Torneio Rio-São Paulo, 75 anos (I)


13/11/2008


Rio e São Paulo tiveram a primazia do futebol brasileiro até a década de 60. A rivalidade entre os dois grandes centros futebolísticos era acentuada pela alternância de ambos na conquista do Campeonato Brasileiro de Seleções. No ar, ficava a pergunta: qual o melhor futebol, o carioca ou o paulista?

Em 1933, ano da implantação do profissionalismo no futebol brasileiro, surgiu à idéia de se organizar um torneio que pusesse em confronto direto os clubes cariocas e paulistas. A primeira fórmula estabelecia que os jogos entre os times do mesmo estado valeriam também para os campeonatos locais, cujos pontos seriam somados com os das partidas interestaduais. 

Capitão José Junqueira

Palestra Itália, o primeiro

Com a participação de 12 clubes, o torneio se estendeu de junho a dezembro de 1993, tendo como participantes América, Bangu, Bonsucesso, Corinthians, Fluminense, Palestra Itália, Portuguesa de Desportos, Santos, São Bento, São Paulo, Vasco da Gama e Ypiranga.

Cada clube jogou 22 partidas em turno e returno. Ao fim da competição, o Palestra Itália, com 17 vitórias, dois empates e três derrotas, conquistou o título do I Torneio Rio-São Paulo, com a seguinte equipe base: Nascimento, Carnera e Junqueira, Tunga, Dula e Tuffy; Avelino, Gabardo, Romeu, Lara e Imparato. O artilheiro do torneio foi Waldemar de Brito, futuro descobridor de Pelé, com 33 gols.

Um dos destaques do time campeão era o capitão José Junqueira de Oliveira, zagueiro que defendeu a camisa do clube durante 18 anos. O Palestra Itália também se sagrou, em 1933, bicampeão paulista. O título das duas competições foi conquistado ao vencer o São Paulo por 1 a 0, gol de Avelino.

Bangu, o melhor carioca

Entre os clubes do Rio, o Bangu, campeão carioca de 33, obteve a melhor colocação. Ficou em 4º lugar e venceu o Palestra Itália em São Januário, no returno, por 4 a 3. Outros dois bons resultados do time alvi-rubro foram os triunfos sobre o Santos, por 2 a 0, no campo do Fluminense, e de 3 a 2, em Santos, destacando-se nessa partida o ataque bangüense. Ladislau e Plácido levam perigo para o goleiro Athiê, no dia 2 de julho, em Álvaro Chaves.

Fla e Flu, dupla campeã 

II Torneio Rio-São Paulo, organizado em 1940, teve a participação do América, Botafogo, Corinthians, Flamengo, Fluminense, Palestra Itália, Portuguesa de Desportos, São Paulo e Vasco. O sistema era o mesmo do anterior, com os jogos entre os clubes do mesmo estado valendo para os campeonatos locais. Antes do Fla x Flu, válido para duas competições, Romeu e Leônidas se cumprimentaram.

Prevista para ser disputada em dois turnos, a competição foi interrompida no final do primeiro turno, em razão de divergências entre cariocas e paulistas. Flamengo e Fluminense terminaram empatados em 1º lugar, com 13 pontos ganhos.

“Cabecinha de Ouro”

Após dez anos, o Torneio Rio-São Paulo voltou a ser disputado, desta vez em turno único no sistema de pontos corridos. Os oito participantes foram quatro cariocas e quatro paulistas: Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama, Corinthians, Palmeiras, Portuguesa de Desportos e São Paulo.

O Corinthians se sagrou campeão, com três pontos perdidos, seguido pelo Vasco da Gama, com quatro. Foram sete vitórias, um empate e uma derrota. O alvinegro paulista garantiu o titulo ao empatar com o Botafogo por 1 a 1. O time era composto por Idário, Touguinha, Hélio, Nilton, Bino e Belfare; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Nelsinho e Noronha.

