Vasco, 110 anos (III)


15/08/2008


Os títulos de campeão carioca de 1947 e de campeão dos campeões, conquistado em Santiago do Chile no primeiro semestre de 48, e o retorno de Ademir davam aos torcedores do Vasco a convicção de que o campeonato carioca estava no papo.

O Botafogo, que vinha de uma série de vice-campeonatos, cedeu Heleno de Freitas, sua grande estrela, ao Boca Juniors, contratou o veterano Silvio Pirilo, do Flamengo, para substituí-lo, promoveu Zezé Moreira para técnico do time principal e apresentou o extraordinário Nilton Santos ao mundo do futebol, além do veloz e eficiente ponta-direita Paraguaio. Com a experiência aliada à juventude, a equipe alvinegra se valeu da força do conjunto para chegar à última rodada em igualdade de condições com o temível “Expresso da Vitória”. Num jogo memorável, no dia 12 de dezembro de 1948, o Vasco perdeu por 3 a 1 e o título ficou em General Severiano.

No ano seguinte, Heleno de Freitas retornou ao futebol brasileiro e vestiu a camisa vascaína. Flávio Costa, técnico campeão de 47, permanecia no comando da equipe. A campanha no campeonato carioca de 1949 foi extraordinária, culminando com o título invicto. Foram 18 vitórias e dois empates, com sete pontos de vantagem sobre o Fluminense, 2º colocado. Os artilheiros vascaínos marcaram 84 gols. O Vasco usou oito atacantes: Nestor, Maneca, Ipojucan, Heleno, Ademir, Mário, Lima e Chico. Ademir liderou a artilharia do campeonato, balançando as redes adversárias 30 vezes. Os resultados dos jogos apresentaram goleadas espetaculares: São Cristóvão (11 a 0), Canto do Rio (6 a 0), América (8 a 2), Flamengo (5 a 2), Bonsucesso (8 a 1).


Bicampeão

O Vasco, que servira de base para a seleção brasileira campeã sul-americana de 49, no Rio de Janeiro, cedeu oitos jogadores para o mundial de 1950. Depois da decepção com a perda do título para os uruguaios, a equipe vascaína conquistou o primeiro campeonato da era Maracanã, tornando-se bicampeão carioca.

Pelo segundo ano consecutivo, Ademir consagrava-se artilheiro, agora com 23 gols. O maior adversário foi o América, que se manteve invicto na liderança do campeonato até a 17ª rodada. Na partida decisiva, o Vasco tinha a vantagem de um ponto sobre o time americano. No dia 28 de janeiro de 1951, ao vencer o América por 2 a 1, gols de Ademir, os vascaínos se sagraram bicampeões cariocas, alinhando com Barbosa, Augusto e Laerte; Jorge, Danilo e Eli; Djalma, Ipojucan, Ademir, Maneca e Chico. 

Em 1951, Flávio Costa deixou a direção técnica do Vasco, sendo substituído por Oto Glória. Com o fraco desempenho da equipe, o Vasco terminou em 5º lugar no campeonato carioca. Porém, em abril, nove meses depois do fatídico dia 16 de julho de 1950, o time de São Januário conseguiu dois resultados altamente significativos. Foram duas vitórias sobre o Peñarol, base da seleção uruguaia campeã do mundo: a primeira por 3 a 0, em Montevidéu, e a segunda de 2 a 0, no Maracanã. Barbosa mostrou a todos que era um grande goleiro e teve duas atuações extraordinárias. Ele defende diante de Miguez no jogo realizado na capital uruguaia. (Foto 03)

Moral

O “Expresso da Vitória” envelhecera e estava precisando que alguém o reanimasse. Gentil Cardoso, o “velho marinheiro”, conseguiu o milagre. Barbosa comentou a chegada de Gentil a São Januário:
Quando chegou o final do ano de 51, a opinião era de que o grande esquadrão do Vasco tinha acabado. Mas não era verdade. O grande esquadrão do Vasco tinha perdido aquele elã. Tanto que, no ano seguinte, o Gentil Cardoso deu moral ao time e nós fomos campeões quase invictos. Perdemos apenas para o Fluminense com quem, também, empatamos e tivemos outro empate com o Botafogo.”

Nesse ano, surgiram jogadores que fizeram história, em São Januário. Destacaram-se Haroldo, vindo do Botafogo; o pernambucano Vavá; Orlando e Coronel, egressos das divisões de base; Sabará, ex-Ponte Preta; e Belini, que se tornaria o maior capitão da história do futebol vascaíno. Foram 17 vitórias, dois empates e uma derrota. O Vasco terminou o campeonato com quatro pontos perdidos, obtendo seis de vantagem sobre a dupla Fla x Flu.

Gentil Cardoso, o grande comandante, vibrou muito com o título, confraternizando com João Silva, o Presidente Ciro Aranha e Ademir após a vitória diante do Botafogo por 1 a 0, no 2º turno. Na última rodada, carregado pela torcida, depois do triunfo sobre o Olaria por 1 a 0, Gentil declarou: “Estou com as massas e quem está com as massas não cai.” Na semana seguinte era dispensado e seu lugar era ocupado por Flávio Costa, que deixou o Flamengo para retornar a São Januário.

