14/12/2009
Começou na manhã desta segunda-feira, dia 14 de dezembro, o “Encontro de Arte Negra – Seminário de Estética e Negritude no Brasil Contemporâneo”, promovido pelo Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan), presidido pelo ator Antônio Pompeo, que visa à participação do negro na mídia, a questão estética e a autoafirmação dos afrodescendentes.
O evento, que conta com patrocínio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e apoio da ABI, foi realizado no Auditório Oscar Guanabarino, localizado no nono andar da sede da entidade, no Centro do Rio. Com abertura feita pelo Ministro de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, o encontro teve como palestrantes o antropólogo da UFF, Júlio Tavares, a escritora Helena Teodoro, e o Pesquisador da Universidade Cândido Mendes, Jacques d’Adesky, tendo como mediador Martvs Chagas, da Seppir.
O tema do primeiro debate foi “Negritude (s) em trânsito e reapropriação do belo”, e os debatedores listaram uma gama de conceitos negativos ainda presentes em nossa cultura, embora admitindo que haja alguns avanços, e que a discussão sobre o assunto tende a melhorar a autoestima e a participação maior do negro, através do conhecimento.
Chamado pelo ator Antônio Pompeo, o Ministro Edson Santos disse que a sua Pasta segue à risca as determinações do orçamento e que por isso é difícil patrocinar eventos fora do programa, mas com muito empenho consegue verba para alguns. Ele ressaltou que só há 5% de negros na Câmara dos Deputados e no universo de 81 senadores só há dois afrodescendentes no Senado: o Senador Paulo Paim e a Senadora Marina da Silva:
Segundo Edson Santos, aprovar leis como antirracistas no Congresso, como cotas e o Estatuto da Igualdade Racial, “é um ato de grandiosidade de dessas figuras”:
— Hoje, felizmente, o Brasil já se reconhece como um país negro. Mais de 50% da população já se declaram negros. Eu vejo com muito carinho o tratamento e o relacionamento com instituições, como CIDAN, que cumpre o papel importantíssimo de organizar os nossos jovens para que mesmo que venham a se tornar grandes artistas não percam a consciência que estão ali para cumprir uma missão — acrescentou o Edson Santos, desejando que o seminário seja mais um passo para que o Brasil possa se tornar um País menos racista.
Debates
Conforme o programa, Julio Tavares iniciou as palestras, reconhecendo que já há uma mudança social em relação à imagem do negro no Brasil. Segundo ele, isso se deve à afirmação do si próprio. Para o antropólogo, o conjunto de expressões, como andar, no sentido de locomoção, gesticular, como complemento da fala, e o ritmo, que motiva o gingado, formam a personalidade da pessoa, de qualquer raça, fazendo-se reconhecer a sua etnia:
— Antigamente existia uma ditadura eurocentrista. Tudo o que não seguia os padrões europeus era feio. Hoje, o espelho é a afirmação do si próprio e, portanto, há a hegemonia neste País — declarou o antropólogo da UFF.
A escritora Helena Teodoro ressaltou a apropriação do belo, o processo da estética, da beleza e da arte em geral. De acordo com ela, a estética vem de uma série de teorias criadas na Europa, numa época de colonização das Américas, fazendo com que os europeus não reconhecessem como belo o que vinha da África, ou até mesmo uma arte menor:
— Hoje nós temos a reapropriação do belo, inclusive em cima da arte de esculturas de Mestre Didi, que vai trazer uma nova visão das comunidades de terreiros, dos emblemas dos orixás, reorganizando formas, cores e de sons, em exposições que criam as famosas semanas de cultura afrobrasileira, recebendo reconhecimento internacional — ressaltou Helena Teodoro.
Jackes d’Adesky falou que a concepção do belo vem das próprias mães, que exprimem a beleza de seus bebês. Ele reclama que ainda no Brasil há alguns tabus que precisam ser revistos, citando que verifica que os casais negros nunca são protagonistas e não se beijam nos programas de tevês. Ele lembrou também que ainda é muito difícil encontrar secretárias executivas negras nas grandes empresas:
— Até mesmo no futebol, que é o esporte mais popular do Brasil, são poucos os técnicos negros. Em todo o País, há o Wanderlei Luxemburgo e somente agora, ainda com muita dificuldade, temos o Andrade (técnico do Flamengo) — afirmou o pesquisador.
Ao final do encontro, fazendo parte da platéia, a atriz Zezé Mota lembrou que quando jovem era chamada de feia, porque tinha “cabelo duro, bumbum grande e nariz chato”. Por isso, tinha vontade de passar por um processo de embranquecimento, chegando até a usar uma peruca chanel:
— Na primeira vez que eu fui aos Estados Unidos eu vi que os negros de lá andavam de cabeça erguida. E eu os achava bonitos. Se os negros de lá eram bonitos, por que os daqui não poderiam ser? – contou Zezé.
O evento tem continuidade amanhã, confira aqui a programação