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Em São Paulo, um museu multimídia da língua


09/05/2008


Dentro da Estação da Luz, em São Paulo, encontra-se o Museu da Língua Portuguesa, lugar onde não há livros, mas sim exposições audiovisuais interativas. As atrações do espaço, que em certas áreas parece até um parque de diversões, promovem uma experiência lúdica e de experimentação da linguagem de forma inovadora e com informações digitalizadas.

O acervo material foi pesquisado e selecionado durante três anos por uma equipe de sociólogos, artistas, museólogos e especialistas na área de lingüística. Trata-se de registros da vida cotidiana do povo brasileiro, de grandes artistas e comunicadores que permitem ao museu mostrar um amplo painel das origens do idioma, suas histórias e as transformações ocorridas a partir da influência dos povos indígena e africano e dos imigrantes que aqui chegaram, vindos dos mais diversos países.

São três andares e mais de 4 mil metros quadrados dedicados ao Português. No primeiro piso começa a notável escultura “Árvore de palavras”, criação do arquiteto e designer Rafic Farah que se estende até o alto do prédio. Em cada folha estão projetados contornos de inúmeros objetos e nas raízes ficam palavras que deram origem à nossa língua. A árvore pode ser visualizada dos dois elevadores, que também apresentam peculiaridades: nos intervalos de um pavimento a outro, é executada uma espécie de mantra com os vocábulos “língua” e “palavra” pronunciados em vários idiomas.

                                           Palavras Cruzadas

No segundo andar está a Grande Galeria, um salão que lembra uma estação de trem e onde são exibidos simultaneamente 11 filmes, de seis minutos cada, numa tela de 106 metros. O resultado é um mural em movimento de temas relacionados à cultura lingüística, como a música, as relações humanas, o carnaval e o futebol.

Ao lado ficam as Palavras Cruzadas, oito totens triangulares, chamados de “lanternas”, dedicados à posição do Português no mundo e às influências recebidas pelo Português falado no Brasil, dos dialetos indígenas e africanos ao espanhol, o inglês e o francês. Neste espaço, os visitantes têm a oportunidade de descobrir a origem de várias palavras usadas até hoje no vocabulário do brasileiro.

 Telão de 106 metros na Grande Galeria

Linhas

No Beco das Palavras, a diversão é conhecer a etimologia de termos mais que atuais, montando as palavras numa espécie de jogo eletrônico. Na mostra “Linha do tempo da História da Língua Portuguesa”, três linhas se fundem a partir de determinada época histórica: as línguas portuguesa, africana e ameríndias se unem para criar a linha do Português do Brasil. A atração permite que as pessoas acompanhem a história do idioma através de telas interativas e atrai visitantes ilustres como Pasquale Cipro Neto:
— Sempre que vou ao museu, não resisto a uma olhada na evolução do idioma e na fusão das linhas do tempo.

                                  Pasquale Cipro Neto

Famoso em todo o País, o professor diz que a visita do museu pode ser muito mais proveitosa para pessoas que não são especialistas da língua:
— O museu é importantíssimo e permite um mergulho num mundo diferente, além das constantes mostras e exposições. Para quem não é especialista ou um estudioso do idioma, o museu apresenta muitas informações que boa parte das pessoas nunca viu na escola, como um quadro evolutivo da língua, desde os primórdios até hoje, e as influências e as mudanças que o Português recebeu. O que mais me chama a atenção é a possibilidade de interação, por meio de vários equipamentos.

No terceiro piso do museu encontram-se o auditório e a Praça da Língua. No primeiro, com o uso de recursos audiovisuais, o fenômeno do Português do Brasil, língua tropical e mestiça, é desmembrado desde as origens. No segundo espaço, quando as luzes se apagam, o ambiente se torna um planetário de palavras projetadas no teto, enquanto no chão são exibidos grandes clássicos do idioma, escritos por romancistas e poetas como Gonçalves Dias, Machado de Assis e Oswald de Andrade, nas vozes de artistas como Chico Buarque, Zélia Duncan, Arnaldo Antunes e Maria Bethânia.

 Beco das Palavras

Números

Em 12 de dezembro de 2007, o Museu da Língua Portuguesa festejou 1 milhão de visitantes, seguindo um ritmo não visto em nenhum museu do País até agora. De acordo com o Superintendente Antonio Carlos Sartini, “a grande freqüência se deve ao sucesso que ele faz entre gente de todas as idades e origens. Temos estudantes, turistas de todo o País, estrangeiros, paulistas e paulistanos”. E o número continua a crescer, com um fluxo de cerca de 1.500 pessoas por dia de terça a sexta e 2.500 nos fins de semana:
— O perfil do nosso público é muito diversificado. Em 2006, o museu recebeu do Iphan um troféu por ser considerado o espaço que mais incentiva a visitação a outras instituições do gênero, ou seja, muitos dos nossos visitantes nunca haviam visitado outros museus. Tal característica nos dá grande alegria e, ao mesmo tempo, traz grandes responsabilidades.

A programação cultural e a interação também atraem, diz Sartini:
— Oferecemos um cardápio rico, diversificado e gratuito — no sábado, nem a entrada de R$ 4 é cobrada. Além de grandes exposições, temos como missão desenvolver uma programação que encante o público, desde espetáculos e contadores de histórias para as crianças e oficinas de fanzine e outras atividades que atraem os jovens, até cursos sobre poesia e literatura e peças para os adultos. Tudo isso de graça.

                  Espaço para exposições temporárias

Sobre a grande quantidade de visitantes, Pasquale Cipro Neto faz apenas uma ressalva:
— O número em si é expressivo, mas é bom lembrar que uma parte significativa é formada por estudantes que são levados pelas escolas. A visita dos escolares é positiva, claro. No entanto, não pode ser avaliada da mesma maneira que a visita espontânea. Uma idéia interessante para estimular esse tipo de visitação seria montar estandes de divulgação do museu em aeroportos e estações rodoviárias.

 O professor brinca, dizendo que não sabe se a digitalização da informação é o destino da humanidade:
— Mas no MLP seu uso se justifica, pela concepção e a proposta do lugar. É um fator inovador e, também, um dos ingredientes interessantes que ele tem a oferecer.

O museu e os projetos desenvolvidos no local são geridos pelo Instituto Brasil Leitor, entidade não-governamental e sem fins lucrativos que visa à expansão da utilização do idioma e da familiaridade com ele. O Diretor-Geral da instituição, William Nacked, também destaca a idéia inovadora do conteúdo imaterial e as exposições temporárias:
— O Museu da Língua Portuguesa é inusitado e artisticamente atraente, tem uma concepção moderna e interativa de difusão cultural, como se vê nas exposições sobre os grandes autores, permanentemente renovadas. Elas estão entre os motivos do grande retorno de visitantes. A verdade é que o MLP é mesmo muito interessante. Até eu estou constantemente aprendendo com ele. 

Passado e presente

Colaboradores e visitantes ilustres

Exposição Gilberto Freyre