15/05/2008
Samuel Iavelberg |
Ottoni Fernandes e Audálio |
Ottoni Fernandes Jr., subchefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, foi às lágrimas ao discursar depois de entregar à Associação Brasileira de Imprensa o troféu Personalidade da Comunicação, recebido pelo Vice-presidente da entidade e Presidente de sua representação em São Paulo, Audálio Dantas, na noite desta quarta-feira, 14, no Centro de Convenções Rebouças, na capital paulista. Ele recordava o alento que sentiram, no Rio, os presos políticos do regime militar em 31 de outubro de 1975, quando souberam que, em São Paulo, mais de 8 mil pessoas haviam participado do ato ecumênico contra a tortura e em memória do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nos porões da ditadura seis dias antes.
Emocionadas lembranças daqueles tempos tenebrosos também estiveram nas falas do próprio Audálio e do jornalista e escritor Rodolfo Konder, que representou o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, impossibilitado de comparecer à solenidade em homenagem ao centenário da entidade. Afinal, ambos estiveram direta e ativamente envolvidos no episódio, o primeiro, então Presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e o segundo, companheiro de prisão de Herzog.
A cerimônia fechou o primeiro dia do 11º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, que a Mega Brasil Comunicação realiza até esta sexta-feira, dia 16, com a participação de mais de 500 profissionais de todo o País. Integraram a mesa que presidiu a solenidade, além de Audálio, Konder e Ottoni — este representando o Ministro Franklin Martins —, Bruno Caetano, Secretário estadual de Comunicação de São Paulo — representando o Governador José Serra —, e Cícero Sandroni, Presidente da Academia Brasileira de Letras, além dos representantes dos patrocinadores, respectivamente, do prêmio e do congresso: Fernando Freitas, assessor de Relações Institucionais da Telefonica no Brasil, e Nemércio Nogueira, Diretor de Assuntos Institucionais da Alcoa América Latina.
Trajetórias
Rodolfo Konder e Audálio |
Primeiro a discursar, Sandroni chamou a atenção para a semelhança das trajetórias da ABL e da ABI, que partilharam inclusive diversos de seus membros (ele próprio milita em ambas), assim como os feitos da entidade jornalística, lembrando as pressões que esta sofreu dos governos de Artur Bernardes, de Getúlio Vargas e da ditadura militar. Fernando Freitas enfatizou a importância da ABI para o País, pois sempre esteve na linha de frente da liberdade de expressão e da construção da democracia brasileira.
Ao receber o troféu em nome de Maurício Azêdo, Konder prestou-lhe uma homenagem, recordando episódios da época em que ambos trabalharam na extinta revista Realidade, no fim dos anos 1970, e do período em que os jornalistas foram muito perseguidos (um deles o próprio Presidente da ABI, preso e barbaramente torturado). Mas também brincou:
— Eu deveria agradecer aos militares, pois o meu exílio me permitiu conhecer o Canadá, um país maravilhoso.
Audálio Dantas começou seu discurso de agradecimento também com uma homenagem, mas ao sempre repórter José Hamilton Ribeiro, que estava presente à cerimônia e foi o primeiro a receber o prêmio concedido agora à ABI. Depois, falou sobre as lutas da entidade ao longo desse século de vida:
— Estes cem anos não se restringem à retórica da liberdade de imprensa, mas a uma ativa e concreta participação na construção dos destinos do País.
Uma das principais, segundo ele, teve início com Gustavo Lacerda, criador do estatuto que daria origem à ABI, que conseguiu aprovar no primeiro congresso da categoria, em 1918, a idéia da criação de uma escola de profissionais da imprensa, que se concretizaria apenas em 1948, com o surgimento da primeira faculdade de Jornalismo do Brasil, a Cásper Líbero. Por fim, Audálio agradeceu o trabalho do Conselho Consultivo da ABI em São Paulo e homenageou Vladimir Herzog, afirmando que “sua morte nos fez repensar e refletir sobre a situação do País da época”.
Além de se emocionar com as lembranças daquele período, Ottoni Fernandes enfatizou a importância do papel da Associação e sentenciou:
— Feliz é o país que tem uma entidade como a ABI, que sempre prezou pela liberdade de expressão e de opinião.