Uma carreira em permanente atualização


24/09/2008


Aline Sá
03/10/2008

Fluminense de Petrópolis e tricolor de coração, Ronaldo Theobald começou a se interessar por fotografia quando cursava o Científico — atual ensino médio —, época em que começou a participar de um programa juvenil dos Diários Associados, no suplemento semanal Diário da Noite dos Curumins que saía encartado no Diário da Noite. Ali publicou sua primeira foto, clicada com uma Flexaret 6×6 com flash/EM>. E, já nesse início, passou a colecionar momentos de valor histórico e sentimental em sua vida:
— Aos 16 anos, fiz minha primeira matéria, com Edino Krieger, sobre o programa de rádio “Música para a juventude”. Já a primeira imagem publicada foi a de Dona Darcy Vargas na Casa do Pequeno Jornaleiro, foto que guardo até hoje, mesmo estando um pouco amarelada.

Após este primeiro passo na carreira, as portas foram se abrindo sucessivamente para Ronaldo, que ingressou na Tribuna da Imprensa, onde se profissionalizou e ganhou experiência:
— Foi realmente um período edificante e inestimável, pois o jornal, então pertencente a Carlos Lacerda, era considerado uma verdadeira escola formadora de bons jornalistas, numa época em que ainda não existiam faculdades de Comunicação Social.

Sempre acompanhando as mudanças ocorridas na imprensa, aos 24 anos Ronaldo foi chamado a trocar de redação:
— Recebi de Hélio Pontes, editor de Fotografia do Jornal do Brasil, o convite para integrar aquela espetacular equipe de repórteres fotográficos, justamente na gestão de Odylo Costa, filho, que promoveu uma valorização do fotojornalismo e uma revisão dos antigos conceitos que cercavam a profissão. Aceitei com muito prazer e orgulho.

Orgulho ainda maior foi ter sido Diretor do Sindicato dos Jornalistas, responsável pela parte fiscal, quando o Presidente era José Machado:
— Tocávamos a instituição atrás das estantes da Biblioteca da ABI, que na época funcionava ainda no 9º andar do Edifício Herbert Moses. E finalmente, em 67, conseguimos comprar nossa sede na Evaristo da Veiga, por um preço bem baixo e pago em dois anos com a ajuda dos afiliados. Acho que o foi o ponto alto da minha carreira.

Futebol

A especialização na editoria de Esportes não se deu por acaso. Se ainda houvesse alguma dúvida sobre a área, as várias premiações recebidas deram a certeza da melhor escolha. Especialmente o Prêmio Esso de Jornalismo de 77, pela foto do jogador do Vasco Roberto Dinamite, intitulada “Deus do calção e das chuteiras”:
— Era um domingo lindo de maio e eu fui escalado pelo editor de Fotografia do JB para cobrir a partida que seria realizada no estádio da Portuguesa, na Ilha do Governador, entre a equipe da casa e o Vasco da Gama. Antes do jogo, notei que, ao sair do vestiário em direção ao campo, a equipe do Vasco passava por um túnel feito de telas e os torcedores se comprimiam junto ao gradil estendendo as mãos, para tocar seus ídolos. Parecia uma cena bíblica, algo mágico. Fiquei observando e imaginando como ia registrar aquele momento. No intervalo da partida, discretamente, deitei no chão do túnel e aguardei a entrada dos jogadores um a um. À medida que eles retornavam para o segundo tempo, eu ia dando meus cliques. Meu alvo era o Roberto Dinamite, maior ídolo da torcida. Quando ele surgiu, disparei minha câmera, sabendo que ali estava a mais bela foto da minha vida. Com ela ganhei o Esso e vários outros prêmios nacionais e internacionais de fotografia.

Em 83, Ronaldo foi promovido — pelo editor Alberto Ferreira — a subeditor de Fotografia do Jornal do Brasil, onde ficou até 1989. Tornou-se então freelancer, trabalhando para O Estado de S.Paulo e as revistas do Jockey Club e do Rotary, entre outras publicações. Nessas quase seis décadas de profissão, adquiriu uma certeza:
— Os eventos esportivos favorecem o exercício do fotojornalismo, pois cada momento é crucial. Além disso, muitas vezes flagramos fatos que ficam para sempre na memória coletiva.

Inseparável

Entre os diversos equipamentos que já usou profissionalmente, Ronaldo considera que o mais difícil de manusear foi uma Speed Graphic 5×7 com filme plano (ou em chapa), devido aos recursos que ela oferecia:
— Para os que não conhecem essa câmera, digo apenas que, justamente por ser muito boa, exigia do repórter atenção redobrada na hora de usar, para não perder o flagrante. Com esta máquina, tínhamos de ter muita cautela na execução das fotos. As minúcias do equipamento, uma vez negligenciadas ou manuseadas incorretamente, poderiam resultar na não existência de uma imagem crucial. Simples, não?

A arte de fotografar, diz ele, demanda um equilíbrio entre a câmera e o fotógrafo, seja ele profissional ou amador:
— Nenhum dos dois deve ficar “sobrecarregado”, embora o papel do responsável pelo registro sempre tenha mais a ver com o bom ou mau resultado, quase que independentemente do instrumento usado.

Vocação, prazer, prática e capricho também influenciam o trabalho mais que qualquer máquina:
— Usei a Rolleyflex, a Leica e várias Nikon — conta Ronaldo. —. Atualmente, a digital facilitou a vida do repórter-fotográfico. No instante em que é feita a foto, pode-se ver sua qualidade. O equipamento só falta apitar ou falar: “Puxa, meu chapa, dá o clique!” Transmitir as imagens era outro problema, pois requeria um enorme equipamento — tão pesado que tínhamos de pagar excesso de bagagem nas empresas aéreas sempre que viajávamos a trabalho. Meu filho, Marcelo Theobald, que está no Extra, fez uma demonstração para mim do equipamento que usa para transmissão. Fiquei impressionado, pois se resumia a um laptop. O avanço da tecnologia tem belas e significativas vantagens. É um prazer poder presenciar este desenvolvimento.

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