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Carta de Linhares: a tortura revelada


18/04/2025


Na quarta-feira (16), a diretoria de Cultura da ABI apresentou o documentário Carta de Linhares: a tortura revelada, seguida de debate com a professora aposentada da UFRJ e ex-presa política, Jessie Jane; Fernanda Pradal, prof. do Depto de Direito e pesquisadora do Núcleo de Direitos Humanos da PUC/RJ; Leo Alves, mestre e doutorando em estudos contemporâneos das artes (PPGCA-UFF), todos do Coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação, e do diretor do documentário, jornalista Marcelo Passos. A mediação foi da jornalista Inaê Amado.

Foto: Rogério Marques

Jessie Jane, Fernanda Pradal, Inaê Amado, Leo Alves e Marcelo Passos

Fernanda e Leo não tinham conhecimento da Carta de Linhares, escrita pelos presos do grupo Colina. A primeira carta foi pega com a mãe de um dos presos, que acabou sendo presa também. Eles, então, fizeram uma segunda carta com os nomes dos torturados e torturadores, e ninguém tem certeza, até hoje, como esta conseguiu sair do presídio de Linhares e chegar a diversos países da Europa e América do Sul, tendo se tornado a primeira denúncia de tortura praticada pelos militares no Brasil.

O documentário não se prende apenas a contar a história de tortura e torturados, mostra o importante papel de mulheres, mães, companheiras e filhas na resistência ao regime. E é, principalmente sobre essa resistência que os palestrantes discorreram.

Todas as participações podem ser ouvidas neste link.

Entre os presos estavam a ex-presidenta Dilma Roussef e o ex-governador de Minas, Fernando Pimentel.

Depois de passarem pelos porões do DOPS, Delegacia de Furtos e Roubos e quartéis militares, em Belo Horizonte e pela Polícia do Exército, no Rio de Janeiro, onde sofreram todo tipo de torturas, os militantes foram levados para a Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora. A instituição, que abrigava presos comuns, havia sido desocupada para receber os presos políticos sob a custódia da Justiça Militar.

Foi lá que eles se reuniram, no final de 1969, e produziram a chamada Carta de Linhares, documento que revelava, em 28 páginas, com riqueza de detalhes, toda a tortura sofrida por cada um dos presos, citando os nomes dos torturadores e descrevendo os métodos utilizados, como o pau de arara, a palmatória e o choque elétrico. O texto denuncia, inclusive, a morte de João Lucas Alves, brutalmente torturado na Delegacia de Furtos e Roubos de BH. No entanto, “os policiais afirmaram que João Lucas suicidou-se com sua própria calça”.

Esta carta foi levada para fora do país e ganhou repercussão internacional, enquanto o governo militar negava a veracidade das denúncias, e os principais veículos de comunicação encampavam a versão dos militares e tratavam como “terroristas” os signatários do manuscrito.

A maioria dos militantes do COLINA foi trocada por embaixadores sequestrados e se exilou pelo mundo.