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Mergulho de corpo e alma na história


26/09/2006


José Reinaldo Marques
29/09/2006

O currículo do fotojornalista André Vieira, de 35 anos, inclui de reportagens sobre a exploração do trabalho escravo no Brasil à guerra no Afeganistão. O ponto em comum no material produzido — seja num centro urbano, na zona rural ou no front — é o realismo dramático das imagens.

André diz que o sonho de ser fotógrafo nasceu com a National Geographic Magazine, que adorava ler. A idéia, porém, só foi levada a sério quando começou a estudar Engenharia:
— Achei a faculdade um saco e, conversando com um amigo que era fotógrafo amador, comecei a fazer um curso básico de Fotografia. Acabei largando a Engenharia para trabalhar como assistente no estúdio da Márcia Ramalho e do Milton Montenegro. Pouco depois, voltei à universidade, mas para estudar Jornalismo.

Já formado, André foi repórter trainee do Dia e fotógrafo contratado da Manchete, hoje extinta:
— Depois de um ano no jornal, descobri que passar o dia trancado na Redação, lutando para apurar matéria ao telefone, não era pra mim. Acabei me inscrevendo no Curso Bloch de Fotografia e fui contratado pela principal revista da editora. Foi meu primeiro emprego como repórter-fotográfico profissional e deparei com todas as mazelas da área no Brasil: desrespeito, salários ridículos, falta de verba para as matérias e outras ainda menos nobres. Não era isso que eu queria pra mim. Sonhava trabalhar em outra realidade, com horizontes mais amplos do que via naquele momento.

Em 1996, ele resolveu ampliar os horizontes mudando-se para Nova York:
— Fui estudar no International Center of Photography, um museu de fotografia que tem o que considero o melhor curso que conheço. Foi lá que aprendi a desenvolver o olhar. O ICP foi um divisor de águas na minha carreira, pois me fez começar a enxergar a fotografia de uma nova maneira e me transformou num profissional completamente diferente.

Terminado o curso, André ficou cinco anos em Nova York, onde fez reportagens para o site da Fox News e teve fotos publicadas na Newsweek, Business Week, Der Spiegel, The Sun:
— Trabalhei o tempo todo como frila. Mas valeu a experiência, porque o mercado lá não quer que você faça tudo, e sim que tenha uma personalidade fotográfica bem definida. Eles querem um fotógrafo com olhar apurado.

Guerra

Em 2001, André viajou por conta própria para o Norte do Afeganistão, na área do Talibã. Antes de embarcar, fez contatos com algumas revistas, mas nenhuma pareceu se interessar pelo seu trabalho. De volta ao Brasil, continuou ouvindo dos editores que não havia interesse naquela guerra. Só após o atentado ao World Trade Center vieram as propostas:
— A Newsweek foi a mais rápida e comprou tudo o que eu havia feito na primeira viagem. Com o dinheiro que recebi, voltei para o Afeganistão, dessa vez com o compromisso de mandar o material para a revista. Fiquei lá três meses praticamente sozinho, sem intérprete, laboratorista ou colegas por perto. Fui o quarto jornalista ocidental a chegar em Mazar Il Sharif, primeira cidade a se livrar do controle do Talibã. Atravessei as montanhas a cavalo por uma trilha toda minada e, antes, consegui enviar alguns filmes pelo câmera de uma TV francesa que voltava para casa. A Newsweek publicou o material como um ensaio fotográfico. Saí do Afeganistão dez quilos mais magro e completamente esgotado.

Na volta ao Brasil, André associou-se à agência fotográfica alemã Focus, para a qual faz reportagens no País e em toda a América do Sul. Também atua regularmente como colaborador das publicações nacionais MTV, Trip, Revista Oi e Revista V e para as estrangeiras The New York Times, Los Angeles Times, Newsweek, Fortune, L’Express, Geo, Ode, Luna, National Geographic Brasil e rede de jornais Knight Ridder:
— Para esta, fiz uma série sobre o trabalho escravo no Brasil. A reportagem deu origem ao material que estou produzindo no Pará, cuja situação eu comparo ao Congo Belga descrito por Joseph Conrad em seu livro “Coração das trevas”. Devo publicá-lo em livro no ano que vem.

Dizendo-se péssimo em autopromoção, André diz que nunca participou de uma exposição, raramente se inscreve em concursos, mas está tentando mudar essa posição. Outra preferência é o preto-e-branco, embora suas fotos sejam praticamente todas em cor:
— Adoraria ter um laboratório em casa, pois adoro ampliar. Talvez por isso eu faça tão pouco P&B, pois o meu nível de exigência para uma foto nesse padrão é muito alto. Quero usar meu revelador favorito e ver a imagem maravilhosamente ampliada num papel de fibra de alto nível e virada em selênio, perceber os pretos profundos, sentir a textura etc. Como não posso ter nada disso, prefiro fotografar em cor.

Em relação ao fotojornalismo, André afirma que é preciso se entregar de corpo e alma à função:
— Para fazer um bom fotojornalismo o mais importante é se entregar de
corpo e alma à história. Não dá pra ser burocrático. É fundamental, também, entender o ambiente à sua volta e ouvir as pessoas. Sem isso, as fotos não acontecem. Não acredito em foto roubada. As melhores fotos nos são dadas pelos fotografados e para isso é preciso conquistar sua confiança. É muito importante também saber a hora de abaixar a câmera e não fotografar. 

Clique nas imagens para ampliá-las: 

“Fotografia tirada numa linha…”

“As tropas
da Aliança Norte…”

“Este 
soldado estava…”

“Esta foto 
foi feita no precário…”

“Aqui fiz 
um registro do avanço…”

“Ao final de um dia de batalha…”

“Depois do almoço nas trincheiras…”

“O trabalhador escravo acabara…”

“Mais uma fotografia
da série…”

“Ainda não eram 11h e 
a menina…”

“Esta seqüência
de fotos…”

“O Iriri é o último rio relativamente…”