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Entrevista – Sidney Rezende


24/08/2009


Talento multimídia

Sidney Rezende

Sidney Rezende iniciou no jornalismo em 1985 na rádio Roquette Pinto. Ao longo dos 24 anos de carreira trabalhou em jornais, emissoras de rádio e de TV e, mais recentemente, na internet, com o portal de notícias SRZD, que em três anos de atividade atingiu a marca de 1 milhão de usuários na rede. A consagrada trajetória multimídia é marcada pela competência, ética, responsabilidade social e pelo espírito empreendedor, revelado já no início da profissão em projetos e iniciativas inéditas que contribuíram para a renovação do modelo noticioso no rádio e na TV. 

ABI OnlineComo um jovem que sonhava com a carreira de cineasta se tornou jornalista?

Sidney Rezende — Acho muito bonito quando a pessoa tem em mente a sua vocação desde a infância. Isto não aconteceu comigo, mas eu percebia que tinha aptidão para a Comunicação. Quando eu estava no primário, a professora de Geografia pediu para os alunos apresentarem a matéria escolar em formato de telejornal. No final da minha apresentação, ela falou que eu tinha talento para ser um jornalista. Mais tarde vi que a professora tinha acertado o prognóstico. No período da ditadura militar, eu tinha a preocupação de não ter vínculos com a chamada burguesia. Para mim, naquela época, estudar em uma universidade representava uma atitude burguesa. Decidi, então, não fazer faculdade. Optei por um curso introdutório de Filosofia, na Universidade Santa Úrsula, onde conheci a freira Maria Edna Brito, da Igreja Progressista. Ela me convenceu a ingressar na universidade, argumentando que eu era jovem e que um curso superior poderia abrir as portas para mim. Entrei para a Faculdade de Comunicação Social da PUC-RJ, mas como lá não tinha o curso de Cinema, tive que optar entre Publicidade e Jornalismo. Para alguém que não queria cursar uma faculdade porque julgava ser coisa de burguês, estudar Publicidade seria ideologicamente inaceitável. Então, fui para o Jornalismo meio que empurrado, conduzido por uma mão invisível.

ABI OnlineComo foi o início da carreira na Rádio Roquette Pinto?

Sidney — Me formei em Jornalismo em 1983 e comecei a trabalhar no final de 1985. A rádio foi uma escola para mim, pois a equipe, chefiada por Regina Boldstein, era formada por jornalistas experientes oriundos Rádio JB, com os quais aprendi muito. Eu não tinha estagiado antes, não tinha experiência alguma. O começo foi muito difícil, mas eu apresentava uma vantagem: estava sempre bem informado, eu lia sobre tudo, especialmente sobre os fatos relacionados à política. Além disso, eu conseguia reconhecer facilmente as pessoas, o que foi muito útil na cobertura do calvário do Presidente Tancredo Neves. Quando as personalidades chegavam ao hospital para visitá-lo, eu as identificava imediatamente, ao contrário de alguns colegas. Severo Gomes, empresário eleito senador pelo Estado de São Paulo, muitas vezes passava incólume durante as visitas a Tancredo Neves. Eu me aproximava dele e fazia perguntas. Com isso, fui levando informações para o ouvinte, um diferencial do meu trabalho.

ABI OnlineO que representou a cobertura do estado de saúde de Tancredo Neves em sua carreira?

Sidney — Foi a mais importante cobertura do início da minha trajetória. Ao longo dos 17 dias em que permaneci no Instituto do Coração, em São Paulo, onde Tancredo estava hospitalizado, tive a oportunidade de observar o trabalho dos repórteres mais experientes do Brasil e do exterior, que atuavam em diversos meios de comunicação. Nesta época eu não sabia fazer nada. Tanto é que me foi dado o horário da madrugada, de pouca visibilidade e audiência. Por coincidência, no dia em que Antônio Brito, então porta-voz da Presidência da República, comunicou oficialmente a morte de Tancredo Neves, fui eu quem deu a notícia na Roquette Pinto, uma emissora pequena, mas que, com essa cobertura, subiu da 25ª para a 5ª posição em audiência.

