Teixeira Heizer lança “Maracanazo”


02/06/2010


O veterano jornalista Teixeira Heizer lançou na noite desta terça-feira, dia 1, na Livraria Argumento, o livro “Maracanazo — tragédias e epopéias de um estádio com alma”. A obra reúne prefácio de Zico, apresentação de Villas-Bôas Corrêa, e crônicas assinadas por Maurício Azêdo, Presidente da ABI, Eduardo Galeano, Ferreira Gular, Luiz Mendes, Manolo Epelbaum, Sérgio Cabral e Washington Oliveira.

Villas-Bôas Corrêa

Dezenas de amigos, parentes e jornalistas prestigiaram o lançamento, entre eles, Villas-Bôas Corrêa, Conselheiro da ABI, José Rezende, sócio da ABI, Geraldo Pedrosa, Álvaro Caldas, José Carlos Araújo.

O livro se debruça sobre a derrota do Brasil para o Uruguai na Copa de 1950, episódio que ficou conhecido como Maracanazo e, quase seis décadas depois, é lembrado pelo dramático desfecho que abalou os jogadores e todos os torcedores brasileiros.
—O Maracanazo, como os uruguaios se referem ao episódio, com um certo desdém e deboche, fica desmistificado com as informações que eu apresento neste livro. Porque, na verdade, nós temos, de 1950 até hoje, uma temporada que nos mostra que o futebol brasileiro saiu daquela tragédia com o vigor renovado e alcançou brilhantes performances e títulos extraordinários como os que têm acontecido nos últimos anos, explicou Teixeira Heizer. 

Autor da apresentação do livro, Villas-Bôas Corrêa, decano do jornalista político brasileiro, com mais de seis décadas de carreira, apontou a mudança de endereço da concentração como fator decisivo para o Maracanazo:
—Este é o segundo prefácio que eu faço para o Teixeira Heizer, um amigo de muitos anos. Trabalhamos juntos no Estado de São Paulo. Somos parceiros de papo sobre o Maracanã desde aquele tempo.
Na apresentação do livro, eu sustento que o Brasil perdeu a Copa de 50 na véspera, quando Flávio Costa tirou a seleção da Casa das Pedras, em São Conrado, local paradisíaco onde estavam concentrados, e foi para São Januário, em São Cristóvão. Os jogadores passaram duas noites sem dormir com o tumulto do bairro. Tínhamos um time fabuloso e a obrigação de vencer.

O jornalista e escritor José Rezende destacou a abordagem histórica como um dos pontos altos da obra, em sua opinião, referência para antigas e novas gerações de jogadores e de torcedores:
—Em julho, a final da Copa de 1950 completa seis décadas. Teixeira Heizer, testemunha deste episódio, foi muito feliz ao reunir a opinião de outros companheiros, alguns que na época ainda eram muito jovens, como Sérgio Cabral, que tinha 13 ou 14 anos. Contudo, todos guardam este acontecimento na memória. A obra é importante também pela abordagem do lado humano, não se limitando ao aspecto do futebol. O sofrimento da população foi muito grande. Os jogadores também ficaram traumatizados, como Barbosa e Bigode. O primeiro conseguiu superar e jogou por mais 12 anos, encerrando a carreira só em 1962, no Campo Grande. Bigode jogou apenas mais três anos e, deprimido, preferiu se recolher.

Geraldo Pedrosa

Geraldo Pedrosa, um dos grandes nomes do jornalismo esportivo, relacionou a relevância do livro ao talento e experiência do autor:
—Conheci Teixeira Heizer no Estadão, ele como editor de Esporte, e eu como repórter. Formávamos uma turma boa que incluía Paulo Stein, Raul Quadros, José Castelo, Luis Carlos Guimarães, entre outros excelentes jornalistas que passaram pelas mãos de Teixeira Heizer. Trabalhamos juntos ao longo de mais de vinte anos. Ele tinha o costume de chegar na redação às 7h para fazer a pauta e só terminávamos entre meia-noite e uma hora da manhã. Nós gostávamos do trabalho e ele procurava fazer tido muito bem. Por isto, é autor de vários livros e querido por todos. Comecei a trabalhar no jornalismo em 1953 e até hoje já cobri 12 Copas do Mundo. Em 1950, fui espectador da derrota inesperada. Recuperamos a força em 1970 e conquistaremos o hexa em 2010, apesar do Dunga.

O jornalista Álvaro Caldas também participou do lançamento. Ex-militante político, preso durante a ditadura militar, Caldas conviveu com Teixeira Heizer durante 6 anos no Estado de São Paulo.
—Foi uma época especial trabalhar em um dos jornais que mais enfrentou a censura no país. Teixeira Heizer, meu grande amigo, teve importante postura de enfrentamento diante do regime de repressão. Ele está de parabéns pela obra.

