Unesco lança manual
“Terrorismo e Mídia”


11/09/2018


O grande objetivo do terrorista é espalhar o terror por uma causa. É fazer com que as pessoas se sintam ameaçadas e que o clima de tensão seja permanente. Nem todos percebem, mas a imprensa pode contribuir com o medo generalizado, dependendo da maneira como cobre o assunto. Pensando nisso, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou o livro Terrorismo e a mídia – um manual para jornalistas.

Escrito pelo jornalista e ensaísta belga Jean-Paul Marthoz, o livro traz algumas recomendações e regras básicas para se fazer a cobertura de um evento terrorista com base no debate e envolvimento de profissionais de várias partes do mundo. O livro, traduzido para o português, já está disponível em PDF para download gratuito no site da Unesco.

À primeira vista, o jornalista pode se perguntar se é necessário ter um manual para este assunto. De acordo com a chefe da Seção de Desenvolvimento de Mídia e Sociedade da Unesco, Mirta Lourenço, sim.

“Não é que tenha havido falhas generalizadas da mídia – a maioria está simplesmente tentando fazer o melhor que pode. Mas todos temos visto muitos casos específicos em que a devida apuração não foi aplicada”, disse Mirta, em entrevista ao Portal IMPRENSA.

Segundo a representante da Unesco, jornalistas estão “correndo para publicar informações não confirmadas que se revelaram falsas, comprometendo investigações policiais, abordando vítimas em estado de choque para obter as primeiras entrevistas, comprometendo a segurança dos reféns e colocando-se no caminho do perigo”.

Em tempos de fake news, a tendência é aumentar ainda mais a sensação de medo das pessoas em países onde o terrorismo já se tornou uma rotina e outros que vivem sob constante vigilância das autoridades. O manual também aborda esse tipo de questão na tentativa de minimizar o problema.

“Terrorismo refere-se a agir nas sombras para fazer reinar o terror. Isso pode até mesmo incluir redes de grupos criminosos, interesses econômicos e/ou políticos. Estas redes sempre usaram propaganda como táticas para promover sua causa”, explica Mirta.

O mais importante, neste caso, é tomar os devidos cuidados para não acabar sendo manipulado sem perceber por grupos terroristas que espalham informações para gerar tensão.

“O manual explora algumas destas questões, o que justifica a mídia incluir este material em suas reportagens. Como ele deve ser enquadrado? Como os jornalistas podem relatar objetivamente, sem serem usados por grupos terroristas para atingir seus próprios fins?”, ressalta Mirta.

Apesar de o livro ‘ensinar’ parte do ‘bê-a-bá’ do jornalismo, a Unesco não enfrentou resistência dos jornalistas internacionais que fazem esse tipo de cobertura. “O objetivo da publicação era acompanhar os jornalistas em sua reflexão sobre os desafios inerentes à cobertura do terrorismo, como transmitir os fatos sem elevar o nível de medo e evitar o sensacionalismo. Então, não houve resistência, mas muita discussão produtiva sobre o assunto. O manual compartilha a rica experiência de jornalistas e meios de comunicação de todo o mundo”, conclui Mirta.

Fonte: Portal Imprensa