08/09/2008
Colaboração de Bernardino Capell Ferreira, jornalista, economista, historiador e sócio da ABI
Tive o grato prazer de estar presente a duas palestras no mês de agosto — a primeira na Escola Superior de Guerra (ESG), no dia 5, quando da realização de mais um ciclo de estudos acadêmicos, e no Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (Casa de Deodoro), esta no dia 12.
Na ESG o palestrante da aula magna do curso foi o professor Paulo Fernando Fleury, do Centro de Estudos de Logística da UFRJ (Coppead), o qual discorreu muito apropriadamente sobre os fatores logísticos no mundo globalizado que incidem sobre a evolução socioeconômica do País.
Na Casa de Deodoro, ouvimos o Coronel Antonio Celente Videira, da Seção de Assuntos de Logística e Mobilização da ESG, o qual, retrocedendo aos primórdios da História, nos deu uma ampla visão sobre os problemas da logística, face à necessidade natural da sobrevivência dos povos e sua evolução nos tempos.
Analisando ambas as exposições das abalizadas autoridades citadas e concluindo que mais foram referidas as ocorrências ligadas à logística e ao considerar o momento no qual vivemos, penso que a inclusão da estratégia é necessária a qualquer estudo que se faça em torno da evolução dos povos, desde a época da pedra lascada até aos nossos dias — aliás, na verdade, jamais poderíamos ou deveríamos dissociar a estratégia da logística, uma vez que a primeira é o “como fazer” e a segunda é o “como vamos fazer”.
Permitam-me os palestrantes o “gancho” que extraí das suas lições, para citá-las como pano de fundo, principalmente no que diz respeito à estratégia, uma vez que a palavra se une perfeitamente, como se xifópaga fosse, à sua irmã logística, mais sábia e mais prudente.
A meu ver, a estratégia é o que nos falta — não cuidamos muito de esquematizar e planejar o que fazer e quando o fazemos esquecemos, muitas das vezes, de submeter nossos planos ao crivo da logística.
Aproveito a oportunidade para julgar que os fatores ligados à estratégia e à logística se unem e a História é outra vez chamada, quando observamos que ambas estão presentes quer na igreja como nas instituições militares, pois ambas, uma vez estruturadas em seus dogmas, credos, regimentos estatutários etc., seguem, disciplinar e hierarquicamente, nas suas evoluções, desde tempos remotíssimos, dentro do que poderíamos chamar de logística sociopolítica, eis que calcadas foram na estratégia vincular.
Quanto ao que rege o aspecto na órbita civil, relacionada a planos e projetos, podem estar ligados à estratégia quando se trata de ações empresariais, mas dificilmente estão amparados pela logística, pela simples falta de estudos mais profundos, quando se trata de ações governamentais.
Exemplo da ligação estratégia/logística nos dá a Vale (O Globo de 3 de agosto último) ao construir uma usina-piloto, a 500 quilômetros de Teresina-PI, para extração e beneficiamento de níquel ao custo de R$ 68 milhões.
Chamemos isso a estratégia ligada à logística, porque o custo-benefício foi amplamente observado, prevendo-se a evolução local, em razão de empregos, redução do êxodo de habitantes e atração de novos investimentos comerciais e industriais.
As observações dos palestrantes acima citados nos dão ciência das graves deficiências do País em termos principalmente do transporte: portos sem calados; péssimas condições das nossas rodovias; ferrovias na dependência de renovação de equipamentos e ligação aos vários destinos na sua malha; falta de estudos para implantação do transporte hidroviário, assim como do sistema de eclusas em nossos rios, permitindo a ação econômica de empurradores; o mais rápido progresso no aproveitamento de nossas oleaginosas na obtenção de combustíveis; a continuidade da transposição das águas do Rio São Francisco e revitalização dos seus afluentes. São obras, creio eu, que devem ser efetuadas e sendo, na sua maioria, de grande porte, exigem a aplicação de vultosas importâncias. Com relação a esse dispêndio, acreditamos que o Estado poderia atrair a participação de empresas e indústrias particulares (PPPS) dando-lhes melhores condições na tributação de seus negócios durante as instalações das mesmas nas áreas previamente estudadas pelos órgãos competentes dos governos estaduais, ou outras vantagens.
E são essas as observações que fazemos em razão dos fatos que nos foram apresentados pelos palestrantes.
Após as exposições, foram abertos os debates, tendo eu efetuado as seguintes perguntas:
a) ao Professor Paulo Fernando Fleury, indagamos: BR>— Considerando que o minério de Carajás é enviado por via férrea a São Luís do Maranhão e ao porto de Itaqui em paletes, sendo daí exportado para o Japão e outros destinos, ainda não se cogitou da construção de uma siderúrgica nas proximidades daquele porto, considerando, inclusive, que o mesmo possui um dos maiores calados do Brasil, o que possibilitaria a exportação de produtos acabados como lingotes, bobinas, trilhos, chapas e bobinas a preços mais vantajosos?
Resposta:
— Isso desde há muito vem sendo cogitado e devo crer que a Vale teria o maior interesse no assunto, mas a questão é meramente política.
b) ao Coronel Celente Videira, indagamos:
— Teria procedência julgarmos que haveria entre as palavras estratégia e logística uma certa simbiose quando da sua aplicação, em razão dos quadros que nos mostrou no decorrer da sua magnífica palestra?
Resposta:
— Evidente que sim. A significação é mutável no momento em que os fatos que ocorrem as transfiguram, do preparo entre o que se cogita fazer, em todos os seus ângulos, para o que será feito com máxima margem de segurança prevista.
Elucidou ainda o Coronel Videira outros pontos que julgou merecerem maiores conhecimentos no que tange à logística militar, dando-me eu por satisfeito e parabenizando-o.
Palestras como essas deveriam ser difundidas como preceitos educativos e culturais nas escolas e universidades, visando ao esclarecimento em torno dos fatos que se interligam à vida nacional.