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Fim do jejum alvinegro


10/07/2009


Mazolinha e Paulinho Criciúma vibram após a vitória por 1 a 0 sobre o Flamengo que deu ao Botafogo o título estadual de 1989. Aparece na foto o companheiro, brilhante repórter e grande botafoguense Waldir Luís.

Os campeonatos estaduais e brasileiros se sucediam e nada de títulos. Em 1987, Alemão, a estrela do time, teve seu passe negociado com o Atlético de Madri. No mesmo ano, Emil inheiro assumiu o futebol do Botafogo e iniciou a formação de uma nova equipe. 

No início do ano seguinte, foram contratados Mauro Galvão, Marinho e Paulinho Criciúma, todos do Bangu. Chegaram também os zagueiros Wilson Gottardo e Wagner “Bacharel”, os goleiros Ricardo Cruz, Jorge Lourenço e o uruguaio Alvez; Vitor, o ex-tricolor Delei, Renato, Berg, Carlos Alberto Santos, Mazolinha, Maurício, Cláudio Adão e Eder. 

Com a dispensa de Zé Carlos, ex-meio-campo do Cruzeiro e do próprio Botafogo, do cargo de treinador, substituído pelo ex-zagueiro Joel Martins, vários problemas abalaram o ambiente do futebol no clube. Surgiram sérias divergências envolvendo alguns jogadores, como por exemplo, Cláudio Adão e Eder. O goleiro uruguaio Alvez se desentendeu com Emil Pinheiro. O zagueiro Wagner foi vendido ao Guarani e o ponta-direita Marinho desorientado com a morte de seu filho Marlon, na piscina de sua casa, sumiu do clube por nove dias. 

Assumiu a direção técnica do elenco alvinegro João Carlos Batista Pinheiro, ex-zagueiro do Fluminense. No final de 88, Emil Pinheiro contratou o vitorioso técnico gaúcho Valdir Espinosa. O novo treinador prometeu a torcida do Botafogo que no placar luminoso do Maracanã, estaria escrito naquele ano: “Botafogo campeão”. 

O jejum de vinte e um anos sem título terminou no penúltimo ano da década e a alegria da torcida se repetiu no ano seguinte. Em 89, a estréia no campeonato estadual foi contra o América. Os alvinegros venceram por 1 a 0 gol de Paulinho Criciúma. Sem perder para os pequenos e empatando com os seus principais rivais, o Botafogo chegou à decisão da Taça Guanabara com o Flamengo. Os rubro-negros com o empate de 1 a 1 foram os vencedores do 1o turno. 

Na Taça Rio, a partida mais emocionante foi exatamente frente ao Flamengo, na 3a rodada. O time alvinegro perdia por 3 a 1 e em sensacional reação chegou ao empate de 3 a 3. O Flamengo estava ganhando por 3 a 1, quando o zagueiro Gonçalves marcou contra o 2º gol do Botafogo aos 36 minutos do 2º tempo. Valdir Espinosa partiu para o tudo ou nada, colocando em campo Mazolinha no lugar de Milton Cruz e Vítor em substituição a Josimar. Aos 42 minutos, Mauro Galvão lançou e o ex-rubro-negro Vítor fez o gol que manteve o time alvinegro vivo no campeonato. 

O Bangu foi o último adversário na Taça Rio. O empate por 0 a 0 preocupou os botafoguenses, mas com a derrota do Flamengo diante do Vasco por 2 a 1, o Botafogo venceu o 2o turno. 

Maurício toca de pé direito e coloca a bola no canto esquerdo de Zé Carlos.

O primeiro jogo da decisão entre Flamengo e Botafogo terminou com o empate de 0 a 0. No dia 21 de junho de 1989, alvinegros e rubro-negros jogaram a segunda partida, perante aproximadamente 57 mil torcedores, no Maracanã. O 1o tempo terminou 0 a 0, resultado que favorecia o time alvinegro, que jogava com a vantagem de três empates. Aos 12 minutos da fase final, a torcida botafoguense soltava o grito de gol. O meio-campo Luizinho lançou o veloz Mazolinha na esquerda, que cruzou entre a marca do pênalti e a linha frontal da pequena área. O ponta-direita Maurício na corrida deu um leve empurrão no rubro-negro Leonardo e tocou a bola com o pé direito no canto esquerdo do goleiro Zé Carlos. Os trinta e três minutos restantes foram de expectativa e sofrimento para a torcida alvinegra, compensados pela alegria incontida de todos aqueles que trazem a estrela solitária no peito. Após tantos anos, o grito de campeão ecoava no Maracanã. A luz no placar como prometera Espinosa estava lá: “Botafogo campeão”. 

