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A morte de parte da nossa história


22/04/2025


Por Luís Nassif (*), em GGN

Adnei morreu. Sérgio Peru foi atropelado e está mal, e me disse que o Advogado está pior. Meio Quilo fugiu de um encontro comigo, por estar com Parkinson. Francha morreu, assim como Arlei, o Tião Cabo Verde, o Caiuby, o Aref, o Zé Grandão. Bem antes deles, morreram o Barbosinha, nosso Netinho, a Rosa Maria, musa maior do GGN.

João Amaral  armou uma última reunião do GGN, anos atrás. Foram educados comigo, porque não se discutiu política, e não precisei saber quais amigos do GGN tinham bolsonarado. Só recordamos as canções que marcaram nossa geração. Pouco depois, ele morreu. A reunião foi sua despedida, sem que soubéssemos. Dos amigos de longe, restaram apenas o Tomás e a prima Cristina, acho que o Zé Robertinho.

Todos nós éramos seguidores incondicionais de João 23 e da Mater et Magistra. E, agora, com a morte do Papa Francisco, parece a segunda morte de João 23 e de uma Igreja que se perdeu no reinado obtuso de João Paulo 2º, o verdugo da Teologia da Libertação.

Há um sentimento de solidão de todos que sonhamos com um mundo melhor. É como se, dia após dia, avançasse o arbítrio, o individualismo atroz, trazendo consigo a insensibilidade, a crueldade transmudada em planilhas indecifráveis, os bezerros dourados da contemporaneidade vazia.
Até que surgiu o Papa Francisco.

Não teve tempo de desmanchar a destruição perpetrada pelo indigno João Paulo 2º, que assumiu após a morte de João Paulo 1º, o breve. Nem sei se estava em seus propósitos reconstruir esse braço da Igreja católica latino-americana.

Mas ajudou a arejar o bolor secular da Igreja. Abençoava o casal gay mas não oficializou o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Enaltecia o papel da mulher, mas não abriu espaço dentro do opressivo patriarcado que domina a Igreja. Celebrava a família, mas não ousou aceitar o casamento de padres nem a ordenação de pessoas casadas.

Mas, de qualquer modo, espalhou a solidariedade e o respeito ao próximo por todos os quadrantes. Ontem, havia informações de evangélicos aos prantos, de palestinos e da Federação Israelita lamentando. Com ele morreu não apenas um pedaço da Igreja, mas do espírito de solidariedade, cada vez mais escasso em um mundo dominado pelos algoritmos.
(*) do Conselho Fiscal da ABI