A arte de prender o passado


26/04/2007


José Reinaldo Marques
27/04/2007

Guzanshe nasceu em Aimorés, Leste de Minas Gerais, e ainda criança mudou-se com a família para Belo Horizonte. Na capital mineira, formou-se em Jornalismo e fez pós-graduação em Jornalismo e Práticas Contemporâneas, ao mesmo tempo em que decidiu que seria repórter-fotográfico: O que mais atrai o fotojornalista Alexandre Guzanshe em sua profissão é o poder de informar através do congelamento de uma cena:
— Uma das principais funções do fotojornalismo é o seu caráter historiográfico, de capturar a memória de algo que ficou no passado, transformando a imagem registrada em luz e cor numa figura concreta.

— Desde cedo fui muito ligado à imagem, em captar o movimento, um instante decisivo… Na adolescência, comecei a fotografar com uma Olympus da família; eram apenas coisas caseiras. No período da faculdade, comprei uma Yashica. Até que tomei a decisão de me tornar repórter-fotográfico e resolvi investir num equipamento profissional.

Entre os fotógrafos que influenciaram a sua decisão, ele destaca três: Alessandro Carvalho — “também um grande amigo” —, Sebastião Salgado — “conterrâneo de Aimorés e autor de obra inspiradora” — e Henri Cartier-Bresson — “que considero um dos criadores do fotojornalismo”.

Prêmio

Guzanshe ganhou recentemente o primeiro lugar do concurso Jornalistas em Foco, promovido pela Canon, com a foto “Correria” — o tema era “O Brasil que nós gostamos: do folclore e riquezas naturais à cultura contemporânea” e a categoria profissional recebeu mais de 1,2 mil inscrições.

“Correria” foi tirada no estádio Governador Magalhães Pinto — mais conhecido como Mineirão —, do alto da laje que cobre a arquibancada, ponto mais alto e de difícil acesso do local. Com privilegiada visão panorâmica, o fotógrafo preparava-se para acompanhar um jogo do Campeonato Brasileiro, quando percebeu que poderia fazer um registro, com efeito especial, da movimentação dos jogadores entrando em campo e das crianças que costumam acompanhá-los:
— Quando elas saíam do gramado, imaginei a cena. Em poucos segundos, baixei a velocidade do obturador, fiz o enquadramento e disparei. Assim surgiu a foto que eu batizei de “Correria”, com que recebi meu primeiro prêmio fotográfico. Fiquei emocionado e muito honrado.

O fato de muitos fotógrafos consagrados terem participado da disputa do Jornalistas em Foco fez com que a premiação tivesse um sabor especial para Alexandre Guzanshe. E mais: estavam no júri Araquém Alcântara e Cristiano Mascaro, dois ícones da fotografia contemporânea nacional:
— Ganhar o primeiro lugar me fez me sentir muito honrado e feliz. Ainda não percebi o impacto da premiação, mas imagino que a minha fotografia vai ser vista com outros olhos depois desse prêmio.

Desejo

Guzanshe diz que nunca fez um curso específico de Fotografia. Teve teve apenas dois períodos de Fotojornalismo na faculdade e ganhou prática exercitando-se no dia-a-dia, acreditando, até hoje, que poderá sempre aprender mais enquanto explorar todas os recursos do seu equipamento. Diz também que é fundamental ler e ir ao cinema e a exposições.

Para ele, o olhar do repórter-fotográfico ajuda a dar sentido à realidade humana e lhe atribui forma:
— Nosso modo de olhar, de ver é sempre marcado, de uma forma ou de outra, por índices que nos chegam da cultura e, mais particularmente, da maneira como esta se inscreve em cada um de nós. A fotografia não escapa a esta regra.

Diretor da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de Minas Gerais (Arfoc-MG), Alexandre Guzanshe desenvolve trabalhos em artes plásticas e cinema, paralelamente às fotos que faz como freelancer para diversas empresas de comunicação, entidades civis e sindicatos. Seu grande desejo, confessa, é conseguir uma vaga fixa numa redação de jornal ou revista:
— Ainda não consegui realizá-lo. Recentemente cobri as férias de um amigo no jornal Diário do Comércio de Belo Horizonte e foi uma ótima experiência.
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