolvido com a valorização e o ensino da fotografia e me dedicava à pesquisa da história da fotografia no Brasil.
Tendências
Questionado sobre seu estilo de trabalho, Pedro recorre à definição francesa de “fotografia de autor”, que, em sua opinião, é ampla o bastante para abrigar as mais diversas tendências:
— Quando comecei a expor regularmente, fui enquadrado no que se chamava então de “fotografia conceitual”. Houve também quem quisesse me inserir na body art. Mas jamais gostei dessas etiquetas, por serem restritivas e difusas demais. Fotografia de autor me parece mais adequado, embora eu seja pouco afeito a rótulos e conceituações — apesar de compreender que eles são mecanismos facilitadores do estudo da criação artística. Dentro do fotojornalismo e da fotografia documental como um todo, eu me interesso particularmente pela vertente engajada, por acreditar que a fotografia tem o poder de contribuir para o aperfeiçoamento e a justiça social.
Para Pedro Vasquez, o momento atual é muito desafiador para o fotojornalista:
— Foram alteradas não só a prática fotográfica, como a profissão — que enfrenta uma certa crise no mundo — como um todo. Não tenho nada contra o processo digital, que apresenta inúmeras vantagens, como a sensibilidade bem superior à da fotografia clássica; o aparente “custo zero” do clique, que representa uma economia concreta; e a autonomia de ação proporcionada pelo fato de você poder fazer dez vezes mais cliques sem ter que trocar de filme a cada 36 poses, se arriscando a perder a foto ou a ser preso ou agredido no momento da imobilidade do recarregar a câmera.
Os problemas, segundo ele, são de armazenagem e preservação, ainda não levados muito a sério pelos fotógrafos, pela indústria e pelas instituições:
— Tudo na vida tem seu “lado B”. Existem muitos milhares de fotografias (e de negativos, assim como de processos arcaicos como a daguerreotipia e a ferrotipia) com mais de cem anos de idade. Teremos condições de ver a produção atual dentro de um século? Esta é a grande questão. É preciso lembrar que boa parte da produção inicial da computer art foi perdida em decorrência das mudanças de suporte.
Pedro chama a atenção ainda para questões técnicas e financeiras impostas pelos avanços tecnológicos:
— Já vai longe o tempo em que era possível desenvolver uma carreira inteira com o mesmo tipo de máquina. Hoje, a constante evolução provoca a rápida obsolescência das câmeras e dos diversos periféricos e equipamentos adicionais necessários à prática da fotografia profissional, como programas de tratamento de imagens, scanners, impressoras, HDs e os próprios computadores. Hoje é preciso fazer cursos freqüentes para operar equipamentos e programas cada vez mais complexos. Tudo isso custa dinheiro. Muito dinheiro e muito tempo. E os salários não foram reajustados para se compatibilizar com a nova realidade da era digital.
Estudos
Diante das barreiras impostas pelo mercado, aprofundar os estudos sobre a História do Brasil, da imprensa e da fotografia é o caminho para estruturar a carreira no fotojornalismo, afirma Pedro:
— O importante é história, história e história, já que o jornalista nada mais é que o historiador do tempo presente.
Representante para o Brasil do Eugene Smith Memorial Fund, que distribui anualmente bolsas de trabalho para fotógrafos engajados, Pedro festeja a retomada dos projetos pessoais, até então em segundo plano em decorrência do turbilhão de atividades:
— Agora me concentro naquilo que o escritor francês Philippe Delerm qualificou de plaisirs minuscules, entre os quais se inscrevem o meu próprio fazer fotográfico e os livros infantis.
Usar a fotografia para se comunicar com as crianças “de coração para coração”. Assim, Pedro define sua trajetória em busca do universo infantil, que teve como primeiro resultado o livro “Olhos de ver” (2001), em que uma menina cria histórias a partir da observação de peças publicitária nas ruas. O segundo, “Ângelo e o anjo”, foi lançado em maio no 10º Salão do Livro Infanto Juvenil, no MAM:
— Em meus trabalhos, sempre dei destaque à perspectiva histórica e educacional em torno dos diferentes temas abordados. Pretendo me dedicar a projetos educativos que apresentem para as crianças conteúdo histórico, valorização da cultura brasileira e amor pelo País. E promover, a partir da linguagem, a assimilação de sentimentos de coragem e otimismo. Encanta-me encontrar no mundo exterior algo que reflita meu mundo interior e, ao mesmo tempo, ter algum tipo de valor universal, que possa ser entendido e compartilhado por outros e acrescente alguma nova dimensão à vida das pessoas.
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