ABI OnlineO amadurecimento profissional foi conquistado na Rádio JB?

Sidney — Em função do programa “Encontro com a imprensa”, nesta emissora, eu vivia no centro dos acontecimentos. Diariamente, às 13h, entrevistávamos grandes personalidades brasileiras, como o Presidente da República, líderes políticos, o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, escritores e intelectuais importantes como Fernando Sabino, Adélia Prado, Austregésilo de Athaíde. Amadureci muito em função do contato com essas pessoas. Foi um momento fantástico. Pude conversar, por exemplo, com Luiz Carlos Prestes sobre assuntos delicados, como a relação dele com a Olga Benário. Fizemos um programa cujo tema da discussão era a tortura. Entrevistamos um médico acusado de ser torturador, ao lado de Cecília Coimbra, do Grupo Tortura Nunca Mais. Foi um clima emocionante e pesado, já que Cecília o reconheceu como sendo seu torturador no estúdio da emissora. Ao mesmo tempo, foi uma situação bastante esclarecedora, especialmente naquele período em que o País precisava passar a limpo a repressão militar para seguir em frente. Diversos personagens que marcaram a história do Brasil foram entrevistados no programa, como Barbosa Lima Sobrinho, que foi Presidente da Associação Brasileira de Imprensa. Tive a chance de conversar com cada um deles, ouvir seus relatos. Uma experiência engrandecedora, que estabeleceu a base para o meu prestígio profissional.

ABI OnlineEm 1991, esta experiência foi transformada em livro.

Sidney — Sim. A produtora do programa, Clarice Abdalla, muito dedicada, reuniu os grandes momentos do programa na publicação “As entrevistas do Encontro com a Imprensa”. Nós dois, com o auxílio de outras pessoas da equipe, decupamos todo o material que é referência histórica do período entre a pós-ditadura e a abertura política.

ABI OnlineE você estava só iniciando a carreira.

Sidney — Com certeza. Quando saí da Roquette Pinto, dois amigos lutaram muito para que eu fosse para a Rádio JB, o Augusto Fonseca, que hoje se dedica ao marketing político, e o Marcos Gomes, que atualmente está na Rádio Nacional. Eles achavam que apesar de eu estar no início, de certa forma, tinha conseguido me destacar na Roquette Pinto, especialmente pela vontade e a disposição para trabalhar. Eu tinha muito entusiasmo em relação à minha profissão. Isso fez a diferença.

ABI OnlineAlém do entusiasmo e da disposição, você se destacou também pelo perfil empreendedor. Quando surgiu a idéia de implantar o chamado sistema all news no rádio brasileiro?

Sidney — Em 1989, eu propus ao Carlos Drummond, que era o chefe de redação da Rádio JB, a ampliação do conteúdo informativo na programação da emissora. Ele se esforçou para implantar o projeto, mas não conseguiu sensibilizar o diretor e os donos da empresa. Nesta época, a emissora se destacava pelo prestígio e credibilidade, mas a programação jornalística ocupava apenas horários definidos, com o “Jornal do Brasil Informa” (JBI), que apresentava os principais acontecimentos do dia em boletins com duração de 20 minutos a 30 minutos, e com algumas entradas esporádicas de repórteres e comentaristas, como a Sônia Carneiro. A minha idéia era uma Rádio JB-AM com muito mais informação. Achei que tinha espaço para isso, mas minha proposta não foi aceita. Comecei a perceber que não estava me realizando ali. Não era o tipo de jornalismo que eu gostaria de fazer. Por outro lado, eu estava em uma posição confortável apresentando o principal programa da emissora e recebendo um salário expressivo para a época. Tentei implantar o mesmo projeto na Rádio Alvorada-FM, que pertencia a um grupo de banqueiros de Minas Gerais, e tinha uma programação essencialmente musical. Mas lá também não compraram a minha ideia. Até que um dia, fiquei sabendo por um colega locutor que o dono da Rádio Panorama-FM, Wellington David, gostava muito do meu trabalho e achava que eu era um ótimo entrevistador. Fui até Nilópolis, na Baixada Fluminense, onde funcionava a emissora, e apresentei o projeto para ele, que ficou encantado e aceitou a minha proposta. Esta foi a primeira iniciativa no radiojornalismo brasileiro mais próxima do sistema all news. Foi também a primeira vez em que se incluiu o jornalismo na FM. Na época, o que se dizia, e fazia sentido, é que o som na frequência modulada, por ter qualidade superior, era ideal para a programação musical. Nós quebramos este paradigma. Levei comigo mais da metade da equipe de jornalistas da Rádio JB, como Patrícia Maurício, Nicolau Maranini, Marco Antônio Monteiro, e a própria Clarice Abdalla, que ficou um tempo conosco, além de um grande número de repórteres. Um mês após a estreia do programa “Panorama Brasil”, foi anunciado o Plano Collor que congelou o dinheiro de todo mundo e dificultou a captação de patrocinadores. Um dos nossos anunciantes não honrou o contrato, afetando drasticamente a folha de pagamento. Diante deste cenário, nos restou começar do zero. Investimos o dinheiro do nosso fundo de garantia da Rádio JB para tocar o novo programa. Ficamos pouco mais de um ano no ar e foi um sucesso.

