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Grupo Folha e violações de direitos na ditadura


19/03/2025


“Alguns acontecimentos históricos são da ordem do incontornável, daquilo que não se pode esquecer”, assim a jornalista Marialva Barbosa apresenta o livro A serviço da repressão: Grupo Folha e violações de direitos na ditadura, que será lançado dia 27 de março, na Livraria Expressão Popular – Armazém do Campo (Alameda Nothmann, 806, Campos Elíseos), em São Paulo, das 18 às 20 horas.

O lançamento, organizado pelo IIEP – Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas, com o apoio da ABI, FENAJ e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, será um Ato Público por Reparação.

Fruto de uma pesquisa historiográfica baseada em fontes documentais e depoimentos de testemunhas, a obra revela a participação de empresas do Grupo Folha durante a ditadura empresarial-militar.

Ao longo de 244 páginas, divididas em quatro seções, o livro aborda temas como o apoio do Grupo Folha ao regime e a repressão, a participação de militares e policiais na estrutura da empresa, trabalhadores presos, perseguidos ou demitidos ilegalmente, dentre outros crimes que se somam às inúmeras violações de direitos durante um dos períodos mais sombrios da história do Brasil.

A obra investiga a participação das empresas Lithographica Ypiranga, TV Excelsior, Fundação Cásper Líbero, TV Gazeta e os jornais Ultima Hora, Notícias Populares, Agência Folha, Cidade de Santos, Folha da Tarde e Folha de S.Paulo. Apresenta a perspectiva da Folha para além de um jornal, mas como um grupo empresarial econômico que se beneficiou e lucrou com o regime militar, e de como a partir dessa relação se estabeleceu como um grande conglomerado de imprensa e comunicação até os dias de hoje.

O livro é resultado da pesquisa e escrita de seis autores: da jornalista e historiadora Ana Paula Goulart Ribeiro; da historiadora Amanda Romanelli; do historiador André Bonsanto; da jornalista Flora Daemon; da jornalista Joëlle Rouchou; e do historiador Lucas Pedretti.

“O livro se estrutura a partir de um debate mais amplo sobre a ditadura e a necessidade de incorporar nas análises as investigações sobre a dimensão empresarial deste período. Acho que isso tem a ver com uma mudança historiográfica e política mais ampla nos últimos anos, que tem colocado a importância da gente falar da ditadura a partir de vários recortes, ou seja, de raça, classe, gênero, território, etnia e, nesse caso, da dimensão empresarial e econômica. Ou seja, parar de pensar a ditadura apenas do ponto de vista das violações individuais de direitos humanos, que são importantes, mas pensar também do ponto de vista de um projeto econômico social que se impõe à força e que produz benefícios para uma minoria privilegiada”, detalha Lucas Pedretti.

De forma inédita, a obra traz à tona o depoimento de um agente da repressão que atuou no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo. Ele confirma a participação do Grupo Folha no empréstimo de carros para ações de repressão que teriam resultado no desaparecimento forçado de opositores do regime.

Para Rosa Cardoso, ex-coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, “este livro contesta as ‘falas de si’ que a Folha de S.Paulo faz sobre sua interação com o golpe e a ditadura de 1964. A advogada e professora universitária, que escreve a nota introdutória da obra, define o relacionamento da Folha com a ditadura como “intenso, amplo, duradouro, proativo e destrutivo de muitas vidas”.

A serviço da repressão pode ser definido tanto como uma ferramenta de preservação da memória quanto um instrumento de denúncia sobre os crimes cometidos nesse período.