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Jornalista cobra isenção da imprensa


04/09/2009


A imprensa brasileira não cobre com isenção ou simplesmente não noticia acontecimentos importantes da vida mundial, cobra o jornalista Rogério Marques Gomes, Vice-Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e Conselheiro da ABI, que cita a respeito vários episódios: a libertação das jornalistas americanas presas na Coréia do Norte, a prisão nos Estados Unidos, há 11 anos, de cinco cidadãos cubanos e, por fim, as mentiras do Presidente George W. Bush para justificar a invasão do Iraque.
 
Em artigo sob o título Há cubanos presos nos EUA. Você sabia? na revista Lide, editada pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro (número 56, ano 12, janeiro-junho de 2009, página 30), e que não foi publicado na íntegra por falta de espaço, diz Rogério Marques:
 “Nossa imprensa divulgou com destaque, há pouco tempo, a prisão e condenação de duas jornalistas americanas de origem oriental, na Coréia do Norte, acusadas de espionagem. Euna Lee e Laura Ling pegaram 12 anos de prisão. Tomara que sejam libertadas o quanto antes. Mas será que os brasileiros sabem, também, que há 11 anos cinco cidadãos cubanos estão presos nos Estados Unidos, em condições duríssimas, condenados num julgamento que sempre foi questionado por juristas de diversos países? Sabia você que existe uma campanha internacional pela libertação desses cinco cubanos? E que em março último 10 Prêmios Nobel do mundo inteiro pediram à Suprema Corte americana a libertação do grupo — um fato inédito na história dos Estados Unidos, que poucos jornais divulgaram aqui no Brasil? 
Garanto que a maioria dos leitores e até mesmo muitos jornalistas ignoram este fato por um único motivo: nossos jornais vivem hoje uma situação anacrônica, ainda mergulhados no espírito da guerra fria. Dependendo do país em foco, as notícias ganham espaço e interpretações diferentes. Ao contrário das americanas Euna Lee e Laura Ling, que tiveram suas fotos divulgadas em todos os jornais, os cinco cubanos encarcerados há 11 anos não têm rosto, profissão, nem mesmo nomes. As poucas notas que citam o acontecimento falam vagamente de “cinco cubanos”. E a maioria dessas notas dá apenas a versão norte-americana para o caso — segundo a qual eles faziam espionagem e preparavam atos terroristas.
Antonio Guerrero, engenheiro civil, Fernando González, Gerardo Hernández, licenciados em relações internacionais, Ramón Labañino, economista, e René González, técnico de aviação foram presos em Miami em 1998. O Governo de Cuba afirma que os cinco estavam investigando a ação de grupos terroristas anticubanos. Existem fatos que sustentam esta versão. Esses grupos nunca deixaram de agir. Em 1976 derrubaram um avião da empresa Cubana de Aviación, matando 73 pessoas. Em 1997, apenas um ano antes da prisão dos cinco, terroristas mataram uma pessoa e feriram 12 num hotel em Cuba. Em um julgamento considerado político e cheio de irregularidades, os cinco cubanos foram condenados a penas altíssimas — Gerardo e Antonio pegaram prisão perpétua.
Nos últimos anos vem crescendo, no mundo inteiro, uma campanha pela libertação do grupo. Dezenas de juristas, artistas, políticos, intelectuais já manifestaram apoio à campanha, que ganhou mais força no dia seis de março último com a adesão dos 10 ganhadores de Prêmios Nobel: o escritor alemão Günter Grass; o dramaturgo e compositor italiano Dario Fo; o físico russo Zhores Alferov; o Presidente do Timor Leste José Ramos-Horta; o argentino Adolfo Pérez Esquivel; a guatemalteca Rigoberta Menchú; a escritora sul-africana Nadine Gordimer; a irlandesa Mairead Corrigan-Maguire; o escritor português José Saramago; e o escritor nigeriano Wole Soyinka. 
O caso dos cinco cubanos está longe de ser o único exemplo da falta de isenção e independência da imprensa brasileira. Outro episódio gritante foi a invasão e destruição do Iraque pela chamada Coalizão, liderada pelos Estados Unidos, em 2003. Um massacre. Mas as notícias sobre a invasão eram dadas com sobriedade, sem adjetivos, pela nossa imprensa. Passava-se a idéia de que países democráticos e civilizados estavam cumprindo uma nobre missão. 
Mais tarde descobriu-se que a razão alegada para a invasão era uma mentira. O Iraque  não tinha armas de destruição em massa. E por que nossa imprensa não divulga que grupos de defesa dos direitos humanos no mundo inteiro, inclusive nos Estados Unidos, querem que Bush seja julgado pelos crimes de guerra que cometeu no Iraque e no campo de concentração de Guantánamo? Será que somente o dirigente do Sudão, Omar al-Bashir, é um criminoso de guerra? 
Em vez de serem julgados por seus crimes, e contando com o silêncio da mídia, George W. Bush faz palestras em universidades americanas e seu vice Dick Cheney ainda hoje defende a tortura em prisioneiros em Guantánamo. Enquanto isso, quem está preso é o jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi. Seu crime: atirar sapatos no criminoso de guerra que destruiu e ainda ousou visitar o Iraque. Entre os casos de al-Zaidi e dos cinco cubanos encarcerados há 11 anos nos Estados Unidos existem portas. A imprensa tem o dever de abri-las.”