Baltazar e Ademir

No time corintiano, o destaque era o centro-avante Baltazar, que vinha do Jabaquara e liderou a artilharia do torneio com nove gols. Seu forte eram as mortíferas cabeçadas, que inspiraram a crônica esportiva a chamá-lo de “Cabecinha de Ouro”. As boas atuações do atacante chamaram a atenção do técnico Flávio Costa, que o convocou para os treinos da seleção brasileiram visando a Copa do Mundo. Baltazar ficou na reserva de Ademir. 

Em 51, Torneio Início

Antes do Rio-São de Paulo de 51, América, Bangu, Flamengo, Vasco da Gama, Corinthians, Palmeiras, Portuguesa de Desportos e São Paulo disputaram o único Torneio Início da competição.

O Bangu, após eliminar o Palmeiras (3 a 0) e o Corinthians (2 a 0) e de empatar com o América na final (1 a 1), ganhou por dois escanteios a zero e foi o vencedor do torneio, realizado no Maracanã.

Os maiores rivais paulistas

Empatados com quatro pontos perdidos ao fim do torneio, Corinthians e Palmeiras decidiram o título numa série melhor de três. No dia 8 de abril de 1951, os palmeirenses venceram o primeiro jogo por 3 a 2. Três dias depois, no Pacaembu, conquistaram o título ao vencer por 3 a 1, gols de Jair (2) e Aquiles, enquanto Luizinho marcou para o time alvinegro.

As duas partidas apresentaram lances disputadíssimos, como aconteceu no primeiro jogo entre os palmeirenses Liminha (camisa 9) e Jair contra os corintianos Julião, Rosalém e Homero (deitado). 

O Palmeiras, liderado pelo grande Jair Rosa Pinto, ganhou sete jogos e perdeu dois. Liminha e Achiles foram os artilheiros com nove gols.

A grande Portuguesa

Em 1952, o Torneio Rio-São Paulo teve dez participantes: Bangu, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama, Corinthians, Palmeiras, Portuguesa de Desportos, Santos e São Paulo.

O bom time da Portuguesa decidiu o título com a forte equipe do Vasco da Gama, já na fase final do famoso “Expresso da Vitória”. Na última rodada, no dia 30 de março, os dois times empataram de 1 a 1 e terminaram o torneio em igualdade de pontos perdidos. A decisão do título, em uma série melhor de três, ficou para depois da realização do Campeonato Pan-Americano, no Chile, e do Campeonato Brasileiro de Seleções. 

No primeiro jogo, realizado no Pacaembu, a Portuguesa ganhou por 4 a 2, exibindo excelente futebol. O ataque luso esteve sempre presente na área adversária (na foto ao lado, Pinga quase marca mais um gol contra o goleiro Ernani). (Foto 07)

Com o empate de 2 a 2 na segunda partida, no Maracanã, o time da Portuguesa de Desportos se sagrou campeão, com dois gols de Pinga. Para o Vasco marcaram Ademir e Maneca.

Djalma Santos, Nena, Brandãozinho, Noronha, Julinho, Pinga e Simão eram os destaques da equipe que disputou o Rio-São Paulo. Em 11 partidas disputadas, a Portuguesa venceu seis, empatou duas e perdeu três. Com 11 gols, Ademir (Vasco) e Pinga (Portuguesa), dois notáveis artilheiros, foram os que mais balançaram as redes adversárias no torneio.

O bi do Corinthians

A fórmula e o sistema de pontos corridos permaneceram na disputa do Torneio Rio-São Paulo de 1953 e 54. No primeiro ano, continuaram os mesmos dez participantes do ano anterior.

Na penúltima rodada, o Vasco venceu o Corinthians por 1 a 0 e assumiu a liderança com cinco pontos perdidos, deixando o Corinthians em 2º lugar, com seis pontos perdidos. A vitória da equipe carioca, no Maracanã, teve grandes lances, como a intervenção de Bellini ao salvar a meta de Osvaldo “Baliza” após o goleiro estar vencido. 