ABI OnlineVocê considera o “Panorama Brasil” sua iniciativa mais ousada?

Sidney — Posso citar dois momentos marcantes nesse sentido. Um foi este programa, já que nunca havia sido feito nada semelhante. Quando não se tem nenhum parâmetro o momento é fascinante e ao mesmo tempo assustador. Ninguém sabe o que vai acontecer. Hoje, mais amadurecidos, olhamos para trás e perguntamos o que nos motivou a tomar aquela iniciativa ousada e pioneira. O que atualmente é oferecido no programa Pânico, no rádio, ou no CQC, na televisão, nós já fazíamos em 1990. Entrevistamos Eduardo Dussek dentro do banheiro do teatro onde ele estava apresentando um show. Entrevistei Cássia Eller, a portas fechadas, dentro de um quarto de hotel. Foi realmente um sucesso, um fenômeno na FM. Nossa audiência era maior do que a das rádios JB e Globo. Importantes personalidades da política brasileira estiveram em Nilópolis para conceder entrevistas como Roberto Campos, César Maia e Garotinho. Lembro do Senador Nelson Carneiro, muito velhinho, subindo com dificuldade as escadas da emissora. Optamos pela linha editorial que mesclava informação e humor e o conceito “A liberdade é a diferença”. As grandes emissoras, muitas vezes comprometidas com interesses empresariais, tinham dificuldades para cobrir os assuntos com total liberdade. Nós não. Nosso único compromisso era com o público. Fazíamos uma cobertura divertida, interessante, moderna, atualizada, com profundidade e conteúdo. A editoria de Política era chefiada por Marco Antonio Monteiro; Economia, por Ricardo Bueno e Patrícia Maurício; Cultura, inicialmente com Waldir Leite e depois com Sidney Garambone. Entre os colunistas tivemos Hermeto Pascoal, Nelson Werneck Sodré, Jânio de Freitas, Maria Lucia Dahl, Ricardo Noblat, entre outros. Foi mais ou menos o modelo adotado mais tarde pela CBN, mas sem o humor.

ABI OnlineQual foi o seu papel na criação da rádio CBN?

Sidney — Eu estava no Clube de Engenharia e, em função do sucesso na Panorama-FM, fui abordado por José Roberto Marinho, que era o Diretor do Sistema Globo de Rádio. Ele me convidou para fazer parte do grupo que estava começando a se formado para uma nova rádio, que viria a ser a CBN. Eles não sabiam ainda qual seria o nome. A rádio que existia na época era a Eldorado. O primeiro contratado foi o Jorge Guilherme, responsável pelo jornalismo. Eu fui o segundo contratado e assumi o cargo de editor-executivo. Ao lado de Marco Antonio Monteiro e Ramiro Alves, criei a grade de programação do jornal da CBN, que substituiu o Jornal Eldorado, e existe até hoje. Fui um dos fundadores e a primeira voz da rádio CBN, que nasceu aqui, no Rio de Janeiro. Arildes Cardoso, que era locutor da Eldorado, ficou com medo de perder o emprego com a criação da nova rádio. Para garantir o lugar dele, tive a ideia de ter um locutor e um âncora, solução ainda hoje utilizada no Jornal da CBN. Mantive o emprego dos antigos funcionários, que se entusiasmaram e colaboraram muito com o novo projeto. Depois de um mês com a nova programação, ainda na Rádio Eldorado partimos para a inauguração da CBN. Heródoto Barbeiro era contra a mudança do nome da rádio em São Paulo, que se chamava Excelsior. Ele dizia, com razão, que aquele nome já estava sedimentado junto ao público. A pedido de Jorge Guilherme e de José Roberto Marinho, fui a São Paulo para tentar convencê-lo a mudar o nome e obtive sucesso. Então, a CBN começou no Rio e depois foi para São Paulo. Desta forma foi sendo montada em todo o Brasil e hoje é esta potência.

