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Morre o jornalista Luiz Antonio Mello, da Fluminense FM, aos 70 anos


30/04/2025


 Foto: Divulgação / Tetê Mattos

Morreu aos 70 anos, em Niterói, o jornalista Luiz Antonio Mello, diretor da Fluminense FM nos áureos tempos da “Maldita”, nos anos 1980, quando a programação era focada no rock. Luiz estava internado internado no Hospital Icaraí se recuperando de uma pancreatite, segundo o jornal “A Tribuna”, e teve uma parada cardíaca quando ia fazer uma ressonância magnética. O velório está marcado para esta quinta-feira (1), entre as 13h15 e 15h15, no Cemitério Parque da Colina, em Pendotiba, Niterói.

No ano passado, Luiz Antonio foi representado no cinema, no filme “Aumenta que é rock’n’roll”, pelo ator Johnny Massaro. Com muitas aventuras (verdadeiras, contadas pelo jornalista no livro “A onda Maldita”, base para o roteiro de L.G. Bayão), um bocado de rock e um tanto de romance (ficcionalizado), o longa do diretor Tomás Portella acompanha o período em que o jovem jornalista e alguns amigos assumiram a direção de uma esquecida rádio em Niterói, a Fluminense FM.

Luiz Antonio Mello e sua trupe de produtores (e locutoras) viraram a programação para o rock e inadvertidamente ajudaram a deflagrar uma revolução cultural no país, a bordo do Circo Voador e ao lado de bandas como Blitz, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e Legião Urbana. O jornalista dirigiu a rádio pela primeira vez entre 1982 e 1985 — ano em que Blitz, Barão e Paralamas tocaram no Rock in Rio inaugural e a Legião lançou seu primeiro LP.

No ano passado, quando essa primeira edição do festival completou 40 anos, ele escreveu artigo para o Globo contando como uma enquete na rádio ajudou o Rock in Rio a escolher os astros internacionais.

— A maioria das pessoas com quem eu falo hoje não era nascida quando a rádio entrou no ar. Pergunto como souberam da Fluminense, e é sempre por um pai ou tio que tinha uma fitinha ou disco da época — contou Luiz Antonio ao Globo, pouco antes da estreia de “Aumenta que é rock’n’roll”. — Acho que a coisa mais importante da rádio foi a franqueza, a espontaneidade. A Fluminense surgiu de uma forma extremamente emocional. A programação estava bem clara na cabeça da gente: era o que não estava tocando nas outras rádios. Umas coisas bem alternativas de rock, como Jimi Hendrix, Jim Morrison e Troggs, e as coisas que estavam chegando, com o punk.

A falta de recursos (o equipamento vivia pifando e às vezes faltava dinheiro até para comprar agulhas de vitrola) e as constantes ameaças de fechamento da rádio palas autoridades do Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) eram contrabalançadas pela dedicação dos ouvintes, que invadiam as reuniões dos produtores, ligavam para conversar com as locutoras (sim, só havia vozes femininas, uma inovação da “Maldita”) e ainda mandavam fitas demos de suas bandas.

— Isso aí criou uma intimidade que era como se a rádio fosse uma entidade que morasse no quarto do cara — disse Luiz Antonio ao Globo, recordando-se dos tempos loucos. — Uma vez, em dezembro, a gente estava conversando sobre o que as pessoas faziam no dia 25. Aí começamos a delirar em uma promoção completamente camicase com a banda Bacamarte, que tinha um disco chamado “Depois do fim”. Programamos um show deles no Circo Voador com o slogan: “Dia 25 de dezembro, vamos nos deprimir juntos!” Esperava 300 pessoas, apareceram cinco mil.

Jornalista precoce

Luiz Antonio Mello começou no jornalismo ainda adolescente, em 1971, como cronista do Jornal de Icaraí, de Niterói. Trabalhou como programador musical, produtor e redator da Rádio Federal AM e como repórter da Rádio Tupi AM, do jornal Última Hora e da Rádio Jornal do Brasil. Foi crítico musical do Caderno B do Jornal do Brasil e redator, colunista e repórter dos semanários O Pasquim e Opinião. Também foi editor chefe do semanário “Lig”, de Niterói, e em 1976, fundou, com Jorge Alberto Xavier”, o jornal Setedias.

Com o amigo Samuel Wainer Filho (o Samuca, que faleceria em 1984 em um acidente automobilístico), ele criou em 1981 o projeto “Maldita”, para a Rádio Fluminense FM. Depois de deixar a rádio pela primeira vez, em 1985, dedicou-se à elaboração da nova Globo FM, enquanto assumia a subeditoria do Caderno B do Jornal do Brasil. Nesse mesmo ano, assumiu a coordenação de promoções da Rádio Cidade FM, para a qual escrevia o programa “102 Decibéis”. Em 86, Luiz Antonio foi para a Rede Manchete de Televisão, onde cuidou da parte musical internacional e foi redator chefe do programa “Shock”.

O jornalista ainda foi consultor de marketing do departamento internacional da gravadora PolyGram do Brasil e da área de mídia eletrônica da Company. Escreveu roteiros e dirigiu inúmeros comerciais para televisão e ainda se arriscou na produção de discos, como “Som na guitarra” (1984), álbum de estreia do guitarrista e cantor Celso Blues Boy.

Em 1989, ele assumiu a presidência da Fundação Niteroiense de Arte (Funiarte) e, três anos depois, pôs suas memórias de Fluminense FM no papel no livro “A onda maldita”. Em 2018, a diretora Tetê Mattos lançou “A Maldita”, documentário que contava a trajetória da participação de Luiz Antonio Mello na revolução feita na Fluminense FM.