17/11/2008
Prefaciado por João Máximo, “Aconteceu na Manchete — As histórias que ninguém contou” resgata, nas palavras do jornalista, “histórias curiosas por trás dos fatos que as páginas das revistas estampavam e relatos dos bastidores de grandes coberturas. Uma ampla visão interna do modo de se fazer revistas que marcaram a história do jornalismo no País”.
Lançada em 1952, com inspiração na francesa Paris Match, a Manchete deixou em seus arquivos um dos mais importantes documentos iconográficos dos últimos 50 anos do século passado, ao registrar os principais acontecimentos no Brasil e no mundo. O arquiteto Oscar Niemeyer, idealizador do edifício-sede da Bloch Editores, destaca no primeiro capítulo a importância de seu fundador para o jornalismo brasileiro:
“(…) Meu contato mais longo com Adolpho Bloch foi durante a construção do prédio da Manchete, cujo projeto me confiou. Durante anos usufruí os encontros diários com aquele bom amigo (…). Bloch era, na verdade, pessoa generosa, simples, muito diferente do que sua aparência nas reuniões da grã-finagem poderia sugerir. Ah, velho Bloch, como lembro com satisfação o tempo em que nosso amigo Marcos ia todo mês à sua tipografia receber a ajuda para o PCB, que a solidariedade política justificava.”
No capítulo seguinte, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy descreve seu relacionamento com o empresário e a relevância da publicação:
“Minha amizade com Adolpho e a Manchete veio por meio de Justino Martins, que conheci em Paris, ainda nos anos 50, quando fazia a pós-graduação em um hospital em Nanterre. (…) Ele era mais velho do que eu, mas nos tornamos muito próximos, e a amizade continuou quando voltei ao Brasil. (…) A Manchete, em seu tempo, não ficou nada a dever às melhores revistas internacionais. Ela representou e ainda representa um momento importante da História de nosso País, momento de muita qualidade, que ela acompanhou e estimulou.”
Santo guerreiro
José Esmeraldo Gonçalves e J.A. Barros, organizadores do livro, contam que a Manchete chegou às bancas em 26 de abril de 1952, na semana em que se comemorava o dia de São Jorge, e que a publicação precisava realmente “da lança e do escudo do santo guerreiro para enfrentar O Cruzeiro, dragão e potência do jornalismo da época, que então rodava 400 mil exemplares”.
O primeiro número da revista trouxe 40 páginas, quatro anúncios e tiragem que não ultrapassava 30 mil exemplares distribuídos no Rio e em São Paulo. Contudo, ao longo de quase meio século, a publicação se tornou uma das mais importantes do Brasil e viabilizou a expansão da empresa, que figurou entre as maiores do setor da comunicação, com a criação de emissoras de rádio e TV. Após 2.519 edições, o último exemplar da Manchete chegou às bancas em 29 de julho de 2000.
Igualmente históricos são os depoimentos dos demais jornalistas que revelam com ineditismo os bastidores da redação e das grandes reportagens que estamparam as páginas da revista. O projeto editorial do livro inclui notas nas laterais das páginas, com breves comentários sobre algumas das mais notórias matérias que retrataram, entre outros episódios, a construção e a inauguração de Brasília, o exílio do Presidente João Goulart, o assassinato de John Lennon e a queda do Muro de Berlim.
Alegria e drama
No capítulo “Por dentro da redação”, Carlos Heitor Cony recorda os momentos de alegria e drama ao longo dos 30 anos de atuação na revista:
“Foi na Manchete que fiz e conservei alguns dos amigos mais queridos. Por ocasião da falência do grupo, eu dava apenas uma assistência não mais às revistas, mas à Diretoria. Sofri com Adolpho o trauma das tentativas de venda da TV a outros grupos, convidei gente de fora para dirigir a revista principal, mas os grandes nomes que contatei recusavam convite quando tomavam conhecimento das dificuldades que a empresa atravessava.”
Os célebres colaboradores da Manchete são lembrados pelo jornalista José Rodolpho Câmara no capítulo “A janela do Russel”, com destaque para Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Orígenes Lessa, Otto Maria Carpeaux, Antonio Callado, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino.
Lincoln Martins encerra o livro com “A edição que ninguém leu”, discorrendo sobre os últimos dias da revista, quase uma década após o fim da Bloch Editores.