21/08/2007
Rodrigo Caixeta
24/08/2007
A escola infantil de artes que tinha em Salvador e a faculdade de Letras foram deixadas de lado quando Holanda Cavalcanti se deu conta de que a fotografia era o seu caminho. Estreou na imprensa em 1988, na Tribuna da Bahia, onde, além de fotografar, assinava uma coluna dominical sobre a profissão que a consagrou. Dali em diante, não parou mais. Transferiu-se para um jornal experimental chamado Folha Sete, depois foi para o Jornal da Bahia, mudou-se para Florianópolis, onde foi editora e fotógrafa da revista Expressão, arrumou as malas e partiu em direção ao Rio de Janeiro, para editar o Relatório Anual da Odebrecht e fazer frilas para a Editora Abril, a Folha de S.Paulo, o jornal Village Voice, de Nova York, e publicações institucionais de Furnas, Unimed paulistana e Abimaq, até desembarcar em São Paulo, onde edita a Odebrecht Informa.
Agora, a repórter-fotográfica se prepara para o lançamento, em setembro, do livro “Ê, povo, ê”, com fotos feitas no Brasil e em Angola:
— Esse trabalho começou em 1989, quando registrei imagens da cultura negra em Salvador. Dois anos depois, fiz uma exposição na galeria Fotótica, em São Paulo, com o nome “Ê, povo, ê” e texto do (Ministro Gilberto) Gil. Em 1996, comecei a ir a Angola, a serviço da Odebrecht, e percebi a semelhança entre os dois povos.
Como fotojornalista, Holanda teve a oportunidade de viajar bastante. Pela revista Expressão, conheceu o Sul do Brasil todo. E, pela Odebrecht, visitou países como Angola, Colômbia, Peru e República Dominicana:
— Graças a essas viagens, tive a chance de fotografar diversas culturas. Além disso, é fascinante ver uma obra de engenharia começando e acompanhá-la durante todo o seu processo. Em Angola, estou podendo acompanhar a reconstrução de uma nação e de um povo cheio de esperanças — orgulha-se.
Holanda enumera as habilidades que um profissional de fotografia deve ter:
— Em primeiro lugar, é preciso ter um bom olho. Depois, saber controlar seu tempo, ser criativo, paciente, autoconfiante, automotivado e detalhista e deixar o fotografado à vontade. E o principal: aceitar críticas — recomenda a fotógrafa, que, em sua primeira pauta, na Tribuna da Bahia, cobriu um assalto a banco e foi surpreendida com a publicação de sua cobertura na capa do jornal.
Ousadia
A ousadia também marca o trabalho de Holanda. Em uma cobertura recente no Peru, foi avisada de que mulher não podia entrar em túnel antes que ele ficasse pronto, e, portanto, não poderia fotografar a obra — “ainda assim entrei e fiz as fotos”, confessa. Durante uma visita do bispo anglicano sul-africano Desmond Tutu a Salvador, também deu seu jeito:
— Toda a imprensa brasileira estava presente e eu precisava ter uma foto exclusiva, que estava muito difícil de conseguir. Quando ele foi descansar depois do almoço, convenci os seguranças a me deixar entrar na área reservada para beber água, onde o vi sem sapatos e bebendo água. Fiz um clique e minha foto foi capa do Jornal da Bahia, além de ter sido vendida para outros veículos. Adoro quando dizem que vai ser difícil fotografar.
Mas ela também reconhece que quase foi pega numa armadilha durante uma cobertura em Angola:
— Estava em Saurino, fotografando uma feira, quando três policiais pediram que eu tirasse uma foto deles. Logo depois que fiz a foto, eles quiseram me prender e tomar o equipamento. Como o país vivia uma guerra — e era proibido fotografar lá —, tive muito medo. Agarrei meu equipamento, segurei-me no carro e não deixei que me levassem. Só consegui sair daquela situação depois de muita negociação e muita conversa.
Segundo Holanda, muitos jovens fotógrafos têm despontado no fotojornalismo brasileiro. Ela diz que seu mestre foi Pierre Verger — “suas fotos têm alma; da simplicidade do cotidiano do negro, ele extrai a ternura, a beleza e a cultura do povo”, afirma. E recomenda àqueles que sentem vontade de enveredar pela profissão:
— Os candidatos a uma vaga neste mercado devem procurar assistir a muitos filmes, ler sobre fotografia, ver exposições e fotografar bastante. Ler o manual da câmera é chato, mas fundamental, assim como conhecer lentes e filmes e os diferentes efeitos que produzem, saber controlar luz artificial e natural e usar programas de editoração de imagens. Porém, dominar a técnica é pouco. Fotógrafo precisa ter cultura.
Entre os planos mais imediatos da fotógrafa está um documentário sobre os angolanos que estão retornando ao país depois da guerra. E também continuar fotografando a cultura afro, dentro e fora do Brasil:
— Para resumir esse trabalho, cito uma frase de Cartier-Bresson: “As coisas das quais nos ocupamos, na fotografia, estão em constante desaparecimento, e, uma vez desaparecidas, não dispomos de qualquer recurso capaz de fazê-las retornar. Não podemos revelar e copiar uma lembrança.”
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