ABI OnlineDepois este modelo de jornalismo migrou para a TV. Como surgiu o convite para integrar a equipe da Globo News?

Sidney — Cinco anos após a criação da CBN, a diretora de TV Alice Maria, que estava montando a equipe da Globo News, durante um almoço com Jorge Guilherme manifestou interesse em conhecer os âncoras que faziam parte daquele projeto bem sucedido da rádio. Ela realizou testes comigo e com outros apresentadores e achou que o meu desempenho tinha sido superior ao que ela esperava. Fui contratado e permaneço lá apresentando uma edição do “Conta corrente” e o “Em Cima da Hora”.

ABI OnlineConte um pouco sobre a sua carreira na TV.

Sidney — Desde o inicio da profissão eu sempre tive dois ou três empregos. Enquanto eu estava na Roquette Pinto, e depois na Rádio JB, fui pauteiro na Rádio MEC, posteriormente, comentarista da Rádio Globo, apresentador do Jornal do Rio, da TV Bandeirantes, colaborador do programa Sem Censura. Atuei ainda em alguns programas na antiga TVE, hoje TV Brasil, como o “Baleia verde”, com Fernando Barbosa Lima. Até o momento, dediquei 30% da minha carreira à televisão e 70% ao rádio.

ABI OnlineFale sobre a experiência de trabalhar com Fernando Barbosa Lima em um programa pioneiro?

Sidney — Foi a primeira vez em que se produziu uma revista ecológica na televisão brasileira. O Fernando era um criador, um empreendedor. Ele tinha esta vocação. Eu lembro que o Cláudio Pereira, sócio dele na Intervídeo, disse para mim uma vez que o Fernando era um menino, uma criança, e que a cabeça dele, mesmo com os cabelos brancos, era a de um garoto, em relação à criatividade. O Cláudio tinha razão. Fernando Barbosa Lima criou diversos programas pioneiros. Com sua inventividade, era um diretor que possibilitava a abertura de espaços para entrevistas inteligentes, para novos talentos. Fui um dos beneficiados, mas não era exatamente aquele profissional com quem ele contava mais. Fernando tinha muitas parcerias com o Roberto D’Avila e o Sargentelli. Trabalhei um bom tempo com ele. Fizemos o programa “Baleia Verde” durante mais de um ano e alguns outros. Ele também me dava a oportunidade de apresentar o programa “Conexão internacional”, quando o Roberto D’Ávila precisava viajar.

ABI OnlineQual foi o outro momento marcante de sua carreira após o Panorama Brasil?

Sidney — Foi a criação do portal SRZD há três anos. Um segundo momento de ousadia por se tratar de um portal de notícias atuando em meio a outros vinculados a grandes veículos de comunicação.

ABI OnlineFoi um movimento semelhante ao de sua saída da Rádio JB para a Panorama FM?

Sidney — Com certeza a mesma idéia. Os grandes conglomerados de comunicação estão sempre no meu caminho e eu sempre, de alguma forma, identificado com grupos independentes. É uma saída para o mercado de comunicação no Brasil a existência de produções independentes, experiências alternativas, até mesmo para alimentar os grandes conglomerados em termos de criatividade e novas propostas. Muita gente acredita que portais como o meu, ou programas como o “Panorama Brasil” rivalizam com os grandes grupos de comunicação, mas, na verdade, representam forças de renovação.

