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Livro discute as relações do Poder com a mídia


09/12/2009


“Uma permissão para que estas análises ampliem o universo de seus leitores.” Esta é uma das principais expectativas da doutora em História Social do Trabalho Beatriz Kushnir, organizadora da coletânea “Maços na gaveta: reflexões sobre mídia”, livro lançado na Bienal de 2009, em setembro, no Rio de Janeiro. Com 15 estudos realizados por historiadores, cientistas sociais, jornalistas e literatos, os textos fazem diversos questionamentos sobre o bloqueio dos acessos aos arquivos, as relações do poder no “universo de conivências” das redações, rádios e TVs e a questão da ética, levando uma reflexão sobre a sociedade e os veículos de comunicação.

“Maços na gaveta” (Editora da UFF, 308p., R$ 34,00) aborda ainda questões como o acesso à informação; a censura, a atuação de intelectuais “(jornalistas/homens de jornal), engajados politicamente à esquerda e/ou a serviço do Estado, seus itinerários e vínculos políticos”, a constituição das esferas públicas e a função da imprensa versus o processo de cidadania republicana. Também alerta para os percursos dos meios de comunicação e dos conglomerados de informação e a percepção da imprensa como empresa privada que vende um serviço de utilidade pública.

A idéia da obra partiu do professor Norberto Osvaldo Ferreras, segundo a própria organizadora, que a desafiou a reunir análises sobre censura e imprensa. Ela já havia constatado inúmeras reflexões sobre o assunto que não chegavam ao público leitor. Portanto, era preciso retirar esses “maços da gaveta”.

O material reunido surgiu nos encontros nacionais e regionais do Seminário Temático “História e Comunicação: mídias, intelectuais e participação política”, realizados em vários estados a partir de 2003 pela Associação Nacional de História (ANPUH). Segundo Beatriz Kushnir, a EdUFF havia lançado um edital propondo o lançamento de uma obra sobre o assunto e ela resolveu participar, convidando os pesquisadores com trabalhos já prontos e apresentados nos seminários.

– Tivemos cerca de 20 dias para receber e escolher os trabalhos. Ao saber do resultado do edital, tivemos uns oito meses de preparação dos originais – explica a pesquisadora.

O livro pode ser encontrado em livrarias, no site da Editora da Universidade Federal Fluminense www.editora.uff.br ou pelo e-mail comunicação@editora.uff.br  

ARTIGOS 

O texto que abre o livro, do historiador Aldrin Moura de Figueiredo, entra na relação entre a produção artística, as malhas político-administrativas, a imprensa e a censura em Belém (PA) na virada do século XIX para o XX. Utilizando-se das trajetórias de pintores paraenses e de outros estados, ele mostra como conformou um mercado de pinturas com galerias, sob incentivo governamental, e, com isso, uma crítica especializada que pretendeu ditar os traços estéticos por meio da imprensa local.

A mestre em História Regma Maria dos Santos destaca a utilização política de rádios e jornais na cidade de Uberlândia (MG), entre 1958 e 1963. De acordo com ela, vários candidatos às eleições naquele período se utilizaram ou criaram veículos de imprensa para impulsionar suas candidaturas, observando o caso das eleições minicipais em 1958.

O cientista social Áureo Busetto mostra a relação da ditadura militar em 1964 com a televisão, resultando no fechamento da TV Excelsior, em 1970, e quatro anos depois o dono da emisssora, Wallace Simonsen Neto, ser denunciado pelo Ministério Público por crime falimentar. O governo golpista já havia dado dois duros golpes nas finanças da família Simonsen, ao cassar as linhas aéreas da Panair e a proibição da Companhia Paulista de Comércio de Café de fazer exportações, criando barreiras econômico-financeiras àqueles que não desejavam manter seus negócios à sombra da política oficial.

Giordano Bruno Reis dos Santos, estudante de História, discorre sobre a mesma temática, mas analisando a relação sob o prisma da TV Globo. Ele cruza em um labirinto de espelhos as trajetórias do então articulador da emissora, Walter Clark, que criou o “Padrão Globo de Qualidade”, e de intelectuais de esquerda contratados pela emissora, como Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha, criador de casos especiais e de “A grande família”.

“Os idos de março e a queda em abril”, coletânea organizada pelo jornalista Alberto Dines, editada em maio de 1964, é a fonte de análise do mestre em História João Amado. O texto mostra como os oito jornalistas que escreveram os artigos eram favoráveis ao golpe militar e à deposição do Presidente João Goulart. Segundo o pesquisador, alguns dos jornalistas não incluem a participação no livro em suas biografias completas.

A mestre em História Sandra Alves Horta faz uma análise do que se chamou nas décadas de 1960 a 1980 de Imprensa Alternativa e Cultura Popular, cujos artistas, intelectuais, jornalistas, chegaram à conclusão de que “não representavam uma cultura alternativa à cultura dominante, mas uma cultura de resistência à opressão de qualquer natureza.

O doutor Norberto Osvaldo Ferreras discorre sobre o golpe na Argentina, em 1976. Segundo ele, “poucos setores da sociedade contribuíram tanto para que os militares permanecessem no poder quanto a imprensa. A graduanda Marina Maria de Lima Rocha também usa o país vizinho como tema, mostrando os comunicados publicados nos periódicos argentinos entre 1975 e 1976.

O artigo do jornalista Roberto Elísio dos Santos usa como tema as histórias em quadrinhos, “que teria como objetivo principal entreter e divertir”, e seu uso foi como “veículo de transmissão e persuasão de valores e idéias políticas”. Em “O papel da imprensa por ela mesma: golpe, ditadura e transição em jornais e revistas brasileiros, entre 1984 e 2004”, a também jornalista em mestre em História Flavia Biroli analisa os discursos na ditadura pelas reposáveis dos impressos mais importantes do país.

A jornalista Mônica Carvalho verifica a inserção do “intelectual-jornalista” no jornalismo, focando a participação de intelectuais nos meios de comunicação. A coordenadora do trabalho destaca a questão premente que evolve a legislação e o acesso aos arquivos da “História do Tempo Presente”, a censura ao acesso e a “ausência de um debate sobre esss interdito”. O doutor em História Social Francisco Fonseca destaca “as características essenciais da mídia contemporânea e suas conseqüências sociais”, debatendo a relação entre as esferas púbicas e privadas.

Mayra Rodrigues Gomes, doutora em Ciências da Comunicação analisa o papel da produção jornalística, suas pautas e polêmicas sensacionalistas. Por fim, o mestrando em História Élson Lima aponta as delicadas relações entre as esferas pública do Estado e a privada das empresas de imprensa, a partir do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, no Estados Unidos.