Um homem brilhante e de raiz nobre


26/11/2010


Moacir Werneck de Castro, que morreu na manhã de quinta-feira, dia 25 de novembro, na Clínica São Vicente, na Gávea, parece ter feito tudo, na vida, exatamente ao contrário do que se poderia esperar de alguém de ascendência tão marcadamente nobre, pois tinha raízes fincadas na nobreza do Império (neto do Visconde de Arcozelo e bisneto do Barão de Pati do Alferes). Nascido em 1915, em Barra Mansa, já na mocidade entrou para o Partido Comunista, no qual passou boa parte da vida, só saindo a partir do advento do stalinismo: costumava dizer que comunismo não é xingamento (como parecia ser em alguns setores da política brasileira), “mas já stalinismo é fogo!”
 
 
Homem de cultura, já na mocidade traduziu Dostoiévski (“O eterno marido”) — e o fez diretamente do russo (no início dos anos 1950, momento em que a José Olímpio lançava uma grande coleção do autor russo, com quase todas as obras em traduções de segunda mão, quer dizer, feitas do francês ou do inglês). Tinha imensa facilidade para idiomas. O pai mudou-se do Rio para Blumenau, quando ele ainda era menino, mas com amigos entre a criançada da colônia alemã aprendeu esse idioma, o que lhe valeu muito em viagem mais ou menos aventurosa que fez à Alemanha aos 20 anos, em 1935, no início da era hitleriana (confundido com judeu, se não falasse a língua da terra teria se dado mal).
 
Casado com uma uruguaia (Glória, mais conhecida entre todos os amigos como Neném), nunca teve filhos. A partir dos anos 1950 aperfeiçoou seu espanhol e acabou tradutor — excelente — de García Márquez (“O general em seu labirinto”, entre outros). 
 
Como profissional, foi fundador em 1955 do jornal Paratodos (um quinzenário de cultura) com Oscar Niemeyer e Jorge Amado. Essa talvez tenha sido sua época profissional mais brilhante. Depois seria redator-chefe do jornal Última Hora durante longo período (pelo menos uma boa dúzia de anos), levado por seu amigo Samuel Waine
E o curioso por essa época é que Última Hora era politicamente a grande adversária da Tribuna da Imprensa, jornal de seu primo e adversário político Carlos Lacerda. Quando deixou o jornal de Wainer, passou essencialmente a articulista — e seu artigo passou a ser uma das coisas mais esperadas, uma vez por semana, no Jornal do Brasil. Ao contrário de seu primo Lacerda, não era um panfletário. Escrevia sobre todos os assuntos — e como escrevia bem! Apesar de seus 95 anos, deixa uma grande saudade.