Banner 2
Banner 3
Banner 1

Estado brasileiro pede desculpas por vala clandestina de Perus


26/03/2025


Com informações da Agência Brasil e A Ponte

  Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Foi ao lado do Memorial aos Mortos e Desaparecidos, no Cemitério Dom Bosco, em Perus, na zona norte da capital paulista, que o Estado brasileiro reconheceu nesta segunda-feira (24) publicamente sua falha na guarda e na identificação dos remanescentes ósseos da Vala Clandestina de Perus. A data foi escolhida por ser o Dia da Memória, pela Verdade e pela Justiça.

Nesta cerimônia, o governo brasileiro foi representado pela ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, que fez um pedido de desculpas pública aos familiares dos mortos e desaparecidos da ditadura militar pela negligência do Estado na identificação das ossadas encontradas na Vala de Perus.

O ato trata da negligência da União na guarda e identificação das ossadas, localizadas em 1990 e que ainda não foram complementarmente identificadas. Macaé disse que até 2009 não se tinha dado um tratamento para prosseguir com as identificações e os exames necessários para relacionar as ossadas com as vítimas. As desculpas são resultado de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF). O pedido foi aceito pelo MDHC de forma voluntária.

A cerimônia contou com a presença de familiares das vítimas, autoridades e representantes da sociedade civil. A ABI foi representada pelo primeiro-secretário do Conselho Deliberativo, Laurindo Lalo Leal Filho. Vera Paiva, filha do ex-deputado federal Rubens Paiva, morto na ditadura, foi uma das presentes. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) não compareceram. O primeiro foi representado pela secretária de Direitos Humanos e Cidadania da prefeitura de São Paulo, Regina Santana.

Gilberto Molina representou os familiares das vítimas. Ele é irmão de Flavio Molina, um dos desaparecidos políticos identificados na Vala de Perus. A busca pelo irmão e pelo direito de sepultá-lo levou 44 anos. A família primeiro buscou saber o que houve, como o Estado matou o militante. Depois, lutou para o saber para onde corpo foi levado e, então, para identificar os restos mortais dele.

“Após a abertura da vala foram 15 anos de um velório interminável”, descreveu Gilberto. A busca pela identificação foi marcada por episódios cruéis. Gilberto foi exposto a ossadas sem cuidado e um dos retornos dos exames de DNA questionou se a mãe dele era de fato biológica.

“É um momento muito triste e ao mesmo tempo importante porque a verdade precisa ser revelada como justiça a todos os familiares, para que a sociedade brasileira compreenda toda a violência que se cometeu em nome do Estado e para que a gente reafirme a democracia e isso nunca mais aconteça”, afirmou a ministra dos Direitos Humanos durante o ato.

Contudo, questionada sobre prazos para a conclusão dos trabalhos, ela não precisou.

A Vala Clandestina de Perus foi descoberta por Caco Barcellos quando o jornalista passou a investigar os homicídios cometidos por policiais militares. Caco visualizou que alguns dos laudos feitos pelo Instituto Médico Legal (IML) referentes à mortos pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) continham a letra T — a marcação significava terrorista. Aquilo foi a fagulha para que a vala fosse encontrada após a confissão do administrador do cemitério, Antônio Eustáquio.

Após a descoberta, começou uma nova etapa, a da identificação dos corpos contidos ali. Os militantes políticos Aluísio Palhano Pedreira Ferreira, Frederico Eduardo Mayr, Flávio Carvalho Molina e os irmãos Denis e Dimas Casemiro foram identificados. Até então, todos eram considerados desaparecidos.