19/12/2008
Osvaldo põe gemada no copo de Zezinho |
O inesquecível título de campeão carioca de 1948 conquistado pelo Botafogo de Futebol e Regatas teve um responsável: Carlos Martins da Rocha, o conhecido Carlito Rocha.
Eleito em 12 de dezembro de 1947, Carlito Rocha tomou posse em 2 de janeiro de 1949. Foram muitas as críticas no início de sua gestão. No dia em que o Botafogo perdeu para o São Cristóvão por 4 a 0 e o time foi vaiado, Carlito, após o jogo, manteve a serenidade e, confiante, declarou: “São uns bobos, não entendem nada de futebol. Ainda nem sabem que vamos ser campeões! Temos time para não perder mais nenhuma partida. Essa derrota só pode ser explicada por esses acasos do futebol. Os rapazes estão bem preparados, correndo bem, com resistência e fôlego! Jogamos com azar, mas, se Deus quiser, ainda ganharemos o campeonato.”
Assim aconteceu, exatamente, um ano depois de ele ser eleito. No dia 12 de dezembro de 1948, o Botafogo venceu o Vasco, em General Severiano, sagrando-se campeão carioca.
Carlito Rocha teve a coragem de manter os seus pontos de vista, convicto de que suas atitudes eram sempre para o bem do Botafogo. Deixou o consagrado técnico uruguaio Ondino Viera ir para o Fluminense e promoveu Zezé Moreira, ex-jogador e formado pela Escola Nacional de Educação Física, que nunca dirigira uma equipe principal.
Vendeu ao Boca Juniors Heleno de Freitas, maior ídolo da torcida, e comprou o passe de Pirilo, jogador tido como acabado no Flamengo. Dispensou os pontas Rogério e Teixeirinha. Cedeu para o São Paulo Ponce de Leon e Santo Cristo. Em contrapartida, sensibilizou-se com o futebol do novato Nilton Santos; contratou Rubinho; recuperou Pirilo, Ávila, ex-Internacional de Porto Alegre, e Braguinha; levou o Dr. Paes Barreto para o Departamento Médico; e oficializou a presença do cachorro Biriba como mascote do time. Supersticioso, carro em que ele estivesse não dava marcha a ré; e mandava dar nós nas cortinas para amarrar os adversários.
Carlito Rocha não se importava com as piadas sobre as gemadas e as laranjas com açúcar que dava aos jogadores. Dizia: “Deixem que eles achem graça, porque eu ficarei com o campeonato.” Como grande líder, Carlito fez os jogadores acreditarem em Deus e nele. Era o protetor, o conselheiro, o confidente e o pai ao mesmo tempo severo e carinhoso. Infundia coragem, força moral, convicção e resistência atlética ao elenco.
A gemada era o símbolo do preparador físico da equipe. Carlito dava gemada na boca de cada jogador. A gemada era um rito. Carlito Rocha fiscalizava pessoalmente a alimentação de cada jogador. Sua gemada foi um símbolo de tudo que o Botafogo fez pelos seus jogadores.
Não eram, apenas, as cores preto e branco que faziam de Biriba o mascote do time. O cachorro, que só comia filé mignon e também tomava a sua gemada, tinha algo mais. Quando entrava em campo, apresentava um ímpeto, uma alegria refletida na disposição dos jogadores. Carlito cuidava pessoalmente do Biriba.
A maioria dos torcedores alvinegros não acompanhou a emocionante caminhada até o título de campeão carioca de 1948. Tenham a certeza de que foi uma das maiores conquistas da gloriosa história do Botafogo. Fiquem certos, também, de que nunca existiu um botafoguense como Carlito Rocha.