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Diário do Nordeste faz matéria especial sobre a ABI


07/04/2008


Na sua edição desta segunda-feira, dia 7, o jornal Diário do Nordeste dedica matéria de capa do Caderno 3 às comemorações do Centenário da Associação Brasileira de Imprensa. O texto lembra a atuação da ABI em diversos atos em defesa da democracia e dos interesses do País, como as campanhas “O petróleo é nosso” e “Diretas já”. Cita também a resistência contra a censura e as arbitrariedades cometidas pela ditadura e o empenho pela anistia e a Constituinte. 


A seguir, a transcrição da matéria:

A luta pioneira pela organização coletiva dos profissionais de imprensa como protagonistas na sociedade. A campanha “O petróleo é nosso”, iniciada em 1948 e que redundaria na criação da Petrobras, hoje uma das maiores empresas do planeta. A resistência à censura e às arbitrariedades da ditadura militar em um estado de exceção. A mobilização pela anistia no fim dos anos 70, pelas Diretas Já e pela Constituinte na década seguinte. A vexatória derrocada do primeiro presidente eleito após a longa espera pela redemocratização do País.

São exemplos de capítulos da história brasileira escritos, no último século, com a participação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entidade que nesta segunda-feira chega aos 100 anos de atividades. E recebe homenagens no Rio de Janeiro, onde desde 1938 é sediada sob a marcante arquitetura do edifício Herbert Moses, no nº 71 da Rua Araújo Porto Alegre, no Centro da capital fluminense.

No Teatro Municipal, reunindo diversas personalidades escolhidas para compor a Comissão de Honra do Centenário da ABI, a noite de hoje ganha os sons da Orquestra Petrobras Sinfônica, apresentando uma releitura jazzística para obras de Villa-Lobos, e do cantor e compositor Paulinho da Viola. Também hoje será lançado pelos Correios um selo alusivo à data, trazendo a imagem da sede da Associação, junto à de seu primeiro presidente, o catarinense Gustavo de Lacerda.

As homenagens se estendem também ao jornalista Barbosa Lima Sobrinho, Presidente da ABI em quatro mandatos — o primeiro, iniciado em 1926. Ícone representativo das idéias nacionalistas e da importância do jornalismo para a democracia e a consciência política e social, Barbosa Lima Sobrinho teve papel preponderante na derrocada do Governo do Presidente Fernando Collor de Mello, como responsável pelo pedido de abertura de impeachment e primeiro orador inscrito para defender o processo.

Enquanto a programação da ABI promete se prolongar ao longo de todo o ano de seu centenário, com exposições, seminários e atividades em vários estados brasileiros, as homenagens neste 7 de abril, dia do Jornalista, se espalham pelo País, incluindo o Ceará.

Em Fortaleza, às 9h, a efemeridade será marcada por uma solenidade no plenário da Assembléia Legislativa, solicitada pelo presidente da casa, Deputado Domingos Filho (PMDB), a partir de proposta feita em conjunto pela Associação Cearense de Imprensa (ACI), pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindijorce), pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas no Estado do Ceará (Sintgrace) e pela Associação Cearense das Emissoras de Rádio e Televisão (Acert).

”Desde a sua fundação até os nossos dias, a ABI nunca se afastou do seu papel principal, que é a defesa da liberdade de expressão e dos direitos humanos. É com essa linha de atuação que ela tem estado na vanguarda de grandes acontecimentos do jornalismo e da história do Brasil como um todo”, afirma Ivonete Maia, recentemente eleita Presidente da Associação Cearense de Imprensa.

Destacando que a entidade procurará trazer a Fortaleza os eventos concebidos pela ABI para marcar o centenário, Ivonete ressalta o papel desempenhado pela instituição nacional quando a ditadura militar que perdurou de 1964 a 1985 impôs intensa perseguição a jornalistas e a vigência da censura prévia.

“Na ditadura, a ABI acolheu e assistiu muitos jornalistas perseguidos, fez com muita coragem o que precisava ser feito em um momento como aquele, dando apoio e proteção àqueles que estavam sendo procurados”, enfatiza a jornalista cearense. Na manhã da última sexta-feira, o auditório Oscar Guanabarino, no 9º andar do edifício da ABI, recebeu a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, para a primeira sessão especial de julgamento de pedidos de indenização de perseguidos políticos pelo critério de categorias específicas.

