09/04/2025
Foto: João Rodrigues
Foi realizado, na terça-feira (08/04), o segundo encontro da 3ª Semana Nacional de Jornalismo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), com o tema Como combater os desertos de notícias. O evento integra um projeto nacional da ABI que busca promover o debate sobre os principais desafios enfrentados pela comunicação brasileira, reunindo profissionais da imprensa, pesquisadores e entidades ligadas ao jornalismo.
Esse segundo encontro foi realizado no auditório José Albano, da Universidade Federal do Ceará (UFC), e teve mediação de Salomão de Castro, diretor da Associação Cearense de Imprensa (ACI) e membro do Conselho Deliberativo da ABI. A mesa foi composta por Kamila Bossato Fernandes (jornalista e professora da UFC), Edgard Patrício (professor da UFC e pesquisador do grupo Práxis no Jornalismo), Helly Ellery (presidente da ACI) e Marta Alencar (professora da Universidade Federal do Maranhão e pesquisadora da PráxisJor).
O encontro discutiu os desafios enfrentados por regiões com pouca ou nenhuma cobertura jornalística e a importância da produção de conteúdo informativo local como ferramenta para a garantia do direito à comunicação. Também foram abordadas experiências de jornalismo independente, o papel das universidades na formação de jornalistas atentos às demandas dos territórios e o envolvimento da sociedade civil na busca por soluções.
Salomão de Castro, diretor da ACI e membro do Conselho Deliberativo da ABI, atuando como mediador da mesa, destacou a importância da colaboração entre instituições como a ACI, a Universidade Federal do Ceará e outras entidades envolvidas na organização do evento. Para ele, a mobilização foi um exemplo de articulação coletiva bem-sucedida, com participação ativa de associados da ABI, como a professora e jornalista Kamila Fernandes. “Foi uma grande contribuição pra esse debate importante, relevante sobre os desertos de notícias.Foi um evento muito importante para todas as instituições envolvidas e para o público que acompanhou presencialmente e também pela internet”, concluiu.
O presidente da Associação Cearense de Imprensa (ACI), Helly Ellery, participou do painel e trouxe a perspectiva da sociedade civil sobre os desertos de notícias. Ele destacou que esses territórios não apenas carecem de cobertura jornalística, como também se tornam ambientes propícios à desinformação e à disseminação de notícias falsas, com impactos diretos na vida das pessoas. “O deserto de notícias também é um campo fértil para a indústria criminosa da fake news”, afirmou.
Kamila Fernandes, professora do curso de Jornalismo da UFC, discutiu as causas estruturais dos chamados desertos de notícias — regiões onde a população não tem acesso à informação de qualidade. Em sua fala, ela destacou como a ausência de veículos de comunicação está profundamente ligada a relações de poder. “Quando a gente percebe que tem os desertos, a gente tem que ter noção de que é uma questão de poder. Há um interesse em certos grupos, que dominam certas regiões, de que a população não tem acesso à informação de qualidade. E o único antídoto pra isso, a única forma de combater essa situação de domínio, écom mais informação”, destaca.
Durante o encontro, o jornalista e professor Edgard Patrício, da Universidade Federal do Ceará, estava escalado para discutir a atuação de iniciativas independentes no jornalismo e sua relação com a produção de conteúdo em diferentes territórios. Em sua fala, ele destacou o papel do curso de Jornalismo da UFC ao trazer esse debate para o centro das discussões acadêmicas e refletiu sobre a necessidade de ampliar a visão sobre o mercado de trabalho na área. “Quando eu falo mercado de trabalho, eu incluo no mercado de trabalho os veículos de jornalismo independente”, afirmou, defendendo que é preciso repensar os parâmetros que definem o que se entende como mercado no jornalismo.
Marta Alencar, professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), jornalista e doutoranda em Ciências da Comunicação, falou sobre o impacto da informação local no combate à desinformação em desertos informativos. Bem como sobre o consumo de informação localmente.
Os próximos passos envolvem a sistematização das propostas discutidas para que sejam incorporadas às práticas de universidades, coletivos de mídia e entidades jornalísticas. O objetivo é fortalecer iniciativas voltadas ao jornalismo local e comunitário e contribuir para a superação dos desertos de notícias em diferentes regiões do país.