ABI OnlineComo surgiu o projeto do portal?

Sidney — Eu já tinha trabalhado na Tribuna da Imprensa, no Jornal do Brasil, em rádio quase todo o tempo, e em televisão. Mas não tinha experiência com a internet. Meu filho, Francisco Rezende, que hoje dirigi a empresa, me estimulou a entrar nesta área. Minha primeira atitude neste sentido foi buscar a oportunidade dentro da Globo. Como não foi possível, pedi permissão, firmada em contrato, para criar meu próprio portal de notícias.

ABI Online E quanto ao seu blog?

Sidney — Nós optamos por fazer o site primeiro e depois o blog, como complemento. Não só o meu, mas também os dos demais blogueiros que participam do nosso portal. O site e os blogs formam o portal SRZD. Desde o início recebemos o retorno do público. Inicialmente contabilizamos cerca de 2.600 acessos mensais. Hoje, alcançamos a marca de um milhão. Um salto exponencial em três anos. É fascinante, pois o público é heterogêneo, inclusive ideologicamente. E eu gosto que seja assim. O pluralismo sempre permeou o meu trabalho. Não me sinto bem em atuar em um veículo no qual eu não possa exprimir opinião, dizer o que penso. É muito ruim ser pressionado pelos patrões, pela publicidade, por dificuldades operacionais. Acredito que a minha liberdade é proporcional à liberdade do público e vice-versa.

ABI OnlineO portal SRZD alcançou a marca de um milhão de usuários, uma meta sua. Quais são os próximos projetos?

Sidney — A nossa meta agora é, nos próximos 12 meses, permanecer neste patamar. Nos esforçamos muito para subir até um certo platô da montanha. Agora, vamos parar um pouquinho, respirar, trabalhar, melhorar o produto, para ganhar fôlego de novo e continuar crescendo. Temos a intenção de em algum momento criar uma webrádio. Já temos os estúdios, só falta adquirir alguns equipamentos. Estamos levantando o orçamento, mas é preciso ter cautela, já que a crise econômica afastou os patrocinadores tradicionais do mercado. Todo mundo está tendo um pouco mais de calma. As empresas internacionais consultam suas matrizes e elas pedem mais cautela. Estamos esperando o melhor momento.

ABI OnlineA editoria Carnavalesco do portal SRZD obteve grande sucesso na cobertura do carnaval de 2009. Fale sobre esta experiência.

Sidney — Através do Carnavalesco temos a oportunidade de noticiar o Carnaval o ano inteiro. A equipe da editoria, chefiada pelo jornalista Alberto João, é formada por pessoas verdadeiramente apaixonadas pelo carnaval, daí o sucesso. No dia da apuração do resultado dos desfiles tivemos dificuldades pois dois servidores exclusivos ficaram congestionados, tornando o acesso lento. A apuração do Grupo Especial foi perfeita, mas na do Grupo de Acesso, percebemos o site mais lento, em função da grande quantidade de pessoas que recorreram ao Carnavalesco para obter informações. Isto já foi corrigido. Agora temos um servidor maior e no ano que vem vamos disponibilizar mais espaço para que o problema não se repita.

ABI OnlineNa sua opinião, o jornalismo na internet está estruturado e pode ser um bom caminho para a imprensa?

Sidney — A internet é fantástica justamente por estar se estruturando. É uma obra aberta que está sendo construída. Pode ser uma enciclopédia para a qual todo mundo colabora, ou um produto que não deu certo e alguém transformou em algo extraordinário, ou um espaço aberto para ideias antigas com novas roupagens. Não tenho a menor dúvida de que a internet é o caminho. Eu, que amo os livros, compreendo as dificuldades das novas gerações para desenvolver o hábito da leitura. Mas vale lembrar que eles estão lendo na rede. Aí podem citar as deficiências no aprendizado da gramática. Sim, mas é importante destacar que hoje há mais acesso à informação a partir dos sites e portais. Quanto mais incontrolável e desestruturada for a internet, melhor será para a liberdade de criação do homem, dos jornalistas.