A trajetória do “Expresso da Vitória” terminou em 1953. Chegaram ao clube Pinga e Simão, dois importantes reforços, que formavam a ala esquerda da Portuguesa de Desportos. Para substituir Barbosa, que fraturara a perna, foi contratado o ex-botafoguense Osvaldo “Baliza”, que, na estréia contra o Corinthians, no Rio-São Paulo, formou o trio final com Augusto e Belini.

A última conquista do “Expresso da Vitória” foi o título da Taça Rivadávia Corrêa Meier. Torneio Octogonal , dividido em dois grupos, cujos participantes foram os seguintes: Botafogo, Fluminense, Hibernian — da Escócia — e Vasco (RJ); Corinthians, São Paulo, Olimpia — do Paraguai — e Sporting (SP). A série final foi disputada pelos vencedores das chaves do Rio e de São Paulo. O Vasco venceu a primeira partida contra o São Paulo, no Pacaembu, por 1 a 0, gol de Djair, e a segunda por 2 a 1, no Maracanã, gols de Pinga (2) e Pé-de-Valsa (para o tricolor paulista).

Volta

O Vasco voltou a ser campeão carioca em 1956, interrompendo a série de títulos do Flamengo, que lutava pelo tetracampeonato. O técnico era o competente Martim Francisco, que dirigiu o América, levando-o a decidir o campeonato com o Flamengo no ano anterior. No gol, estavam os eficientes Carlos Alberto, cria da casa, e o paraguaio Vitor Gonzales, campeão sul-americano de 1953, em Lima. A grande defesa vascaína formava com o gaúcho Paulinho de Almeida, ex-Internacional, Belini, Orlando e Coronel; o meio-campo apresentava a agilidade de Laerte e a categoria e Walter Marciano, ex-santista; o ataque era formado por Sabará, Livinho, Vavá e Pinga. O artilheiro Ademir Menezes integrou a equipe no primeiro semestre. Ao retornar da Europa, após vitoriosa excursão do Vasco, o notável “Queixada” se despediu do futebol, declarando: “Deixo o futebol antes que ele me deixe.”

A campanha vascaína apresentou 16 vitórias, quatro empates e duas derrotas (Bangu 2 x 3 e Flamengo 0 x 1). O Fluminense foi vice-campeão a três pontos do Vasco (na foto, com a faixa de campeão carioca de 1956, estão Carlos Alberto, Paulinho, o técnico Martim Francisco, Belini, Laerte, Orlando e Coronel; Sabará, Livinho, Vavá, Walter e Pinga).

Com a base de 56 e sob a direção técnica de Gradim, o Vasco conquistou dois importantes títulos em 58. O primeiro foi o Torneio Rio-São Paulo e o segundo, o supersupercampeonato carioca.

Gradim convidou o veterano Barbosa para retornar a São Januário, revezando com Miguel e Hélio; manteve a defesa com Paulinho, Belini, Orlando e Coronel, tendo na reserva Dario e Ortunho; no meio-campo contou com o ex-tricolor Écio ao lado de Roberto Pinto, prata da casa e grande revelação, e Rubens, o Dr. Rubis, ex-rubro-negro; e formou o ataque com Sabará, Almir, o “pernambuquinho”, e o veterano Pinga, além de escalar Vavá, Delém, Wilson Moreira e outros.

No primeiro semestre, o Vasco se sagrou campeão do Torneio Rio-São Paulo. Gradim conseguiu aliar a experiência e a juventude do elenco. Os exemplos foram Barbosa e Almir. (Foto 07) Após a derrota por 4 a 2, na estréia, diante do Palmeiras, o time engrenou e só perdeu ponto no empate de 1 a 1 contra o Flamengo. A goleada de 5 a 1 sobre a Portuguesa de Desportos, dirigida por Flávio Costa, encerrou a bela campanha vascaína. Marcaram os gols Vavá, Almir e Ocimar (1 a 4). Na segunda colocação ficou o Flamengo, com cinco pontos perdidos, dois atrás do campeão.

O campeonato carioca de 1958 terminou com três times em 1º lugar: Botafogo, Flamengo e Vasco. No primeiro triangular, o Vasco venceu o Flamengo por 2 a 0 e perdeu para o Botafogo por 1 a 0. Com a vitória do Flamengo sobre o Botafogo por 3 a 1, tornou-se necessário um novo desempate. O Vasco derrotou o Botafogo por 2 a 1 e rubro-negros e alvinegros empataram de 2 a 2. Com o empate de 1 a 1 contra o Flamengo, no dia 17 de janeiro de 1959, o Vasco se sagrou supersupercampeão carioca. Os gols foram marcados por Roberto Pinto e Babá. A liderança do capitão Hideraldo Luís Belini teve papel decisivo na grande conquista (na foto, Belini evita o chute de Quarentinha contra o Botafogo).