Sônia Meinberg e Luiza Mariani

Além do talento versátil de Teixeira Heizer, os colegas de redação, como Luiza Mariani, exaltaram o espírito harmonioso do jornalista.
— Ele sempre se destacou pela alegria. Como eu fazia a cobertura da cidade e ele de esporte, sentávamos em lugares diferentes. Mas, na hora do almoço tínhamos nosso momento de lazer. Teixeira, sempre extrovertido, divertia a todos. Foram momentos muito marcantes. Tive uma grata surpresa ao saber do lançamento do livro.

Sônia Meinberg, que também trabalhou na redação do Estado de São Paulo, sublinhou o profissionalismo característico do colega:
—Além de ser um ótimo jornalista, ele é um profissional com espírito de liderança, que busca a transparência no Esporte, sempre disposto a reportar falhas e acertos, principalmente no futebol. Quando ele lecionava, seu entusiasmo e competência atraíam a admiração dos jovens que o cercavam.

Experiência

Com passagem pelas redações de O Estado de S.Paulo, Veja, Placar, Mundo Ilustrado, Correio Fluminense, O Dia, Diário da Noite, Última Hora, Diário de Notícias, Rio Gráfica e Editora, Editora Abril, Empresa Brasileira de Notícias e, TV Continental, TV Excelsior, TV Tupi, TV Nacional de BSB e TV Globo, rádios Continental, Globo e Nacional,
Teixeira Heizer acompanhou diversas Copas do Mundo, além de dezenas de outras competições nacionais e internacionais. Residiu na França, na década de 1990, onde trabalhou em documentários de sucesso, participou de transmissões especiais para emissoras estrangeiras, entre as quais a BBC, de Londres; Wrul, dos Estados Unidos; e Nacional, de Lisboa. É autor do livro “O Jogo Bruto das Copas do Mundo”.

Veja alguns trechos do livro

Maurício Azêdo

“Tão doloroso quanto aquele fim de tarde de 16 de julho de 1950 foi a segunda-feira. O condutor do bonde 33 evitava tilintar as moedas. Temia que o pequeno ruído ferisse aqueles que, como ele, carregavam uma dor irreparável e mereciam a solidariedade de piedoso silêncio.”

Villas-Bôas Corrêa

“A Copa de 50 foi perdida na véspera. E o res-ponsável foi Flávio Costa, ao mudar a Seleção do paradisíaco sossego da Casa das Pedras, em São Conrado, para o inferno do estádio do Vasco, em São Januário, antes da final contra o Uruguai.”

Sérgio Cabral

“Pouca coisa se compara aos gritos das arquibancadas de ’fica! fica!’, quando Pelé dava a volta olímpica numa das suas inúmeras despedidas do futebol. Não há dúvida de que há entre nós, amantes do futebol, e o Maracanã, um maravilhoso e eterno caso de amor.”

Luiz Mendes

“Corre que a CBD pagou US$15 mil a fim de que Steban Marino não comparecesse ao julgamento para acusar Garrincha (expulso no jogo contra o Chile). O juiz voltou para Montevidéu, não houve a acusação, nosso craque jogou e vencemos a Copa de 62.”

Eduardo Galeano

“Caí al suelo.
Y de rodillas, llorando, rogué a Dios, ay Dios, ay Diosito, haceme el favor, yo te lo ruego, no me podés negar este milagro.
Y le hice mi promesa.
Y entonces el partido se dio vuelta y Uruguay ganó el partido y la copa del mundo, contra todo pronóstico, contra toda evidencia.”

Zico (Arthur Antunes Coimbra)

“Além de ter marcado 333 gols, vivi momentos de alegria praticamente impossíveis de serem descritos. Trafeguei por caminhos que fizeram sentido muitos anos depois. Derrotas que antecipam vitórias. Sofrimentos que nos ensinam a beleza de vencer.”

Ferreira Gullar

“Como a maioria dos pernas-de-pau, tornei-me torcedor. Depois que me mudei para o Rio, fui algumas vezes ao Maracanã torcer pelo Vasco. O estádio me fascinou, sobretudo porque por ali passaram os grandes heróis que situaram o Brasil no topo da hierarquia mundial.”

Manolo Epelbaum

“No futebol, bem pequeno, experimentei a dor brasileira com a derrota de 1950. Gardel e Le Pera não construiriam, “al compas”, tangaço de igual dramaticidade. Até o título, zombeteiramente criado pelos vencedores, Maracanazo, mexeu com a alma da gente do Rio de Janeiro.”

Washington Olivetto

“Nasci em setembro de 1951. Mas, não escapei incólume à tragédia. Mesmo sendo uma criança corajosa – sem medo de cuca, lobisomem ou mula-sem-cabeça –, tinha medo de uruguaios, medo que me acompanhou até quase os 19 anos de idade.” 

*Colaboração Raquel Bispo