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Mestre do jornalismo, João Máximo completa 90 anos e diz que evita convites para ‘dar testemunhos’


29/05/2025


Por  Luiz Fernando Vianna Especial para O GLOBO

Foto: Leo Martins

Em busca de uma boa imagem, o fotógrafo pede para João Máximo se deitar no chão. Ele se deita. O repórter pede para ele recordar fatos de toda a vida. Ele recorda sem dificuldades. Muito bem física e mentalmente, João Máximo Ferreira Chaves chega hoje aos 90 anos reconhecido como um dos principais nomes do jornalismo cultural e esportivo do país.

E esse jornalista quase foi perdido para a odontologia. Formou-se em 1958 e arrumou emprego no ano seguinte no Vasco — embora seja torcedor do Fluminense. Atrás de dinheiro para abrir um consultório com um amigo, conseguiu em 1960 um segundo trabalho, este por intermédio de seu primo Zuenir Ventura: estagiário da Tribuna da Imprensa.

Logo foi parar na editoria de esportes, o que lhe criou um problema ético: sabia de informações do Vasco que deveria, mas não poderia, passar para o jornal.

— Viajei com Elca (sua companheira de 1961 até hoje) e disse para ela: “Ou não volto para a Tribuna ou não volto para a odontologia.” Ela falou: “Já sei para onde você vai voltar” — conta ele, certo de que não seria bom dentista.

São, portanto, 65 anos desde o início no jornalismo. Em 1963, no Jornal do Brasil, ganhou seu primeiro Prêmio Esso, o mais importante da profissão: pela cobertura em equipe do Fla-Flu final do Campeonato Carioca. O segundo viria em 1967, solo, pela reportagem “Futebol brasileiro: um longo caminho da fome à fama”.

De Copas do Mundo, cobriu in loco as de 1966 (JB), 1982 (JB), 1994 (Folha de S.Paulo) e 1998 (O Globo). Ainda assistiu às finais de 1970 — por decisão do editor-chefe do Correio da Manhã, Janio de Freitas — e 2014, no Brasil, época em que colaborava para a ESPN.

Noel Rosa entra em cena

A paixão pela música só viria a se misturar com o jornalismo em 1979, quando o editor Humberto Vasconcelos o levou para o Caderno B, do JB. O primeiro interesse surgira aos 7 anos. Nascido em Nova Friburgo, na região serrana do Rio, morava na capital desde os 3, na casa da avó paterna, na Glória, na Zona Sul carioca, por decisão dos pais. Quatro anos depois, passou a viver com a avó materna em Vila Isabel, na Zona Norte.

— Não conhecia quase nada de música. Mas ouvia o nome de Noel Rosa. Era uma figura lendária em Vila Isabel. Conheci várias pessoas que conviveram com ele — diz João, que chegou ao bairro apenas cinco anos após a morte do compositor, ocorrida em 1937.

— Aí, sim, conheci Noel Rosa — assinala. — Havia discos de Francisco Alves e Mario Reis, de Noel cantando. No fim do ano, saiu o álbum da Aracy de Almeida cantando Noel, com seis músicas. Depois saiu o segundo volume, mais seis músicas, que eu ganhei de aniversário.

Logo que pôde, começou a comprar biografias de artistas, obsessão que nunca arrefeceu. Foi lançada em 1955 uma de Noel, escrita por Jacy Pacheco. Rendeu polêmica com o cantor e pesquisador Almirante, que dizia já ter feito o mesmo no rádio.

— Essas coisas mexeram comigo por eu ser um leitor de biografias. Por que não fazem uma biografia direita do Noel? Só viveu 26 anos, não tem tanta coisa assim.

Ao longo de dez anos, a partir de janeiro de 1981, ele e o músico e pesquisador Carlos Didier — indicado por Sérgio Cabral (o pai) — construíram o livro, lançado pela editora da UnB (Universidade de Brasília) em dezembro de 1990, nos 80 anos de nascimento de Noel. É consagrada como uma das melhores biografias já produzidas no Brasil.

João já quis relançar a biografia, mas desentendimentos com Didier impediram.

— Ficará fora de catálogo para sempre. Meus filhos já sabem que, mesmo depois de morto, não deixo mexer no livro — avisa.

Produção musical dos EUA

Mas João fez muito mais. Em 1993, produziu para a Rádio Cultura, de São Paulo, o trabalho mais completo já realizado sobre Vinicius de Moraes: uma série em 32 episódios.

Também escreveu dois volumes sobre trilhas de cinema, uma obra de referência. Nunca perdeu o amor pela música brasileira, mas dividindo-o com a música americana.

— Acho a produção americana da primeira metade do século XX a mais rica que existe em música popular — resume. — Todos tocavam piano, conheciam bem música. Todos eles eram Tom Jobim. E Tom é um cara de quem eu cada vez gosto mais.

Foi em 1992 que, após 16 anos seguidos de Jornal do Brasil, entrou no Globo, onde escreveu no Segundo Caderno — com eventuais colaborações para outras editorias.

O Globo foi um renascimento para mim. Eu estava muito acomodado no JB — afirma ele, que, descontado um ano na Folha de S. Paulo, ficou no jornal até 2018.

Diz sentir falta do ambiente das redações, mas considera-se aposentado. A partir da pandemia, mudou-se de vez com Elca para Teresópolis. Mantém, porém, o apartamento em Vila Isabel, onde fica às vezes. Tem três netos e duas bisnetas no Rio. Dedica-se a ler, ouvir música, ver futebol e a uns estudos informais, sem intenção de publicar.