Era o último compromisso do alvinegro paulista, enquanto a equipe carioca ainda tinha pela frente o Santos. A derrota inesperada por 3 a 2 diante dos santistas deu o título ao Corinthians, que terminou com seis pontos perdidos, enquanto o Vasco ficou com sete pontos perdidos. O ataque vascaíno tentou modificar o marcador, porém esbarrou na boa atuação do goleiro Manga.

Os corintianos obtiveram cinco vitórias e dois empates e sofreram duas derrotas. Vasconcellos, do Santos, foi o artilheiro, com oito gols.

No ano seguinte, o América substituiu o Bangu e o número de participantes foi mantido. O Fluminense chegou à última rodada na liderança do torneio com três pontos perdidos. Em segundo lugar, estavam Corinthians e Palmeiras, com quatro pontos perdidos.

No dia 10 de julho, Fluminense e Vasco jogaram no Rio, enquanto Corinthians e Palmeiras se enfrentavam em São Paulo. No Maracanã, Vavá decretou a vitória vascaína aos 40 minutos e deu muito trabalho a Adalberto, como no lance em que o goleiro tricolor defendeu para escanteio sob as vistas dos zagueiros Duque e Píndaro. 

No Pacaembu, ao vencer o Palmeiras por 1 a 0, gol de Cláudio — e com a derrota do Fluminense —, o Corinthians se sagrou bicampeão do Torneio Rio-São Paulo. O time sofreu duas derrotas e ganhou sete partidas. Dino da Costa, do Botafogo, e Simões, do América, foram os artilheiros, com sete gols.

Mais um para Djalma e Julinho

Os participantes do Torneio de 55 foram os mesmos do Rio-São Paulo de 54. A Portuguesa de Desportos, com a metade do time campeão de 1952, chegou mais uma vez ao título. A Djalma Santos, Nena, Brandãozinho, Ceci, Julinho, juntaram-se Cabeção — que no ano anterior fora campeão pelo Corinthians —, Floriano, Airton, Ipojucan, Edmur e Ortega.

Portuguesa e Palmeiras chegaram juntos ao fim do torneio, ambos com cinco pontos perdidos. Em 29 de maio, houve o empate de 2 a 2 no primeiro jogo da série melhor de três, gols de Renatinho e Edmur para a lusa e Ivan e Airton para o esmeraldino.

Em 6 de junho, a Portuguesa derrotou o Palmeiras por 2 a 0, gols de Ipojucan e Julinho, e levou o título de campeão do Rio-São Paulo de 55. A lusa do Canindé obteve excelentes resultados, como o triunfo diante do Fluminense, no Pacaembu, por 3 a 1. Ortega marcou o segundo gol, batendo falta no canto esquerdo de Veludo. A formação base vencedora era Djalma Santos, Cabeção, Floriano, Brandãozinho, Nena e Zinho; Julinho, Zé Amaro, Airton, Edmur e Ortega. A Portuguesa de Desportos sofreu apenas uma derrota, empatou três vezes e ganhou seis partidas. O centro-avante Edmur liderou a artilharia, com 11 gols.

Flamengo abre a série Grandes Ídolos

Dia 17, segunda-feira, às 19h, na sede do Clube de Regatas do Flamengo, no Salão de Troféus, dar-se-á o lançamento do primeiro livro da série Grandes Ídolos, de autoria do jornalista Roberto Sander.

A série criada pelo bom companheiro Sander será editada pela Maquinária e escrita por vários craques do jornalismo esportivo. A obra tem valor histórico inestimável. Com certeza despertará o interesse dos amantes do futebol e muito contribuirá para a preservação dos fatos e dos personagens que construíram a fascinante história do futebol brasileiro.

Fiquem atentos aos próximos lançamentos sobre os grandes ídolos do Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Botafogo, Fluminense, Vasco da Gama, Internacional, Grêmio, Atlético Mineiro, Cruzeiro e outros clubes. (clique aqui para saber mais sobre a coleção)