A ABI vai apresentar na quarta-feira, 25 de agosto, às 18h30min, o filme “Os filhos de Hiroshima” (1952, Japão) do cineasta japonês Kaneto Shindo. A entrada é franca.
Se não há guerra sem vítimas, Hiroshima é um caso à parte, seja pelo pioneirismo, seja pela amplitude da devastação. Sua transição da normalidade para o holocausto foi instantânea – afinal, a detonação de uma bomba é arbitrária e sem meios termos, é um sim ou um não. Talvez nenhuma outra fração de tempo tenha afetado tão brutalmente, simultaneamente e eternamente o destino e a memória de uma cidade quanto a bomba atômica lançada no dia 6 de agosto de 1945.
E é assim que se apresenta a explosão na cena-chave de Filhos de Hiroshima: a montagem paralela que alterna planos de um relógio com as imagens da cidade e seus habitantes não funciona apenas como mera antecipação ansiosa de um momento conclusivo (como seria típico de uma cena de ação), mas também como oposição de um mundo indefeso diante de um instante arbitrário munido de um poder quase sobrenatural.
Se o estilo compassivo de Kaneto Shindô (diretor nascido em Hiroshima cuja carreira de 145 filmes escritos e 43 dirigidos é predominantemente de difícil acesso para nós) às vezes parece demasiado convencional ou previsível, é porque em várias cenas não há qualquer dúvida ou conflito ao lado da vontade escancarada do filme de nos sensibilizar com os horrores. Mas há também momentos de tristeza delicada: a separação demorada de dois personagens em uma ponte, um jantar que despede um avô de seu neto, e a solidão de uma mulher e seu afeto nunca declarado por um homem falecido.
(Gabriel Fontes, estagiário da Diretoria de Jornalismo da ABI)