05/08/2008
Bernardo Costa
08/08/2008
Nascido em 1937, na Hungria, Georges Racz teve importante papel no desenvolvimento da fotografia como forma de expressão artística no Brasil. Afinal, entre outras coisas, foi um dos primeiros a escrever sobre o tema, quando era crítico de cinema e artes visuais da revista Visão, e presidiu — em 1970, 1971 e 2004 — a Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf). Embora nunca deixasse de fotografar, ele também dedicou grande parte de sua carreira ao magistério, sendo responsável pela implantação e a coordenação dos cursos de Fotografia do MAM, que formou importantes profissionais brasileiros, como Milton Guran e Januário Garcia.
Racz tomou gosto pela fotografia ainda menino, já durante a vinda da família para o Brasil:
— Em 1950, minha mãe tinha pavor de que ocorresse a Terceira Grande Guerra e queria sair da Europa de qualquer jeito. Naquela época, havia cotas para refugiados de guerra para o Equador e o Brasil e minha família decidiu vir para cá, felizmente. Quando embarcamos no transatlântico, meu pai comprou uma câmera francesa muito simples. E, durante a viagem, eu comecei a fotografar e me apaixonei. Nunca mais parei.
Na Visão, onde trabalhou de 1976 a 1990, Racz fotografava e escrevia suas matérias:
— Sempre tive facilidade para escrever. E, como trabalhava na editoria de Cultura como critico de cinema e artes visuais, podia fotografar minhas matérias. Em outras áreas isso não é possível. Na política, por exemplo: não dá para fazer a cobertura de um comício e fotografar simultaneamente.
Ciências Sociais
A formação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1964, direcionou o olhar de Racz:
— Sempre tive uma curiosidade muito grande em termos de documentação social. Hoje em dia, a tecnologia me facilitou muito, pois tenho uma máquina bem pequena, com 12 megapixels, que possibilita que eu saia pelas ruas com ela no bolso, registrando os momentos.
Durante anos, ele desenvolveu três ensaios surrealistas eróticos, “uma espécie de espinha dorsal” de sua carreira:
— São fotografias estudadas, posadas, em que trabalho a sensualidade de uma forma que considero elegante. Para o primeiro ensaio, exibido no Museu Nacional de Belas Artes, fiz chapas grandes, raspei etc. O segundo foi sobre suporte fotográfico, em que predominou um tipo de montagem que realçava o fantástico e o sensual. Foi exposto na galeria Luz e Sombra e o Masp comprou três fotos para o seu acervo. O último teve como tema o sadomasoquismo e expus numa galeria em Botafogo, no Rio.
Photogaleria
Juntamente com Armando Rozário, “pioneiro da defesa dos direitos autorais dos fotógrafos”, Georges Racz criou, em 1973, o grupo Photogaleria, importante iniciativa para que a fotografia no País ganhasse status de obra de arte:
— No Brasil, o profissional trabalha para pessoas a partir de encomendas; então, não faz necessariamente a sua fotografia. Para tanto, o grupo tinha três propostas: desenvolver a idéia de colecionar fotos, evitar os editores que não fossem os próprios fotógrafos e brigar pelos direitos autorais. Nesta última questão, fomos bem-sucedidos. E estimulamos o surgimento de alguns colecionadores, além de desenvolver uma consciência entre alguns fotógrafos de editar sua própria obra — o que, sabemos muito bem, não existe na imprensa, pois é o editor que vai escolher a imagem, cortá-la para enquadrar na página do jeito dele etc. Também seria utopia esperar o contrário, já que o editor tem sua função dentro do jornal. Essa idéia de editar a própria obra se aplica mais na fotografia de colecionismo e exposição, em que você tem uma visão estética do seu trabalho e quer conservar na íntegra a mensagem suscitada por ele.
Dentre as diversas exposições do grupo, a primeira, na Galeria Tora, em Ipanema, foi a de maior impacto:
— Teve tanta gente que o trânsito da Visconde de Pirajá teve que ser desviado. Naquela época, a imprensa deu páginas inteiras sobre o Photogaleria e as pessoas afluíram em grande número à exposição.
Três anos depois, o grupo se desfez. Segundo Racz, a estrutura criada foi grande demais:
— Nós quisemos pegar todos os bons fotógrafos brasileiros. Chamamos muitos de São Paulo e do Rio, alguns de Brasília… Numa certa hora, os paulistas começaram a brigar entre si e a coisa desandou. Se alguém quiser fazer um novo Photogaleria, que faça melhor.
Cinema
Sempre interessado pela sétima arte, Racz — que ainda integra o Conselho Deliberativo da Abaf — trabalhou também como cineasta, cuidando de imagem, roteiro e montagem em filmes como “Você tem uma flor”, prêmio de melhor fotografia no Festival Brasileiro de Curta-metragem, em 1966:
— Tive sorte, porque o pessoal gostou dos meus filmes. Um deles foi “Maria”, que contava a história de uma menina que trabalhava como empregada doméstica na casa de uma família que a explorava. Venceu o Festival de São Paulo de 68, na categoria curta-metragem, e, na Argentina, foi aplaudido de pé.
Racz lembra que, nos anos 60, gostava de viajar com seu fusca e sua máquina, “documentando a vida”, como gosta de dizer, em cidades como a fluminense Paraty e as pernambucanas Tracunhaém e Caruaru:
— Gosto de umas fotos que fiz de artesãos pernambucanos, da arte popular de algumas cidades daquela região. São artistas, escultores que passam seus conhecimentos de pai para filho. Pretendo voltar lá e fotografar novamente os que ainda estão vivos, mostrar as coisas que eles e seus herdeiros estão produzindo. Gostaria de voltar com meu filho para ele registrar a experiência, já que está fazendo um filme sobre minha obra.
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