21/02/2006
Rodrigo Caixeta
17/03/06
Há quase dez anos, Bernadete Matosinhos Duarte — ou Bete Duarte, como é mais conhecida — é editora do Gastronomia, suplemento semanal de oito páginas dedicadas exclusivamente ao tema e que fala também de vinhos e outros assuntos da boa mesa. O caderno, publicado há 12 anos no Zero Hora, é pioneiro no Brasil e Bete participa dele desde o início, fazendo matérias e assinando uma coluna de cozinha light.
Nascida em Belo Horizonte, Bete transferiu-se da capital mineira para Porto Alegre aos 14 anos de idade. Hoje, aos 51, acumula 32 de carreira — 27 deles no Zero Hora, onde começou como copidesque e já foi editora de todas as seções do jornal. Sua trajetória profissional teve início quando ainda era estudante do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, trabalhando na TV Piratini, na capital gaúcha, por apenas quatro meses, devido ao fim das operações de seu departamento. Naquela ocasião, recebeu um convite de transferência para o Diário de Notícias, publicação também dos Diários Associados, onde permaneceu os quatro anos da faculdade — “foi um período difícil para o exercício da profissão, devido às imposições da ditadura”. Em seguida, foi repórter da sucursal Porto Alegre da Bloch Editores por dois anos, até receber o convite para trabalhar no veículo atual.
À frente do Gastronomia, Bete diz que não tem equipe — conta apenas com uma diagramadora e os fotógrafos do jornal. Ainda assim, encontrou tempo para se dedicar ao mestrado em Comunicação e ao doutorado em Letras, ambos na PUC-RS, onde também leciona três disciplinas no curso de Jornalismo.
ABI Online — Como é estar há dez anos editando o caderno pioneiro sobre gastronomia no Brasil?
Bete Duarte — Fazer o Gastronomia é mais um prazer do que um trabalho. Desde jovem me interesso pelos assuntos da cozinha. Enquanto minhas amigas liam fotonovelas (elas estavam no auge, na época), eu gostava de ler livros de psicologia e de culinária. Mas jamais imaginei que iria trabalhar com o assunto, até porque, até há pouco tempo cozinhar era uma atividade muito mais ligada à obrigação do que ao prazer. Quando o Marcelo Rech (então editor-chefe, hoje diretor de Redação) propôs que eu assumisse a edição do Gastronomia, relutei. Achava que ficar escrevendo e editando sobre um único tema seria muito chato, além de ser difícil produzir assunto para oito páginas toda semana. Estava enganada. É uma delícia. O pioneirismo do caderno, o reconhecimento dos chefs e, principalmente, a aceitação dos leitores me deixam muito orgulhosa. Às sextas-feiras, quando sai no jornal, o caderno é sempre citado como o que mais chamou a atenção dos leitores do Zero Hora, na pesquisa diária feita pela empresa junto aos assinantes.
ABI Online — O que o leitor pode encontrar no seu caderno?
Bete — Do cozinheiro iniciante ao gourmet, do dono de restaurante ao chef de cozinha, o Gastronomia procura fazer matérias para todo o tipo de pessoa interessada em boa mesa. Há apresentação de restaurantes, receitas simples e sofisticadas, dicas de novidades e cobertura de grandes eventos. Temos realizado também mostras de gastronomia, com chefs locais, nacionais e estrangeiros. A gastronomia, desde que comecei no setor, virou moda e ganhou muito espaço. Se no passado cozinhar era coisa de dona de casa, hoje é uma profissão envolta em glamour. Correndo, inclusive, o risco de ser glamourizada demais, deixando em segundo plano a necessidade de muito estudo técnico e as dificuldades de uma vida de horas em frente ao fogão.
ABI Online — O que é preciso saber para falar sobre gastronomia e vinhos? Como você se especializou nisso?
Bete — O estudo é constante, são muitas horas de cursos. É preciso atualização, leituras, pesquisas, aulas e também degustações freqüentes. Minha especialização tem sido com todas essas práticas, inclusive muitos testes na cozinha.
ABI Online — E você ainda encontrou tempo para dar aulas em faculdade. O que a levou para a vida acadêmica?
Bete — O jornalismo é uma paixão. E foi ele que me levou à vida acadêmica. Dar aulas me deixa atualizada, o contato com os jovens me permite acompanhar a visão dos que estão para entrar no mercado. A mescla da experiência acumulada e o desafio de estar à altura da exigência dos alunos me fez buscar o mestrado e o doutorado e faz com que eu continue em busca de aperfeiçoamento.
ABI Online — Você tem intenção de algum dia mudar de área? Para qual seria?
Bete — Estou muito feliz no caderno, por isso não penso em mudar. Consegui juntar duas paixões: o jornalismo e a gastronomia.