Terror de Mubarak contra jornalistas


03/02/2011


Jornalistas estrangeiros estão sendo sistematicamente atacados durante a cobertura das manifestações na capital Cairo. A violência estaria sendo imposta por partidários do Presidente Hosni Mubarak. O Comitê para Proteger Jornalistas, com sede em Nova York, denunciou que repórteres egípcios também foram atacados durante os confrontos.

Nesta quinta-feira, 3, fotógrafos de diversas agências internacionais foram agredidos. Um deles teria sido esfaqueado na perna. Um grupo de profissionais de imprensa foi cercado por militares do Exército egípcio — possivelmente para serem protegidos — na Praça Tahir, onde há 10 dias se concentram as manifestações.
 
Um fotógrafo do Wall Street Journal foi espancado; outro teve as roupas rasgadas. Um repórter da rádio France Inter foi internado após ser linchado; um jornalista belga ficou detido acusado de ser espião; o âncora da rede CNN, Anderson Cooper, e sua equipe foram golpeados com socos e chutes por um grupo de militantes pró-regime.
 
O repórter da BBC Rupert Wingfield-Hayes disse ter sido preso pela polícia secreta egípcia, algemado e vendado. Segundo ele, os policiais prenderam-no por três horas, interrogaram-no e depois o soltaram.
 
A emissora Reuters Television relatou que integrantes de sua equipe foram agredidos perto da Praça Tahrir, enquanto registravam imagens para uma reportagem sobre bancos e lojas que foram obrigadas a fechar durante os confrontos entre as duas facções.
 
A jornalista Christiane Amanpour, da rede ABC News, contou ter sido cercada por militantes quando tentava entrevistar um ativista pró-Mubarak.
 
O jornalista e editor do jornal Zero Hora e da rede RBS, Luiz Antônio Araújo foi cercado por militantes pró-Mubarak, que estavam portando facas, pedras e pedaços de pau. “Fui empurrado, levei soco, levei pontapé nas canelas e só consegui manter a integridade física tirando o passaporte e dizendo ‘eu sou brasileiro’”, disse Araújo, em entrevista à Rádio Gaúcha.

Araújo, que teve o equipamento fotográfico apreendido e a carteira roubada, relatou ainda que durante o tempo em que foi agredido, os soldados do Exército egípcio apenas observavam a situação, até que um deles se aproximou e pediu para que o grupo dispersasse. O jornalista está abrigado na Embaixada do Brasil na cidade.

 
Nesta quarta-feira, 2, os brasileiros Corban Costa, repórter da Rádio Nacional, e Gilvan Rocha, cinegrafista da TV Brasil, foram presos, vendados e tiveram os passaportes e equipamentos apreendidos.  Conduzidos à delegacia, passaram a noite em uma sala sem janelas e sem acesso à água.
 
“É uma sensação horrível. Não se sabe o que vai acontecer. Em um primeiro momento, achei que seríamos fuzilados porque nos colocaram de frente para um paredão, mas, graças a Deus, isso não aconteceu”, afirmou Corban, que volta nesta sexta-feira, 4, com Gilvan para o Brasil.
 
Na manhã seguinte, foram obrigados a assinar um depoimento em árabe, sem tradução, confirmando a disposição de retornar imediatamente ao Brasil. “Tivemos que confiar no que ele [o policial] dizia e assinar o documento”, contou Corban.
 
Também na quarta-feira, 2, jornalistas da Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo, tiveram seus quartos de hotel invadidos pela polícia. Outros repórteres estrangeiros que cobrem os protestos também tiveram seus quartos de hotel vasculhados. Segundo os profissionais, o objetivo dos invasores era confiscar câmeras fotográficas.
 
Epidêmica

Em carta conjunta, endereçada ao Governo do Egito, os dirigentes do Reino Unido, França, Itália, Espanha e Alemanha afirmaram que “as agressões contra os jornalistas são inaceitáveis”.
 
A Casa Branca também emitiu comunicado manifestando preocupação em relação ao ataques contra jornalistas. O porta-voz do Departamento de Estado, P.J. Crowley, afirmou que “há uma campanha orquestrada para intimidar jornalistas internacionais no Cairo”, e que “a sociedade civil que o Egito deseja construir inclui uma imprensa livre”.
 
O Ministro de Relações Exteriores da Bélgica, Steven Vanackere, exigiu, em comunicado, que as autoridades egípcias libertem o jornalista Serge Dumont, correspondente do jornal Le Soir, atacado e preso durante os protestos.
 
O jornal sueco Aftonbladet noticiou que dois de seus repórteres foram atacados por uma multidão em uma área pobre do Cairo, e que, em seguida, os jornalistas foram detidos por soldados.
 
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a violência dos manifestantes pró-Hosny Mubarak contra a imprensa, tornou-se quase epidêmica, e que jornalistas internacionais são os principais alvos. De acordo com a entidade, somente nesta quarta-feira, 2, foram atacados jornalistas de diversos veículos, entre os quais BBC, Al Jazeera, CNN, Al-Arabiya e ABC News.
 
Os serviços de internet voltaram a funcionar parcialmente no Egito após terem sido bloqueados na sexta-feira, 28, pelo Governo do país, que vem sendo palco de violentos protestos contra o regime do Presidente Hosni Mubarak. Os manifestantes exigem a deposição de Mubarak, há 30 anos no poder.
 
De acordo com as Nações Unidas, até agora, mais de 300 pessoas morreram nos confrontos e cerca de 3 mil ficaram feridas.
 
Com informações de O Globo, Agência Brasil, Portal Imprensa, BBC e AP.

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