Com a presença do ministro Tarso Genro, foram julgados e deferidos 20 processos relacionados a jornalistas. Conforme destaca a ABI em seu site oficial, as maiores indenizações foram concedidas aos cartunistas Jaguar (R$ 1.027. 383,29) e Ziraldo (R$ 1.253.000,24).

Na ocasião, também foi lançada a Caravana da Anistia, iniciativa da Comissão para itinerar até 2010 por todos os estados brasileiros, chamando atenção para a questão da violação dos direitos humanos. A ocasião marcou ainda uma homenagem aos jornalistas David Capistrano (desaparecido em 1974) e Vladimir Herzog, morto após ser torturado em dependências do DOI-CODI, em São Paulo, em 1975. 

Jornalismo e conscientização

Em nota oficial assinada em conjunto com a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará destaca que o centenário da ABI marca “a luta histórica dos jornalistas brasileiros pela liberdade de expressão, pela valorização e pelo reconhecimento de uma profissão que, como diria o eterno presidente da ABI, Barbosa Lima Sobrinho, tem como principal compromisso levar à população a conscientização política e social”. O sindicato ressalta a luta por “salários dignos, condições de trabalho, qualificação permanente, respeito profissional e, sobretudo, regras claras que balizem a relação da imprensa com a sociedade”.

A Presidente do Sindijorce, Déborah Lima, lembra o pioneirismo da ABI na organização de uma entidade representativa dos jornalistas brasileiros:
— Paralelamente ao Sindicato dos Gráficos, que era classista e precedeu a organização dos jornalistas, a ABI teve esse papel histórico, de reunir a categoria, iniciar a organização dos jornalistas como classe — sublinha.—Mais tarde, com o Barbosa Lima Sobrinho, a entidade se volta pra valorização da profissão e pra defesa da responsabilidade social do jornalismo como ferramenta de conscientização do povo brasileiro.

Presidente da Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Ceará, o jornalista e radialista Edilmar Norões, diretor-geral de programação das TVs Diário e Verdes Mares e colunista do Diário do Nordeste, enfatiza a batalha histórica da ABI pela liberdade de expressão:
— Não se faz democracia forte sem liberdade de expressão. Esse sempre foi o grande objetivo da ABI, em momentos difíceis como a ditadura. Só se fazem entidades como a ABI lutando, batalhando, como ela faz, afirma.

Para Edilmar Norões as comemorações em torno dessa data são extremamente necessárias:
— O papel da ABI ao longo desses 100 anos precisa ser mostrado à nação — acrescenta Edilmar. — Hoje a imprensa tem mais transparência, e o veículo que não refletir a verdade vai responder perante seu público. Por mais que se possa ter uma crítica aqui ou acolá, são os jornais que trazem as grandes denúncias. Um presidente da República foi cassado graças à repercussão dada pela imprensa. A ABI lutou por essa liberdade, cumpriu e cumpre com esse papel. E, daqui pra frente, mais é que tem condições de cumprir. 

Uma instituição pioneira

Criada em 7 de abril de 1908, a ABI tinha como objetivo assegurar direitos assistenciais à classe jornalística e tornar-se um centro de ação. Nas palavras de seu fundador, Gustavo de Lacerda, a instituição deveria ser “um campo neutro em que se pudessem abrigar todos os trabalhadores da imprensa”.

O primeiro projeto de estatuto da entidade foi elaborado por Mário Galvão e Amorim Júnior, juntamente com Lacerda. De acordo com o histórico mantido pela ABI, a Associação demandou muita luta para se consolidar, com seus fundadores muitas vezes tratados como indesejáveis, entre o descaso e a hostilidade.

Quanto à estrutura física, a entidade passou por diversos espaços alugados ou cedidos pelo Poder Público, até construir sua sede, na década de 30, em um edifício que se tornaria marcante para a arquitetura moderna brasileira, sob influência do suíço Le Corbusier. O 7º andar do edifício foi palco de um atentado a bomba em 1976, quando a ABI se destacava entre as entidades de resistência ao regime militar.

Mais informações: 100 anos da Associação Brasileira de Imprensa. Solenidade hoje, às 9h, na Assembléia Legislativa (Av. Desembargador Moreira, 2807). Informações: 3277-2500.