Participaram da inesquecível partida: Ricardo Cruz, Josimar, Wilson Gottardo, Mauro Galvão e Marquinhos; Carlos Alberto, Luizinho, Vitor e Paulinho Criciúma; Maurício e Gustavo, depois Mazolinha. 

Valdir Espinosa no comando técnico da equipe alvinegra foi fundamental para a conquista do título:

O “churrasqueiro” acreditou no título 

“Cheguei em 1989. O Emil foi me buscar, em Porto Alegre. Ele comprou numa loja onze camisas amarelas e onze azuis ou verdes. Não tinha patrocínio, não tinha nada. Comprou um apito, duas bolas, me entregou e disse: “Pode começar o trabalho”. Os próprios jogadores chegaram pra mim e disseram: “Assim não dá”. Mas, o Emil acreditava e ele me fez acreditar. 

Começamos a fazer churrasco. Até depois começaram a me colocar de uma forma pejorativa o apelido de churrasqueiro. O Emil pagava como sempre. Iam as esposas, os filhos, mas tinha o clube do Bolinha e o da Luluzinha. As mulheres de um lado e os homens do outro. Ali nós falávamos do jogo que nós fizemos, do que nós iríamos fazer no próximo jogo. Falávamos só de futebol. E assim, foi até o final do campeonato. 

Hoje, a maioria dos jogadores mora na Barra, bairro chique do Rio. Em 89, 99% dos jogadores moravam, na Barra, em condomínios de luxo pago pelo Emil”.
A partida decisiva foi contra o Flamengo e o Botafogo ganhou por 1 a 0. Maurício, autor do gol que acabou com o longo jejum botafoguense, fala sobre aqueles momentos marcantes na sua carreira.

Mané jogou comigo a decisão 

“Eu tive a felicidade de fazer parte de um grupo maravilhoso. Um time bem coeso, compacto, bem determinado naquilo que queria. 

Eu não ia jogar, porque na véspera do jogo passei muito mal. Eu tive uma íngua. Fui apertar um furúnculo, me deu uma íngua e tive 39o de febre. Pedi a uma senhora que me rezasse. Rezou e me disse para ter calma, porque eu iria jogar. No vestiário, nós estávamos nos aquecendo e veio o Nilton Santos. Me abraçou e disse: “Maurício, você não vai estar sozinho. Mané Garrincha vai estar com você.” Aí, eu fui prá o jogo. Chegou no jogo, eu não conseguia fazer as jogadas de linha de fundo que estava acostumado a fazer. Passar pelos adversários, cruzar, bater no gol. 

No intervalo, chorando, falei para o Espinosa me tirar, porque não tinha mais condições e estava atrapalhando aquele grupo maravilhoso. Espinosa sentou-se ao meu lado e disse: “Maurício tem uma coisa. Eu sonhei que era 1 a 0 e que o gol era teu. E agora ?” Eu perguntei, o senhor sonhou com isso? Estou voltando. E fiz o gol da vitória e o Espinosa depois falou que não sonhou coisa nenhuma. 

Olha só gente. Vinte e um anos sem título, vinte e um graus, aos doze eu fiz o gol, invertido dá vinte e um, Mazolinha cruza com a camisa quatorze para a sete, que era a minha, a soma dá vinte e um.”

Placar do título de 89

Após o jogo Valdir Espinosa não conteve a emoção e desabafou: 

“Vieram me entrevistar após o jogo. Eu falei, esperem um pouquinho só. Olhei para o placar e lá estava a luz que eu queria ver: “Botafogo campeão.” Agora estou satisfeito”.