29/09/2008
Acervo da ABL/CEL Lisboa |
Cícero Sandroni, Luiz Inácio Lula da Silva e Sérgio Cabral Filho |
Em solenidade realizada na tarde desta segunda-feira, dia 29, na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou o decreto que estabelece o cronograma para a vigência do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O ato aconteceu durante sessão solene de celebração dos cem anos da morte do escritor Machado de Assis, primeiro Presidente e patrono da ABL.
O Presidente Lula chegou à ABL acompanhado do Presidente da entidade, jornalista Cícero Sandroni, do Governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, e do poeta e acadêmico Ivan Junqueira. Antes de entrar no salão nobre da Academia, saudou os jornalistas presentes e, ao lado de Sandroni e Cabral, posou para uma foto diante da estátua de Machado de Assis, que fica no pátio em frente à entrada principal do Petit Trianon.
Além do Presidente Lula, do Governador Sérgio Cabral e do Presidente da ABL, Cícero Sandroni, compuseram a mesa que presidiu o ato o Ministro interino das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães; o Ministro da Educação, Sérgio Haddad; o Ministro da Cultura, Juca Ferreira; e o acadêmico e ex-Ministro da Educação Eduardo Portella.
A solenidade contou também com a presença de diversos membros da ABL, entre os quais o ex-Presidente José Sarney e os jornalistas Murilo Mello Filho e Carlos Heitor Cony. Entre as autoridades, compareceram o Senador Paulo Duque e os cônsules de Portugal, da Itália, do Japão, da Argentina no Rio de Janeiro.
Representaram a Associação Brasileira de Imprensa o Diretor de Jornalismo da entidade, Benício Medeiros, e os Conselheiros Francisco de Paula Freitas, Dácio Malta e Cecília Costa. A locução do evento foi feita pelo jornalista Márcio Gomes, apresentador de telejornais da Rede Globo.
Mudanças
De acordo com o decreto, o Acordo entra em vigor a partir de janeiro de 2009 e, até dezembro de 2012, as duas normas ortográficas (a que está em vigor e a prevista pelo acordo) poderão ser usadas e aceitas como corretas nos exames escolares, vestibulares e concursos públicos, por exemplo. Nos livros didáticos, as novas regras só serão implementadas em 2010, quando todos deverão ser editados de acordo com o regimento da nova ortografia, com exceção de reposições e complementações de programas em curso.
Segundo informações divulgadas pelo Governo Federal, pelo Acordo Ortográfico estão previstas 20 bases de mudança na Língua Portuguesa, tais como o fim do trema, a supressão de consoantes mudas, novas regras para o uso do hífen, a volta das letras “w”, “k” e “y” ao alfabeto e o fim do acento agudo em palavras como “idéia” e “assembléia”.
O Governo brasileiro espera que a reforma contribua com a ampliação da cooperação internacional entre os países de Língua Portuguesa, a partir do estabelecimento de uma grafia oficial única. Há também a expectativa de que a medida facilite o processo de intercâmbio cultural e científico e a divulgação da literatura escrita no idioma.
Vida
Na abertura da solenidade, o Presidente da ABL enalteceu o trabalho dos filólogos Antônio Houaiss, Austregésilo de Athayde e Evanildo Bechara e disse que a assinatura do Acordo Ortográfico era “um momento histórico para a Academia”.
O orador oficial do ato foi Eduardo Portella, que, ao se referir à celebração do centenário da morte de Machado de Assis, ressaltou:
— Estamos aqui, diante deste auditório tão qualificado quanto diversificado, para falar da vida. Da resistência da vida frente à história e suas maquinações sucessivas. Não vamos nos ocupar da morte de Joaquim Maria Machado de Assis, que agora completa cem anos. Até porque ela tem sido uma morte cheia de vida. O que caracteriza basicamente o autor de “Dom Casmurro” é ter construído um conjunto de obra em movimento.
Portella disse ainda que, ao contrário de alguns críticos literários, o que mais o atrai na vida do escritor é a sua obra:
— Não me interessam as divagações sobre a origem, o currículo escolar, a etnia, a saúde de Machado. Os deuses, os mágicos, os fantasmas, os iluminados, os bruxos dispensam essas desnecessárias classificações. O autor de “Memórias póstumas de Brás Cubas” recorreu à morte como espaço de liberdade, imune às pressões e às trapaças do cotidiano. Brás Cubas sabe do que fala, e fala livremente após a morte.
Medalha
Antes de iniciar seu discurso, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condecorado pelo ex-Presidente José Sarney com a Medalha Comemorativa do Centenário de Machado de Assis. Em seguida, falou sobre o Acordo Ortográfico e a celebração do centenário do patrono da Academia, ressaltando o trabalho que a entidade faz “pela difusão da Língua e da cultura do País”.
Depois de saudar os membros da ABL e os seus convidados, o Presidente Lula disse que se sentia feliz por estar retornando ao local para um evento de grande importância para o Brasil e todos os países de Língua Portuguesa:
— É com grande alegria que visito novamente esta Casa e o faço, antes de mais nada, para testemunhar a sua importância como instituição que reconhece e consagra o talento literário e artístico brasileiro. A Academia encarna a gratidão do País a todos aqueles que, no exercício da imaginação e da reflexão criadora, alimentam a inteligência nacional. Mas o faço também para manifestar o meu apreço pelo inestimável trabalho que a ABL realiza pela cultura e difusão da Língua.
Em seguida, o Presidente Lula falou sobre a importância da celebração do Acordo:
— Ele vem coroar o competente e dedicado labor de lingüistas, filólogos e gramáticos de todos os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e tem uma importância muito maior do que aparenta à primeira vista. Por isso, deve ser explicado aos cidadãos brasileiros e àqueles de todos os demais membros da CPLP.
O Presidente destacou também o intercâmbio que o Brasil vem mantendo com os países da África — principalmente aqueles onde o idioma oficial é o Português:
— Esse intercâmbio representa muito mais do que uma questão geopolítica, porque é o encontro do Brasil com suas raízes, é o encontro do Brasil consigo mesmo.