08/02/2025
Por Eugênio Bortolon, no Brasil de Fato
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) instituiu 2025 o Ano Vladimir Herzog para relembrar os 50 anos do assassinato sob tortura do jornalista pela ditadura militar. Herzog morreu cedo (1937-1975), com 38 anos, e virou símbolo da implacável perseguição dos militares aos jornalistas e a grupos de esquerda. Vivíamos em época de “cordeiros”, de pensamento único. Ninguém podia andar fora da linha.
Em Porto Alegre, uma intensa mobilização de alunos, ex-alunos, professores e ex-professores da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e apoiadores de outras universidades vão prestar a homenagem Vladimir Herzog 50 anos – Fabico Presente!
A proposta corre de boca em boca, com centenas de participantes, para lembrar o jornalista e o seu histórico de lutas em favor da democracia e da justiça. Em 1975, dias depois da morte nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo, uma assembleia de estudantes do curso de Comunicação Social da UFRGS decidiu dar o nome de Herzog a uma sala do então Diretório Acadêmico de Biblioteconomia e Comunicação (Dabico). Uma placa foi confeccionada e colocada no local representativo dos estudantes dos cursos da faculdade. Durou pouco. No dia seguinte, já havia sido retirada por quem apoiava a ditadura cívico-militar (1964-1985). Todo mundo que passou pela Fabico sabe quem foi, mas preferem ignorá-lo e deixá-lo morto para a história.
Agora, passados quase 50 anos da morte de Herzog, o assassinato foi em 25 de outubro de 1975, estudantes daquela época e dos dias de hoje vão colocar uma nova placa registrando o ocorrido e preservando a memória dos que defenderam a democracia e os direitos humanos.
Com arte do cartunista Neltair Rebés Abreu, o Santiago, a placa traz o texto: “Em 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado sob tortura nas dependências do Exército. Vlado defendia a democracia e combatia a ditadura. Em sua honra, as e os estudantes da Fabico deram seu nome à sala do diretório acadêmico. Na manhã seguinte, a placa foi arrancada pela direção da Faculdade, a mando da ditadura. 50 anos depois estamos aqui novamente. Para que não se esqueça, para que nunca mais se repita. Ditadura nunca mais!”.
O evento Vladimir Herzog 50 anos – Fabico Presente! vai marcar a passagem do Dia do Jornalista, comemorado em 7 de abril, prestando um tributo ao jornalista, morto no órgão de repressão subordinado ao Exército. No programa, além do descerramento da placa alusiva, haverá um debate sobre o papel de Vladimir Herzog na construção de um jornalismo ético, profissional e comprometido com a defesa da democracia e dos direitos humanos. Vai ser no Auditório 1, um dia depois do Dia do Jornalista – 8 de abril de 2025, das 9h às 11h30, na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS, na Rua Ramiro Barcelos, 2.705, Bairro Santana, Porto Alegre.
Filho de Herzog participa do evento na Fabico
Uma das presenças importantes do evento será Ivo Herzog, filho de Vladimir e Clarice Herzog, presidente do Conselho Deliberativo e um dos fundadores do Instituto Vladimir Herzog. Também estarão no ato Eduardo Meditsch, professor universitário e pesquisador, uma das principais referências em estudos de rádio e em teorias do jornalismo, integrante do grupo de estudantes que, em 1975, participaram daquele protesto contra a ditadura; Jenifer Procópio, representante do Diretório Acadêmico de Comunicação; Marcia Turcato, jornalista, autora do livro Reportagem: da Ditadura à Pandemia, integrante do grupo de estudantes que estava na Fabico em 1975 e uma das articuladoras do evento; Ana Taís Martins, diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação; Roberta Baggio, presidenta da Comissão da Memória e da Verdade Enrique Serra Padrós, criada para analisar as arbitrariedades cometidas durante a ditadura na UFRGS. A mediação será do professor do curso de Jornalismo Luiz Artur Ferraretto.
O formato do evento será o de mesa-redonda. Ana Taís Martins fará uma saudação institucional como diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Marcia Turcato contará sobre a articulação dos estudantes da década de 1970 para a realização do evento, Eduardo Meditsch resgatará a memória sobre o ocorrido em 1975 e a importância do jornalismo para a preservação do Estado democrático de direito. A estudante Jenifer Procópio tratará sobre diversidade no contexto dos direitos humanos. Roberta Baggio vai tratar sobre o novo momento da universidade representado pela constituição da Comissão da Memória e da Verdade Enrique Serra Padrós. Ivo Herzog, fará sua intervenção, via internet, a respeito da importância de Vladimir Herzog e de valorizar a sua memória. Após as falas, haverá uma roda de conversa com a plateia. Depois de encerrada a mesa-redonda, o público será convidado a se deslocar até o Diretório Acadêmico da Comunicação para o descerramento da placa.
Conforme o jornalista e escritor Paulo de Tarso Riccordi, um dos organizadores da iniciativa, 288 pessoas assinaram o manifesto de homenagem a Vladimir, dos quais 155 são egressos da UFRGS. Os demais são apoiadores de outras faculdades e universidades, professores e diretores da Fabico – atuais e aposentados foram incluídos com as demais pessoas, separados apenas por sua origem acadêmica.