ABI OnlineVocê já trabalhou em jornal, rádio, TV e internet. Em que tipo de veículo você se sente mais à vontade?

Sidney — Até eu ser demitido da CBN, nunca tinha deixado de trabalhar no rádio. São 25 anos dedicados ao veículo, trabalhando paralelamente em outros lugares. Eu tenho uma grande identificação com o rádio.

ABI OnlineVocê retornou ao rádio recentemente. Como surgiu esta oportunidade na MPB FM?

Sidney — Por contrato, eu tenho impedimento de fazer ancoragem em qualquer emissora de rádio que não pertença às organizações Globo. Então, na MPB FM faço dois comentários, às 9h e às 18h. O portal SRZD vai produzir o conteúdo nos moldes de uma agência de notícias. A MPB FM segue uma programação cultural com a qual eu me identifico muito. Uma bela oportunidade para aproximar a internet do rádio. Alimentamos com notícias os boletins informativos que vão ao ar às 7h e às 18h, o MPB Notícia, e, no meio da tarde, o MPB Finanças. Atendemos também o rush, quem está indo para o trabalho e quem está voltando. Com o tempo, sentindo a receptividade do público, pensaremos em novas idéias.

ABI OnlineEm 1993, você retornou à PUC para dar aulas de Jornalismo. Que ensinamentos você priorizou para transmitir aos alunos?

Sidney — Comparo a profissão de jornalista a de garçom. Levamos a informação da cozinha para a mesa. Não somos o chefe de cozinha que preparou a refeição, nem o dono do restaurante. Somos apenas aquele indivíduo que oferece ao público a informação que ajudará as pessoas a tomarem as suas decisões. É muito importante que o jornalista tenha consciência deste papel. A leitura é essencial para a profissão. Millôr Fernandes costuma dizer que jornalista tem de ler até bula de remédio. Concordo. Quanto mais informação o profissional reunir, mais qualificada e correta será a cobertura dos fatos. Não creio que existam apenas duas versões de um acontecimento. Tampouco acredito na neutralidade. Acredito sim, na isenção e na multiplicidade de leituras de um determinado fato. O nosso dever, como jornalistas, é fazer uma profunda apuração. Quanto melhor a apuração, melhor a reportagem.

É preciso ter paciência para apurar, humildade para entender a profissão e consciência de que o objetivo é informar o maior número de pessoas possível, principalmente aquelas que pertencem às classes sociais menos favorecidas. É para elas que devemos atuar como fiscais do poder. Este é o nosso dever.

ABI OnlinePor que você decidiu escrever um livro abordando o tema sucesso?

Sidney —Antes de escrever o livro “Deve ser bom ser você”, eu tinha uma dúvida: como dois irmãos, às vezes gêmeos, educados no mesmo universo, na mesma escola, acabam traçando caminhos opostos? Um consegue prosperar, enquanto o outro fracassa. Ao escrever o livro, entendi que fama não é sinônimo de sucesso, e que quando se trabalha com metas, o sucesso chega mais rápido, especialmente nos planos de curto prazo. Quem opta por objetivos muito ambiciosos, pode levar a vida inteira para alcançá-los. O indivíduo que percorre metas de curto prazo, ganha motivação a cada conquista. Aprendi também que dinheiro não é indicador de sucesso e que só a felicidade nos leva ao estado de consagração.

ABI OnlineVocê se considera um profissional bem sucedido? 

Sidney — Não, no sentido da vaidade, mas como uma pessoa de origem pobre, que iniciou na profissão com muito esforço, trabalho, noites mal dormidas, plantões e outros problemas. Posso dizer que sou bem sucedido ao observar de onde eu vim e onde estou agora. Ao longo da minha carreira, sempre acompanhei as experiências de outros colegas, as coisas que eu gostaria de ter feito isto, mas não sei se teria a mesma capacidade. Isto em relação a um texto bem feito, uma matéria bem acabada, um equilíbrio harmonioso entre imagem e texto, uma coluna que traz uma nota que eu poderia ter apurado e não apurei. Enfim, todos os dias encontramos alguém que fez algo melhor do que nós.