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Ivan, o Terrível


19/02/2025


A história da imprensa negra no Brasil remonta a 1833, com o lançamento do jornal quinzenal O Mulato, ou O Homem de Côr, criado na Tipografia Fluminense, do editor Francisco de Paula Brito, que funcionava na Praça da Constituição 21, hoje Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. Esse marco inicial deu voz às demandas e reflexões da população negra em um período de escravidão e exclusão social, inaugurando uma tradição de resistência e luta por direitos que se mantém viva até hoje.

Com o Projeto Vozes Eternas, a Diretoria de Igualdade Étnico-Racial da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) resgata essa rica trajetória, destacando personagens que não podem ser esquecidos, como Luís Gama, Antonieta de Barros, Gustavo de Lacerda, Abdias Nascimento, Carlos Alberto Caó e muitos outros.

Na estreia, em setembro do ano passado, Vozes Eternas destacou o protagonismo do jornalista Olympio Marques na luta contra o racismo, em matéria produzida e assinada pelo jornalista Rogério Marques, Conselheiro da ABI. – https://www.abi.org.br/olympio-uma-vida-de-lutas-contra-o-racismo-e-todo-tipo-de-injusticas/.

Agora, chegou a vez de lembrar o jornalista Ivan Costa – sócio da ABI falecido no dia 25 de novembro de 2005 –, com base nos relatos de amigos, parentes e colegas de redação. São depoimentos que revelam a personalidade fascinante de um profissional de origem humilde que se inseriu no meio jornalístico – e em todos os campos em que atuou – com leveza e graça, com pontuações inteligentes e engraçadas na sua forma de viver e apreciar a vida. Na quinta-feira (20), às 19h30, no canal ABITV no Youtube.

Atuante em veículos como Jornal do Brasil, TV Globo, Tribuna de Niterói e nas Assessorias de Imprensa do Ministério dos Transportes, da Previdência Social, da Secretaria Estadual de Obras e da Riotur, Ivan, o Terrível, ganhou esse apelido dos colegas que o acompanharam tanto nas jornadas de trabalho como nas múltiplas passagens pelos botequins, onde o bom humor predominava nas infindas cervejas geladas em noites que pareciam não ter fim.

Nascido em Niterói, onde se formou em Direito pela Universidade Federal Fluminense, tinha outro grande talento, o de contador de histórias. Ninguém nunca checou a veracidade das histórias, ria-se das narrativas engraçadas que ele compunha com muito jeito, envolvendo os que o acompanhavam numa aura de alegria permanente.

Ivan Costa nasceu em Niterói, em 1934. Era filho do funcionário público Conceição Bernardo da Costa e da dona de casa Catharina Maria da Costa. Tinha três irmãos: Ilain, Izanir e Irly. Teve dois filhos, frutos do casamento com a turismóloga Leda: Gustavo e Gisela, mãe de sua neta Maria Júlia.

Depois de passar por um escritório de contabilidade, em 1970 Ivan aproveitou a oportunidade de escrever para jornal e foi dar expediente no jornal A Tribuna, de Niterói, comandado pelo jornalista Jourdan Amora. Foram cinco anos de labuta que lhe garantiram a concessão, pelo Ministério do Trabalho, do Registro Profissional.

“Como pai, Ivan era maravilhoso. Não sabia dizer não para os filhos. Tinha muita dificuldade em lidar com as emoções por conta da criação rígida dos seus pais e de sua infância difícil. Como marido, sempre foi um homem responsável e cumpridor de seus deveres. No dia a dia, era brincalhão, amoroso, sempre zelando pelos seus. Ensinou seus filhos a importância de ser honesto, ter responsabilidade e respeito ao próximo”, lembrou Leda.

Uma das maiores emoções da vida do Ivan foi a homenagem que recebeu ao ser enredo do Bloco Carnavalesco Segundo Clichê, que desfilou pelas ruas do Centro de Niterói. O refrão do samba, assinado por um grupo de amigos, entre eles Cilea da Matta, Fernando Paulino Paduana, Arthur Costa, Mário Dias e Sergio Soares, revelava:

E a mulherada delira, Ivan!

O nosso bloco inteiro é seu fã

Ele é terrível, é o maioral

O biriteiro que comanda o carnaval.

A pescaria era outro hobby desse jornalista que não sabia sequer arremessar uma rede ou colocar isca no anzol. Os pescadores da colônia Z-7, em Itaipu, Niterói, logo se acostumaram com as suas histórias um tanto quanto delirantes, como a do seu mergulho, sem cilindro de oxigênio, até a conhecida lage submersa frequentada apenas por mergulhadores experientes. Ivan era convincente e os seus “causos”, sempre acompanhados de muitas risadas, eram “assimilados” como verdadeiros. Tanto era o seu fascínio por aquele pedacinho de mar que sua família decidiu jogar suas cinzas nas águas profundas da Praia de Itaipu.

Um outro fato na rotina do Ivan é que, aos domingos, ele gostava de frequentar com a família a feira livre de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com parada obrigatória no boteco Rei da Cabeça de Porco. Além disso gostava de lamber uma cachaça cortida com cabeça de alho. O problema era que as vezes não dava tempo do alho “saborizar”. E, claro, sempre acompanhada de gargalhadas e muitas cervejas geladas.

Esse Ivan bom de copo e também de samba foi um apaixonado pela música erudita e pelo Botafogo de Futebol e Regatas. Com a bandeira da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel (outra de suas grandes paixões) sobre o caixão, o boné e a camisa do Botafogo fizeram sua última viagem nessa grande aventura humana descrita por seus amigos aqui nestas páginas.

Histórias como esta são fundamentais para preencher as lacunas sobre quem fez e quem faz a história da imprensa negra no Brasil, reafirmando o papel transformador desses profissionais na construção de uma sociedade mais justa e plural.

Para contar um pouco mais da história do advogado e jornalista Ivan Costa, a diretoria de Igualdade Étnico-Racial da Associação Brasileira de Imprensa reuniu alguns de seus amigos de juventude, de redação e de balcão de botequim que descrevem nos links em anexo, momentos marcantes dessa relação. Acompanhe nos links abaixo as histórias contadas pelos jornalistas João Luiz Farias Neto, Orivaldo Perin, Romildo Guerrante e Solange Duart.

  • Pequeno memorial do ótimo repórter (João Luiz Farias Neto)

http://www.abi.org.br/wp-content/uploads/2025/02/Pequeno-Memorial-do-Ótimo-Reporter.pdf

  • Ivan Costa não tem reposição (Orivaldo Perin)

http://www.abi.org.br/wp-content/uploads/2025/02/Perin-Ivan-Costa-nao-tem-reposicao.pdf

  • Ivan Costa: lealdade, alegria e gentileza em sua essência (Romildo Guerrante)

http://www.abi.org.br/wp-content/uploads/2025/02/Ivan-Costa-texto-ABI-modificado-com-titulo.pdf

  • Ivan, o Terrível! (Solange Duart)

http://www.abi.org.br/wp-content/uploads/2025/02/Ivan-o-Terrivel-SOLANGE-DUART.pdf